
Após lançamentos em Brasília, Porto Alegre e São Paulo, a escritora Ana Rüsche chega a Campinas para a noite de autógrafos do seu novo romance, “Carga Viva”, publicado pela Editora Rocco. O evento será no sábado, dia 27 de setembro, às 15h30, na Livraria Candeeiro. No lançamento, haverá uma conversa com as escritoras Katia Marchese e Gabriela Gomes
O livro integra as comemorações dos 50 anos da Editora Rocco e também marca os 40 anos da eleição de Tancredo Neves, figura histórica citada na obra. Do início da redemocratização à crise climática, a obra entrelaça duas narrativas conectadas por um livro de poesias: a de um poeta com HIV à beira da morte em 1985 e a de sua leitora, uma professora grávida de um namorado violento.
A primeira, situada em 1985, conta a história de amor esperançosa entre dois homens em Ubatuba, em meio à crise da Aids e ao contexto político da eleição indireta de Tancredo Neves. A segunda se passa nos dias atuais, em São Paulo, onde duas irmãs enfrentam conflitos pessoais enquanto convivem com os efeitos da crise climática e da pandemia.
Com elementos realistas e traços insólitos — como o misterioso “prata viva”, substância que provoca alucinações e transforma a percepção da realidade —, o romance reafirma o estilo de Ana Rüsche, que em sua obra explora temas como crise climática, política, exclusão e futuro.
A obra é baseada em eventos políticos expressivos, como a morte de Tancredo Neves em 1985, as Diretas Já, manifestações ocorridas entre 1983 e 1894, e as motociatas bolsonaristas, iniciadas em 2021. Essa abordagem dialoga com a literatura contemporânea de autores que revisitam acontecimentos históricos, como Maria Valéria Rezende, Mariana Enriquez e Maryse Condé.
Na construção da narrativa homoafetiva, referências importantes foram os textos de Alberto Guzik, Caio Fernando Abreu e João Silvério Trevisan, além da pesquisa histórica de Renan Quinalha e dos ensaios de Eduardo Jardim e Susan Sontag sobre a representação literária sobre HIV/AIDS.
A autora
Escritora, poeta e pesquisadora, Ana Rüsche nasceu em São Paulo em 1979. Foi finalista do Prêmio Jabuti e vencedora do Prêmio Odisseia de Literatura Fantástica com “A Telepatia São os Outros (2019), publicado também na Itália como “Telempatia”. Tem quatro livros de poesia publicados, com obras traduzidas para o México e os Estados Unidos. Sua prosa poética “Do Amor: O Dia em que Rimbaud Decidiu Vender Armas foi finalista do Prêmio Nascente USP.
Doutoranda em ecocrítica na Universidade de rasília (UnB), é autora ainda do livro “Quimeras do Agora: Literatura, Ecologia e Imaginação Política no Antropoceno (Bandeirola, 2025), resultado de seu pós-doutorado sobre crise climática e literatura na Universidade de São Paulo (USP). (Com informações de divulgação)
Trecho da obra
Antes que os borrachudos o atacassem, no horário fatídico de fim de tarde, o barulho de digitação cessou. Cacá apareceu, sorriu sem óculos e sentou-se na pontinha:
— Queria um cigarro.
A tarde despencava nos morros e os insetos vibrantes da mata subiam com o calor do começo da noite. Os dois já tinham uma linha ensaiada sobre o assunto:
— Se quiser, te dou um trago de cachaça.
Cacá, obedecendo ao roteiro diário, acenou que sim.
O doutor Rossi pode saber de muitas coisas.
Mas da morte sabem os que morrem.
Na previsão médica, Carlos Alberto não veria o Natal ou Ano-Novo. Pois bem, na virada do ano, vestiram branco. Não pularam ondinhas, só dormiram abraçados. Cacá sobrevivia aos soquinhos, sorrindo, sorrindo. Metralhando seus poemas nos bons dias. E pedindo uma cachacinha no cair da tarde. Até a maré do tempo vir lamber a vida com força própria.E pedindo uma cachacinha no cair da tarde. Até a maré do tempo vir lamber a vida com força própria.
Serviço
Data: 27 de setembro (sábado)
Horário: a partir das 15h30
Local: Livraria Candeeiro
Endereço: R. Dr. Vieira Bueno, 170, Cambuí, Campinas-SP




