Um estudo coordenado pela professora da Unicamp, Telma Vinha, mostra uma relação estreita entre as redes sociais e os algoritmos usados por elas como incentivador dos ataques de estudantes com armas de fogo nas escolas do Brasil. Em entrevista de Raphaela Ribeiro, da Agência Pública, Telma Vinha mostra essa íntima relação entre a internet, o discurso de ódio da extrema direita e a brutal violência nas escolas. Veja trecho da reportagem:
O Brasil teve ao menos 11 ataques registrados em escolas este ano. No ano passado, foram 10. Apenas em outubro, dois ataques em escolas deixaram dois estudantes mortos e outras seis pessoas feridas. Na última segunda-feira (23), um estudante do Ensino Médio de 16 anos entrou na Escola Estadual Sapopemba, na Zona Leste de São Paulo, e atirou contra alunos e funcionários. Uma adolescente de 17 anos morreu e outros três ficaram feridos. O autor dos disparos foi detido no local.
No último dia 10, no Colégio Dom Bosco, em Poços de Caldas (MG), um ex-aluno, ainda menor de idade, matou um estudante de 14 anos e feriu outros três a facadas.
A onda de violência em instituições educacionais começou em 2001, mas se intensificou após o massacre escolar de Realengo, em 2011, no Rio de Janeiro, quando 12 pessoas foram mortas, segundo estudo elaborado por pesquisadores do Gepem (Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral), vinculado à Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e à Unesp (Universidade Estadual Paulista).
A pesquisa analisou 36 ataques violentos ocorridos em escolas brasileiras nos últimos 22 anos, até outubro de 2023. A maioria dos casos aconteceu em escolas públicas. Todos os autores eram do sexo masculino, predominantemente brancos. Em sua maioria, os autores usaram armas de fogo.
Telma Vinha, professora da Unicamp e coordenadora do estudo, explica que esses ataques “não são eventos isolados e tem características que se repetem”. Ela alerta para os hábitos online dos autores e interações em comunidades virtuais que promovem discursos de ódio. O primeiro ataque com evidências de influência online, segundo Vinha, foi o de Realengo, em 2011. Desde então, em 71,8% dos casos foram encontrados sinais de radicalização online, como buscas na internet sobre instruções para cometer massacres.
Segundo a pesquisadora, os autores dos ataques às escolas, em sua maioria, possuíam relações sociais limitadas e não eram vistos como “populares”, mas buscavam reconhecimento e valorização em grupos on-line. Ela aponta para o papel dos algoritmos das plataformas digitais na radicalização dos jovens, porque funcionam sugerindo conteúdos similares aos já visualizados, ou seja, potencializando a exposição a discursos violentos.
De acordo com a pesquisadora, nas interações realizadas on-line, como nos chats de jogos, pode proliferar incitação à violência e discursos de ódio. Em entrevista à Agência Pública, Vinha alertou para a pouca moderação de conteúdos das plataformas como um dos fatores que contribui para o aumento de ataques violentos nas escolas. (Entrevista Completa AQUI)