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Sobre o livro ‘Enamoramento e Amor’, de Francesco Alberoni

(foto: asad photos – pxl)

Resumo do livro ‘Enamoramento e Amor’, de Francesco Alberoni

.Por Flavio Luiz Sartori.

O que é o namoro? É o estado nascente de um movimento coletivo a dois. O namoro não é um fenômeno quotidiano, uma sublimação da sexualidade ou um capricho da imaginação. Tampouco é um fenômeno único e profundo, divino ou enigmático. É um fenômeno que pode ser colocado nos movimentos coletivos.

Porém não pode ser confundido com outros movimentos coletivos como a reforma protestante, o movimento estudantil, o movimento feminista ou os movimentos messiânicos. Apesar de haver um parentesco entre os grandes movimentos coletivos da história e o namoro, a diferença fundamental está no fato de que os grandes movimentos envolvem muitas pessoas e estão abertos ao ingresso de outras. Já o namoro constitui-se exclusivamente entre duas pessoas, formando um “nós” único e completo.

Em todos os movimentos coletivos há uma dependência de um líder carismático que rompe com tradições, arrasta seguidores a uma aventura heróica e provoca neles uma experiência de renascimento interior, ou seja, uma transformação. Sob sua orientação, preocupações econômicas cedem lugar à fé, ao ideal e a uma vida de entusiasmo e paixão.

Na história e na vida social, há fenômenos em que as relações humanas mudam substancialmente. São movimentos de transformação, como o nascimento de religiões – islamismo, cristianismo, reforma protestante – e também seitas, heresias e movimentos sindicais ou estudantis. Esses movimentos formam novos sujeitos coletivos. No caso do namoro, esse “nós” coletivo é composto exclusivamente por um casal de amantes, salvo raras exceções.

A diferença entre a sexualidade humana e a animal está no fato de que, nos animais, a sexualidade é cíclica, manifestando-se de forma explosiva em períodos específicos. No ser humano, ao contrário, o desejo sexual seria contínuo. Contudo, pesquisas mostram que, mesmo entre humanos, há períodos extraordinários de intensa sexualidade intercalados por longos períodos ordinários. Esses períodos extraordinários coincidem com o amor apaixonado, em que a sexualidade adquire uma intensidade extraordinária, transcendendo o ordinário.

Nestes momentos de amor, a relação sexual é acompanhada por uma profunda conexão emocional. Cada gesto, olhar ou toque possui intensidade erótica e simbólica. Essa sexualidade vai além do físico, englobando ternura e compreensão mútua. Esses períodos extraordinários estão ligados à inteligência, à fantasia e à paixão, trazendo a sensação de eternização do presente.

O enamoramento desafia valores fundamentais das instituições, pois não é apenas um desejo pessoal, mas um movimento criador de novas relações e estruturas. Historicamente, ele aparece como uma ruptura, especialmente em sociedades arcaicas e feudais, nas quais os casamentos eram regidos por regras de parentesco. Com o enfraquecimento dessas regras, tornou-se possível à busca por outras formas de união.

No estado nascente do amor, o passado é reinterpretado e perde seu peso. Sentimentos como rancor e ressentimento são deixados para trás, dando lugar à alegria do presente e à possibilidade de um novo começo. Isso transforma o enamoramento em um movimento libertador e criativo.

O namoro também está intrinsecamente ligado à fusão entre os amantes. Ambos buscam uma convergência de vontades e desejos, mas sem anular suas diferenças. Essa diversidade é o que dá riqueza ao relacionamento. Além disso, o estado nascente do amor cria uma geografia sagrada, em que lugares, datas e objetos tornam-se símbolos carregados de significado emocional.

Por fim, a vida humana está marcada pela decepção e pela pressão de atender expectativas externas. O enamoramento, porém, oferece um refúgio, um espaço onde os indivíduos podem experimentar uma existência mais autêntica, centrada em si mesmos e no outro que amam. (Do Blog Essencial Além da Aparência)

Flavio Luiz Sartori – Historiador e Pós Graduando em Inteligência Artificial.

Innamoramento e Amore. Francesco Alberoni. Milano, Garzanti Editore, 2002. Tradução e síntese: Ir. Paulo Dullius

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