(foto: josé cruz/agência-brasil)

Caso não haja mudança nas emissões de gases estufa atuais, os eventos climáticos extremos, como furacões, inundações e secas, continuarão aumentando em intensidade e frequência. As alterações climáticas apontam também para uma perda drástica de biodiversidade e aumento de riscos para a saúde humana. O alerta é do cientista Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da USP, membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) e do  Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) para Mudanças Climáticas, e coordenador do Centro de Estudos Amazônia Sustentável (CEAS) da USP.

“Mudança climática não é só temperatura”, afirmou Artaxo na abertura da segunda noite de seminários da terceira edição do USP Pensa Brasil, na última terça-feira (13). Os níveis pluviométricos, avalia o cientista, devem aumentar no Sul, como visto nas chuvas do Rio Grande do Sul, enquanto no Nordeste, o clima semiárido pode se tornar árido, tornando certas regiões inóspitas. A Amazônia está próxima de uma transição crítica, na qual, mesmo com o Brasil zerando a emissão de gases poluentes, a degradação da floresta ainda agravaria o efeito estufa.

De acordo com Artaxo, que apresentou os dados mais recentes do IPCC, a temperatura média mundial pode aumentar em até 4,3°C, mas ainda há uma saída para essa situação. “A COP-30 certamente vai ser uma das últimas oportunidades para aumentar a resiliência de nosso planeta e evitar enormes impactos socioeconômicos”, afirmou. A 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas será realizada no ano que vem em Belém (PA).

Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, abordou justamente as questões sociais das mudanças climáticas durante o debate. Na sua visão, os efeitos dessas mudanças, como as enchentes no Paquistão em 2022 e no Rio Grande do Sul este ano, vão “ganhando mais espaço no nosso incômodo”. Ou seja, para ele, a percepção popular se intensifica.

Apesar de a maioria da população reconhecer o efeito estufa como realidade, pontuou Astrini, a média mundial de pessoas que consideram mudanças climáticas como questão de primeira importância é de apenas 14%. As pessoas mais afetadas por essas mudanças, lembrou, já enfrentam a desigualdade social e a pobreza extrema hoje.

O secretário de Estado do Meio Ambiente do Amazonas, Eduardo Costa Taveira, destacou durante o evento que as soluções para os problemas climáticos naquela região devem incluir os povos que vivem por lá e serem pensadas no bioma, não apenas em lugares distantes. “Muitas vezes, a perspectiva de soluções que se tem para a Amazônia é colonialista. A Amazônia real não é vista da copa da árvore numa imagem do Google”, afirmou.

Também participaram do evento a jornalista Giovana Girardi, para quem “a sensação é de que o futuro já está aqui” e Tainá de Paula, vereadora pelo PT e secretária de Ambiente e Clima do Rio de Janeiro. “Nós vamos ter que construir pactos sociais novos. A crise ambiental climática antecipa a nossa crise social aguda”, afirmou Tainá. (com reportagem de Joyce Tenório/Jornal da USP)

Serviço

As apresentações das conferência e debates do USP Pensa Brasil 2024 podem ser assistidas pelo Canal USP, no YouTube.

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