
“Morte não natural, violenta, causada pelo Estado brasileiro no contexto da perseguição sistemática à população, identificada como dissidente política por regime ditatorial instaurado em 1964”. Declarações de óbitos retificadas com esse texto foram entregues nesta quinta, 28 de agosto, a familiares de 63 pessoas assassinadas pela ditadura militar no Brasil (1964-1985), que haviam sido dadas como desaparecidas.
Entre elas, está Zuleika Angel Jones, a Zuzu Angel, estilista mineira morta pela ditadura em 1976, após uma incessante busca pelo seu filho Start Angel, militante assassinado sob tortura cinco anos antes, no Brasil e no Exterior.
Zuzu enfrentou as autoridades da época e deu visibilidade internacional ao desaparecimento do filho. As roupas que apresentava em desfiles fora do país traziam pássaros em gaiolas e anjos ensanguentados. Um desfile em protesto no consulado do Brasil em Nova York, nos Estados Unidos, ganhou os jornais norte-americanos e canadenses. Conhecida por vestir celebridades, sua causa ganhou apoio de atrizes como Liza Minelli, Joan Crawford e Kim Novak.
Ao denunciar a violência da ditadura, ela própria se tornou alvo. Morreu aos 54 anos quando seu carro foi jogado fora da pista quando saía do túnel Dois Irmãos, em São Conrado, no Rio, simulando um acidente. O túnel, hoje, leva seu nome.
Terror e opressão
A solenidade de entrega das certidões retificadas ocorreu na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Foram entregues os documentos de pessoas nascidas, falecidas ou desaparecidas no Estado. “Esse ato nos diz que houve um dia em que, no nosso país, defender direitos, a liberdade, a dignidade e a cidadania era se opor aos interesses daqueles que dominavam o Estado brasileiro”, afirmou a ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo.
“Estamos vigilantes e certos de que a defesa da democracia é o único caminho possível para a proteção e defesa da dignidade humana, do livre pensamento, da pluralidade e da diversidade de ideias. Só quem vive ou é impactado pelo horror da opressão e da política do medo é quem pode medir o valor desse momento”, acrescentou.
A presidente da comissão de mortos e desaparecidos políticos, Eugênia Gonzaga, recordou que, antes, as pessoas que morreram naquele período, vitimadas pelo Estado, tiveram certidões de óbito com causas falsas, como suicídio ou acidente automobilístico, como é o caso de Zuzu Angel. Em 1995, os documentos passaram a reconhecer que as pessoas desaparecidas foram mortas por participarem ou serem acusadas de participar de atividades políticas.
A correção das certidões que reconhece a responsabilidade do Estado foi aprovada em 2024, O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) determinou que 434 certidões de óbito de vítimas da ditadura militar sejam retificadas. (Com informações de Luiz Cláudio Ferreira/Agência Brasil)
Filme conta a história da estilista e de sua luta por justiça pelo filho
Lançado em 2006 e dirigido por Sérgio Rezende, odrama biográfico “Zuzu Angel”, traz Patrícia Pillar no papel da estilista. O elenco tem ainda Daniel Oliveira, como seu filho Stuart, Regiane Alves como sua filha Hildegard, Luana Piovani como Elke Maravilha e Paulo Betti como Carlos Lamarca. Veja o trailer abaixo.
Discover more from Carta Campinas
Subscribe to get the latest posts sent to your email.




