Da RBA – Em delação à Polícia Federal (PF), o tenente-coronel Mauro Cid afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) consultou militares sobre uma minuta golpista, que previa convocação de novas eleições e prisão de adversários. Segundo o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, essa reunião ocorreu logo após o recebimento do plano, entregue pelo seu então assessor para assuntos internacionais, Filipe Martins. As informações são do site Uol, que teve acesso a um dos depoimentos, divulgado nesta quinta-feira (21). Os relatos de Cid fazem parte da delação premiada à PF, homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
De acordo com a publicação, o roteiro do golpe chegou às mãos de Bolsonaro após sua derrota no segundo turno. Na delação, Cid afirmou que testemunhou a entrega do documento por Filipe Martins. Um advogado constitucionalista e um padre, cujos nomes o ex-ajudantes de ordens disse não se lembrar, também teriam participado do encontro.
Aos investigadores, Cid também detalhou que, posteriormente, Bolsonaro se reuniu com militares de alta patente e mostrou a eles parte do plano. O objetivo era verificar a receptividade à ideia golpista. O único apoiador, de acordo com a delação, foi o comandante da Marinha, almirante Almir Garnier. O militar já havia demonstrado sua insatisfação com o resultado democrático do pleito quando se negou a participar da cerimônia de troca de posse do comando da Marinha para Marcos Sampaio Olsen, escolhido por Lula. A recusa de Garnier foi considerada uma quebra de protocolo.
Plano golpista teria levado ao 8 de janeiro
A reportagem destaca que, apesar dos sinais favoráveis a planos golpistas, o almirante não chegou a autorizar expressamente seus auxiliares a colocá-los em prática. E que os diálogos não resultaram na execução das intenções golpistas. Também não houve adesão do Alto Comando das Forças Armadas, segundo o delator.
Os investigadores suspeitam, contudo, que essas articulações de Bolsonaro com os militares resultaram na tentativa de golpe do 8 de janeiro, em Brasília. A PF também apura se o plano recebido por Bolsonaro é o mesmo encontrado na residência do ex-ministro da Justiça Anderson Torres. A minuta golpista apreendida também autorizava a prisão de adversários. E ainda determinava a decretação de um “estado de defesa” na sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para apurar supostas irregularidades. Isso poderia resultar na convocação de um novo pleito.
A delação
A delação sobre as tratativas golpistas foi o que levou a Polícia Federal a assinar o acordo de colaboração com Mauro Cid. O processo foi conduzido pelo advogado do tenente-coronel, Cezar Bitencourt, e homologado no dia 9 de setembro pelo ministro do Supremo Tribunal (STF) Alexandre de Moraes. Cid estava preso desde maio por suspeita de fraude em cartões de vacinação, e deixou a prisão após a homologação da delação premiada.
Além de contar aos investigadores sobre os planos golpistas do ex-presidente, o ex-faz-tudo também confessou que Bolsonaro recebeu “nas mãos” o dinheiro da venda de relógios de luxo recebidos como presentes de Estado. O trecho desse depoimento foi divulgado na revista Veja. De acordo com os investigadores, embora pertencesse ao Estado Brasileiro, uma das joias vendidas sequer chegou a ser registrada no setor responsável pelo recebimento de presentes da União. Para a PF, Bolsonaro criou uma estrutura para desviar os bens públicos de alto valor para enriquecimento ilícito
Segundo a reportagem, o tenente-coronel também confessou que foi dele a responsabilidade por fraudar os cartões de vacinação. O objetivo, segundo ele, era ter um “salvo-conduto” para ser usado caso a família fosse alvo de eventuais “perseguição” por não ter se imunizado.