Um estudo, transformado em artigo publicado no site Outra Palavras por Eduardo Magalhães Rodrigues, mapeou os grupos que acumularam riqueza e poder enquanto o Brasil regredia. A quantidade de poder e riqueza é tão grande que mesmo o país regredindo, esses grupos acumulam mais riquezas. “As corporações não são meramente agentes econômicos em um contexto de liberdade de mercado, mas que constituem um poder efetivo de determinação social e política”, anota. O estudo mostra um emaranhado de controle de empresas sobre empresas sobre outras empresas e mais empresas, que passam por paraísos fiscais, e que ao final é tudo concentrado na mão de poucas pessoas. Veja alguns trechos:
A economia brasileira, uma das maiores do mundo, é dominada por pouquíssimos atores individuais e privados cujas metas e estratégias, por óbvio, respondem somente aos próprios interesses particulares. Ao fazermos uma comparação simples entre alguns dos principais números das grandes empresas, como lucro e patrimônio, com, por exemplo, PIB e orçamento público federal, observamos que o poder corporativo privado se equivale ou supera, ao menos quantitativamente, as somas governamentais. Há, portanto, uma forte intuição, o que nos habilita à formulação de uma hipótese, de que as corporações não são meramente agentes econômicos em um contexto de liberdade de mercado, mas que constituem um poder efetivo de determinação social e política.
Chegamos à conclusão, baseados na metodologia da Análise de Redes Sociais, de que uma ínfima quantidade de empresas privadas e pessoas controlam a maior parte da economia brasileira com destaque para os setores de energia, finanças e saúde; além das pessoas físicas de Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto da Veiga Sicupira e Marcel Herrmann Telles, notórias também por despontarem como os maiores bilionários do país, bem como por possuírem, entre outras marcas famosas, as empresas atualmente mais poderosas que atuam em território nacional: a Eletrobrás, a Ambev e as Lojas Americanas. Esta última, como se sabe, sacrificada por um desfalque de mais de R$ 48 bilhões.
o conjunto corporativo objeto de nosso estudo, segundo já assinalado, é composto por 200 holdings (estrangeiras, nacionais privadas e estatais) que integram 6.235 unidades empresariais. Esta rede responde por 63,5% do PIB brasileiro e, considerando que no país há 19,7 milhões de empresas ativas16, significa que quase 70% de toda a riqueza produzida no país está nas mãos de, ao menos, 0,03% das empresas. Nos resultados relacionais da presente pesquisa, veremos que os percentuais de controle corporativo são ainda bem menores. Para uma dimensão um pouco melhor do conjunto de nossa rede, a receita bruta dos 200 maiores grupos, no ano de 2019, foi de R$ 4,6 trilhões. Em comparação, o Orçamento realizado da União foi de R$ 2,7 trilhões17. Ou seja, a riqueza acumulada, em 2019, pelas 200 maiores corporações (0,03% das empresas de todo o país) foi quase 70% (69,7%) maior do que todos os recursos federais disponíveis para todas as políticas públicas nacionais destinadas aos mais de 210 milhões de habitantes18. Dos 200 maiores grupos, 6% é estatal; das 10 maiores holdings, 4 são bancos; a primeira é a Petrobrás (ao menos desde o ano de 2008); em 2019 quase metade (49%) do lucro líquido corporativo ficou com o setor de finanças19 quando, no conjunto, houve uma queda de -2,2%. (Veja texto integral)