“O Beijo 20”, com imagem gerada por IA (foto: mayara ferrão/divulgação)

O Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp) conclui o ano dedicado à diversidade LGBTQIA+ com uma mostra coletiva que ocupa três espaços expositivos. A exposição “Histórias LGBTQIA+” reúne mais de 150 obras de arte, centenas de documentos nacionais e internacionais e pode ser visitada até 13 de abril.

Justapondo o passado e a contemporaneidade, a mostra está organizada em oito núcleos: Amor e Desejo, Ícones e Musas, Espaços e Territórios, Ecossexualidades e Fantasias Transcendentais, Sagrado e Profano, Abstrações, Arquivos e Biblioteca Cuir.

A exposição apresenta trabalhos de diversos períodos e correntes artísticas, evidenciando visões das histórias LGBTQIA+ que atravessam o tempo e o espaço, e apontam estratégias de resistência. Em “O Beijo 20” (2024), da série “Álbum dos Desesquecimentos”, por exemplo, a artista baiana Mayara Ferrão usa a inteligência artificial para criar imagens que simulam fotos antigas, inventando assim uma iconografia de histórias de lésbicas negras, a fim de revelar narrativas que foram apagadas e imaginar novos futuros.

“Apresentamos uma diversidade de representações, grupos e experiências para além das imagens de subalternidade, desumanização e hipersexualização que historicamente foram colocadas sobre as pessoas LGBTQIA+. Também temos uma diversidade enriquecedora de estilos artísticos para pensar essa experiência do ponto de vista da arte e de possíveis revisões históricas”, afirma Leandro Muniz, curador assistente Masp.

Releituras dos cânones

A mostra apresenta trabalhos contemporâneos que estabelecem críticas e reflexões com base nos cânones da arte. Em “Duas Fa’afafine” (2020), a artista Yuki Kihara, de ascendência japonesa e samoana, fotografa pessoas da comunidade trans a partir dos esquemas compositivos de Paul Gauguin (França, 1848–1903).

Outro exemplo de diálogo com a tradição artística é “Uma Escultura para Mulheres Trans…” (2022) da artista norte-americana Puppies Puppies (Jade Kuriki-Olivo). A obra, produzida em bronze, material clássico da história da arte, reproduz em escala um para um o corpo da artista a partir de um escaneamento tridimensional.

E no quadro do artista Rodolpho Farigi que faz referência à obra “Abaporu”, criada em 1928 por Tarsila do Amaral (1886-1973, a figura humana veste látex.

A exposição também coloca em debate os estereótipos e as contradições presentes na comunidade LGBTQIA+. Uma das obras que compõem a mostra é a fotografia “Night Stage Raising Crew, Listening” (2006), de Angela Jimenez, que registra a montagem do palco do Michigan Womyn’s Music Festival. Criado em 1976, o evento anual organizado por mulheres lésbicas feministas teve fim em 2015 devido às tensões causadas pela política de exclusão de mulheres trans.

Arquivos e antologia

Reunindo registros históricos da comunidade LGBTQIA+, o núcleo Arquivos conta com documentos de grupos comunitários auto-organizados do Brasil — como o Museu Transgênero de História e Arte (Mutha), Instituto Brasileiro de Transmasculinidades (Ibrat–SP) e Arquivo Lésbico — e do Sul Global, incluindo outros 12 países da Ásia, América Latina, África e mundo Árabe.

Durante a mostra, está sendo lançada uma antologia que reúne ensaios, entrevistas, poemas, manifestos, relatos e declarações, abordando questões como políticas do corpo, inclusão social, práticas artísticas em contextos de crise, necropolítica e conflito, e histórias de movimentos de dissidências sexuais e de gênero, com um enfoque especial nas experiências do Sul Global. O livro é organizado por Adriano Pedrosa, diretor artístico do Masp; André Mesquita, curador do museu, e pela curadora-adjunta Julia Bryan-Wilson, com a assistência de Teo Teotonio. (Com informações de divulgação)

Serviço

Data: até 13/4/2025
Horário: terças das 10h às 20h (entrada até 19h), quarta a domingo, das 10h às 18h (entrada até 17h)
Local: 1º andar, mezanino e 2º subsolo do Masp São Paulo
Endereço: Avenida Paulista, 1.578, Bela Vista, São Paulo-SP
Ingressos: R$ 70,00 e R$ 35,00 (meia), com entrada gratuita às terças e na primeira quinta-feira do mês com agendamento on-line obrigatório pelo link masp.org.br/ingressos