O Cineclube da ADunicamp está de volta! A primeira sessão do ano será quarta-feira, dia 06 de março de 2024, a partir das 19h, com o filme “Atriz”, do diretor Hamilton Rosa Jr. O filme homenageia a classe teatral de Campinas e conta com a participação de 70 membros da cena teatral da cidade. A entrada é gratuita e, após a exibição, haverá roda de conversa com o diretor.
Sobre o filme
Conhecemos muitas histórias sobre pessoas solitárias e desamparadas que passam suas vidas anônimas dentro de uma engrenagem trituradora, mas a história que tanto sensibiliza o cineasta Hamilton Rosa Junior, é a do artista de interior. Em seu novo filme “Atriz”, ele celebra a história de centenas de personalidades do teatro da cidade, verdadeiros heróis que disseminam a expressão artística regional muitas vezes sem o respaldo de uma política de incentivo, mas tornando sempre o inviável, possível, nem que seja na calçada de uma praça. Para isso, o diretor conseguiu reunir mais de 70 atores da região para, numa cena capital do filme, prestar essa homenagem.
O filme começa com uma história particular: conta a trajetória de Virgínia Ribeiro (a atriz Andrea Wanger), uma veterana atriz do interior de São Paulo, que dedicou toda sua vida ao teatro, porém há três anos não pisa em um palco. Ela só consegue fazer bicos como atriz trabalhando como professora na escola de teatro de um amigo, e, fazendo espetáculos de necroturismo no cemitério. “Isso até aparecer um amigo dramaturgo, Félix (interpretado pelo ator Iriberti Argenton) que oferece um papel na sua próxima peça. Virgínia se entusiasma com o convite, mas no dia da leitura, percebe o interesse do amigo por seduzí-la. Os dois brigam, e Virgínia, com seu domínio da profissão, coloca o dramaturgo em seu lugar”, conta o cineasta.
Esse controle torna Virgínia uma realeza no palco. Mas fora dele, ela tem que batalhar para ter um ganha pão. Por escolher o teatro como profissão, a mulher se sujeita a todo tipo de palco, inclusive o do Cemitério da Saudades, onde ela encena o drama de personalidades históricas em frente a seus túmulos. “Agora considere, se a protagonista, que é branca e de classe média, encontra tais dificuldades, imagina o que uma aspirante a atriz pobre e negra terá que enfrentar se quiser seguir a mesma profissão de fé?” Segundo o cineasta, esta é uma segunda subtrama que gira em torno da primeira e que é interpretada pela atriz Jéssica Magalhães.
As duas histórias, que são baseadas em fatos verídicos, se entrelaçam e ilustram muito bem a dificuldade da classe artística numa cidade como Campinas. É uma ironia ver a forma como os artistas têm que se digladiar para conseguir algum patrocínio. Campinas é uma das regiões mais ricas do Brasil. O território é dominado por uma elite desde a época dos barões do café, que sempre fizeram muito pouco em investimentos artísticos pela região. “Em qualquer lugar do mundo, onde existe muito dinheiro, há espaços, às vezes, monumentais dedicados à arte e cultura. Mas aqui não, a elite campineira vai pros Estados Unidos e Europa ver os grandes espetáculos, ignorando os talentos que tem em sua própria casa”.
Segundo Hamilton, esquecem, por exemplo, que tivemos Teresa Aguiar. “Em um mundo de homens, Teresa foi a primeira grande diretora de teatro do Brasil (esse pioneirismo é destacado no país inteiro, aqui ela precisou lutar muito para conseguir reconhecimento). Historicamente, a cidade contou também com Luiz Otávio Burnier, outro expoente fundamental (ele foi um dos maiores mímicos deste país apesar de morrer jovem). O manancial criativo em Campinas é tão grande que proporcionou a criação da trupe Os Geraldos no Teatro de Arte e Ofício. Permitiu que um grupo teatral de vanguarda, como o Lume, florescesse e ganhasse repercussão internacional. Que o Conservatório Carlos Gomes, se tornasse esteio para duas gerações de atores que tomaram o palco nos anos 70 e 80 e fizeram o teatro efervescer.
Isso, sem contar a Escola de Artes Cênicas da Unicamp, local por onde passaram professores como Celso Nunes, Paulo Betti e Eliane Giardini. Então cabe a pergunta: Por que continua esse descaso com o que é mais genuíno e representa o que somos?”, acrescenta o diretor.
O esforço para tirar “Atriz” do papel, de acordo com Hamilton, foi tremendo. Foram seis anos tentando os editais, buscando patrocínios em empresas… e, no fim surgiu a ideia de lançar uma campanha para arrecadar fundos na Internet. “O dinheiro foi suficiente? Claro que não. O filme não existiria se não fosse a colaboração da equipe. Gente como o produtor técnico Toni Ferreira, o câmera Joel Camargo e o iluminador Johnny Muller. Esse filme teve um trabalho muito delicado, quase de bordado, de direção de arte da Karla Maturana e do Joaquim Mattos, ou ainda do som de Luiz Guga Lourenço e da trilha sonora de Daniel Guimarães. Todos muito guerreiros”.
Para o cineasta, guerrilha, aliás, é uma palavra que dá bem conta do que é produzir qualquer tipo de espetáculo na cidade. “Por isso, prestamos homenagem à classe teatral campineira. Sem a contribuição de pessoas como Róbson Loddo, do Téspis, do Antonio Carlos, do Teatro Escola Sotac, do Kha Machado, da Rabeca Cultural, e de tantos outros, não teríamos concluído esse trabalho.
Enfim, existem muito mais artistas nessa cidade, que arregaçam as mangas e constroem mundos, às vezes colorindo como pintores palcos precários e improvisados. “Não importa se é num teatro, numa praça ou num cemitério. Essa turma traz tanto pra gente. Não é só diversão que é oferecida. É uma reflexão sobre a nossa cultura, sobre a nossa identidade… Veja, tentei reunir essa galera toda para uma cena do filme, mas são tantas pessoas, tantas trupes, que, numa estrutura pequena como a do filme, fica até difícil considerar um mapeamento completo. Mas rodamos uma cena tentando lançar uma luz, sobretudo sobre os veteranos. Claro que faltou gente. Acho que não importa quem apareceu na cena, importa sim é que quem esteve lá representa mais que uma categoria. E esse filme é uma carta de amor a toda a classe teatral interiorana”.
SERVIÇO
Filme: Estreia do filme “Atriz”
Direção: Hamilton Rosa Jr.
Elenco: Andrea Wanger, Jéssica Magalhães, Iriberti Argenton, Elisângela Lima
Duração: 30 minutos
Classificação: 12 anos
Data: Quarta-feira, 06/03/2024
Horário: A partir das 19h
Local: Auditório da ADunicamp
Entrada: Gratuita
