Por Christian Ribeiro.1
O poeta enquanto cantador, ara terrenos por vezes inférteis de tanto medo, dor e desilusão. Canta e encanta, semeando cores de uma nova aurora… Esperança que renasce em sangue inocente derramado… Em meio a feridas que não cansam de brotar nas carnes de tantas almas e corpos!
Mas poeta de vida, de reencantar o mundo, o velho mestre continua seu ofício artesão de purificar todas as dores, em seu ato de semear o esperançar na raça humana! Entre a beleza e a podridão do que somos, o poeta pranta a beleza daquilo que poderemos vir a ser!
Nas cores e sons dos sambas, dos reggaes, dos batuques, dos xotes, dos xaxados, dos maracatus em meios as infinitudes de um baião de nós dois. Em um cantar que nos floresce a estranha persistência de caminhar por sonhos, em nossa eterna busca por felicidade! No sentido de ressurgir de gélidas sombras, como o sal da terra, em compreensão de que somos o devir utópico, que existe para pôr fim a mediocridade canalha que nos rodeia.
Poeta em voz e violão que nos samba em improviso os mais belos versos e ritmos. Imprevisíveis e infinitos em beleza. Sempre a nos lembrar do Asé ao qual somos moldados e ganhamos alma. Para sermos a realidade encarnada dos sonhos mais belos em que fomos imaginados!
Que com sua arte, nos ensina que somos muito, mas muito mais, do que uma semana do trabalho de Deus! Mas muito menos do que dolorosamente agimos em ser! Em meio a essa incompletude dualística dialética, entre dores e amores, sofreres e amores – perigosa brincante – ao qual chamamos de humanidade!
Bela semente (mal)dita regada, crescendo em fresta, entre o tempo eterno e a morte! Nêmesis das velhas ordens e velhos mundos. Muito mais do que uma semana do trabalho de Deus!
Sempre bendita e louvada, cristal de lágrima que não chora mais, mesmo que por vezes em lamento, nos versos e melodias do poeta cantantes! Cantatas gilbertianas, que da linha de nossas mãos, afinam as cordas de seu violão, em melodias de insensatos destinos, que entoam o germinar da nossa eterna incompletude em beleza, ao qual chamamos de raça humana.
1 Crônica desenvolvida em homenagem a obra – e ao aniversário de 82 anos – de Gilberto Gil, a partir de sua canção “A raça humana” [Faixa:09, 1984], presente no álbum “Raça Humana”, lançado pela gravadora WEA.