Preta Gil deixa legado de resistência contra preconceitos, amor à vida e à diversidade

(foto reprodução – instagram)

A cantora, empresária e comunicadora Preta Gil morreu neste domingo (20), aos 50 anos, em Nova York, após enfrentar desde 2023 uma dura batalha contra um câncer no intestino. Filha de Gilberto Gil e Sandra Gadelha, Preta Maria Gadelha Gil Moreira era afilhada de Gal Costa, sobrinha de Caetano Veloso, e trilhou sua trajetória com brilho próprio e autenticidade.

Mais do que artista, Preta foi uma voz potente em defesa das mulheres, da população LGBTQIAPN+, das pessoas gordas, negras e marginalizadas, e nunca hesitou em se posicionar com firmeza, mas também com empatia. Ela transformou sua própria existência em bandeira, abrindo caminhos para que outras pessoas pudessem também existir com liberdade.

A notícia de sua morte foi confirmada pela família nas redes sociais, por meio de um comunicado assinado por Gilberto Gil: “É com tristeza que informamos o falecimento de Preta Maria Gadelha Gil Moreira, em Nova Iorque, onde estamos neste momento cuidando dos procedimentos para sua repatriação ao Brasil. Pedimos a compreensão de tantos queridos amigos, fãs e profissionais da imprensa enquanto atravessamos esse momento difícil em família. Assim que possível, divulgaremos informações sobre as despedidas”.

Preta deixa um único filho, Francisco Gil, fruto de seu relacionamento com Otávio Müller, e uma neta, Sol de Maria. Mãe orgulhosa e avó amorosa, ela falava frequentemente sobre a importância de viver intensamente, com afeto, liberdade e verdade. “Hoje eu tenho menos medo da morte, ainda tenho um pouco. Tenho medo de não viver, de não ver minha neta crescer. É algo que me angustiava muito”, disse em entrevista ao programa “Roda Viva”, da TV Cultura, em março do ano passado. A emissora irá retransmitir essa entrevista, disse a apresentadora Vera Magalhães, em data a ser confirmada.

O Canal Brasil exibirá uma homenagem especial à artista: nesta segunda-feira (21), às 19h45, vai ao ar o episódio de Amigos, Sons e Palavras em que Gilberto Gil recebe os filhos Preta e Bem Gil para uma conversa sobre música, memória e afeto.

Preta foi diagnosticada com um adenocarcinoma no intestino no início de 2023, após alguns meses de desconfortos e internações. Na época, ela anunciou publicamente o diagnóstico e passou a compartilhar, com franqueza e sensibilidade, os altos e baixos do tratamento. A doença a afastou temporariamente dos palcos e impediu a realização do tradicional Bloco da Preta, que arrastava multidões durante o Carnaval do Rio.

A cantora lançou seu primeiro álbum, Prêt-à-Porter, em 2003. A capa, em que aparecia nua, coberta apenas por fitas do Senhor do Bonfim, gerou polêmica na época, mas também simbolizou sua ousadia, entrega e compromisso com o direito de ser quem se é. A partir dali, ela construiu uma carreira sólida, com discos, turnês, participações em blocos de Carnaval e projetos audiovisuais. Sua música transitava entre o pop, o samba e o axé

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou publicamente sua morte, descrevendo-a como “uma pessoa extremamente querida e admirada pelo público e por todos que tiveram a felicidade de conviver com ela”. Lula ainda telefonou para Gilberto Gil, ex-ministro da Cultura em seu governo, para prestar solidariedade.

O Ministério da Cultura também emitiu nota de pesar: “Preta dividiu com o mundo seus múltiplos talentos e alegria de viver. Autêntica, bem-humorada e dona de um pensamento crítico apurado, certamente deixará saudades”.


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