Em entrevista ao 247, o ex-presidente nacional do PT, José Genoino, afirmou que o Partido dos Trabalhadores precisa abandonar qualquer expectativa de reconhecimento ou imparcialidade por parte dos grandes veículos de comunicação no Brasil. Para ele, a esquerda deve intensificar a disputa de ideias e construir uma alternativa à hegemonia de direita e extrema direita no país. “O PT já deveria ter perdido suas ilusões com a grande mídia”, declarou Genoino.
A mesma mídia que o PT busca reconhecimento é a que tenta culpar o PT pelas dificuldades nas eleições, é a que normaliza o extremismo de direita, o Centrão, as emendas PIX, etc e ataca tudo nos governos petistas. Mas após as eleições, essa mesma mídia culpa o PT de não conseguir vencer o monstro que eles mesmos alimentam diariamente.
A dificuldade da esquerda no Brasil é a dificuldade do PT. E o PT, como diz José Genoino, quer a aceitação da grande mídia. Parece querer aparecer no Programa Fantástico, só para lembrar o antigo programa de humor Casseta e Planeta. ‘É do Fantástico?”, perguntava o personagem que imitava o ex-presidente Itamar Franco.
É uma espécie de Complexo de Estocolmo do PT. É quando o establishment pesa na consciência. Para se ter uma ideia, uma emissora afiliada da Globo simplesmente ignorou a existência de uma candidato petista numa grande cidade. Dava as notícias das eleições sem sequer citar a existência do candidato petista. E não houve publicamente nenhuma crítica ou ação judicial a essa ação nefasta com concessão pública.
Genoino parece acertar o ponto: “Há uma hegemonia de direita e extrema-direita na sociedade brasileira. Precisamos construir uma contra-hegemonia de esquerda.” Mas o que fazer? E agora José?
Ninguém sabe e os caminhos são complexos. É preciso uma esquerda mais contra-hegemônica e menos desejosa do aceite dos ricos que detêm o poder econômico e midiático da sociedade, mas como fazer isso sendo também parte do governo ou disputando para ser parte do establishment?
Esse talvez seja o grande desafio da esquerda, talvez descobrir uma fórmula para esse jogo contraditório e dialético: negociar e avançar. Talvez esse tenha sido o grande valor do PT na sua história, aceitar o jogo da democracia liberal, mas buscar uma utopia social. Onde foi parar essa utopia? É possível ultrapassar as conquistas realizadas pelos governos petistas em termos projetos futuros de uma sociedade mais justa e igualitária?
Houve um momento em que a esquerda dominou a internet. Foi quando a tecnologia de blogues e redes sociais estavam no início, há cerca de 15 anos. Nesse período, não o PT institucionalizado, mas seus militantes e uma quantidade enorme de pessoas que queriam se expressar entraram espaço na internet. Mas logo a lógica do capital dominou o processo e a extrema direita aliada dos super-ricos impuseram sua agenda com o apoio da mídia.
A ascensão da extrema direita jogou a esquerda para a defensiva, restou o objetivo de garantir pelo menos a ordem da democracia liberal. Mas precisa ser assim? Será que é preciso somente defender o STF e a democracia do centrão? Não é possível propor uma democracia mais efetiva, proporcional, por exemplo, limitando a presença de empresários no Congresso? Não é possível defender ideias de que o problema da democracia é justamente a falta de representatividade social no Congresso? Será que não há pautas que perturbem a direita e a extrema direita? Um projeto que facilite a estatização de empresas privatizadas que se tornam ineficientes ou que causem acidentes não teria apelo da população?
Parece obvio que não dá para competir com a extrema direita na internet com os trilhões de dólares que financiam a disseminação de fake news. A esquerda pode tentar competir com a direita e a extrema direita usando os mesmos métodos, mas será difícil se não criar algo novo diante do poderio econômico.