(foto divulgação)

Ciclo de debates é um marco no processo de construção de uma outra Embrapa

Evento, realizado em Campinas, reuniu sindicato, trabalhadoras(es) e gestores da empresa  

O evento que lançou o Ciclo de debates sobre a pesquisa agropecuária pública: da Embrapa que temos à Embrapa que queremos teve no centro das reflexões a necessidade de transformações na atuação da empresa, em várias frentes. Nesse processo, destaca-se a discussão sobre o resgate do caráter público da Embrapa, a contribuição para a consolidação de uma agricultura sustentável, da mitigação das mudanças climáticas, da soberania alimentar e na contribuição mais efetiva no combate à fome. Também foram abordados temas internos como mais diálogo e participação, combate ao assédio moral, recomposição do orçamento e concurso público para ampliação do quadro, entre vários assuntos discutidos ao longo do dia.

Trabalhadoras(es) de várias Seções Sindicais, de diferentes regiões do país, marcaram presença no lançamento do Ciclo de debates, totalizando 105 pessoas no auditório. A programação contou com duas mesas temáticas, espaços para as(os) participantes fazerem perguntas, manifestações e proposições, e, ao final, planejamento com a participação ativa de todo o coletivo presente na plateia para definição das próximas etapas do Ciclo de debates. 

A mesa da manhã teve como foco Análise do contexto atual e perspectivas da ciência e tecnologia pública. Dione Melo falou sobre a crise de legitimidade da ciência e o desafio em dialogar com a sociedade, já que é essa sociedade que, através da escolha de seus representantes por meio do voto, determina questões como investimento em ciência e tecnologia.
 
Na sequência, o pesquisador da Embrapa Clima Temperado, João Carlos Costa Gomes, abordou o tipo de formação acadêmica na graduação e na pós-graduação. Criticou a pouca relação que há entre a Embrapa e o meio acadêmico, sem deixar de mencionar o que considera exceções, como é o caso do que ocorre em Campinas, com a proximidade com a Unicamp. Citou, entre os desafios para a nova gestão da empresa, a mobilização do quadro interno, a consolidação de uma agenda positiva e as alianças estratégicas.

Renato Dagnino, professor da Unicamp, analisou o processo de especialização do conhecimento. Abordou a apropriação privada do conhecimento e de como o acesso ao conhecimento formal ainda é muito elitizado no país. Mostrou porque o modelo adotado no Brasil não dialoga com a realidade, já que dos 90 mil mestres e doutores formados entre 2006 e 2008, apenas 68 foram contratados por empresas para atuarem em pesquisa. E defendeu como alternativa a tecnociência solidária.
 
Da Embrapa que temos à Embrapa que queremos

A mesa da tarde começou com Mário Urchei reforçando a importância da reabertura do diálogo com as(os) trabalhadoras(es) e os segmentos que demandam a pesquisa agropecuária pública, como agricultoras(es) familiares, povos originários, quilombolas, dentre outros. Em sua fala, elencou uma série de desafios e questionamentos em direção a uma Embrapa Pública, Democrática e Inclusiva, como, por exemplo, maior controle social, o resgate do caráter público, a diminuição da burocracia, a revisão do Sistema Embrapa de Gestão (SEG), com ênfase para pesquisas em sistemas biodiversos, complexos e de base agroecológica, voltados ao desenvolvimento territorial, a reconstrução da Rede de Agroecologia da Embrapa, a necessidade de implantação de processos democráticos e transparentes na indicação de gestores e maior atuação da empresa em relação à soberania alimentar e ao combate à fome, entre vários outros.

Elisa Vieira Wandelli, pesquisadora da Embrapa Amazônia Ocidental, falou sobre importância do papel do sindicato no realinhamento da Embrapa com o desenvolvimento rural sustentável e questionou sobre o Transforma Embrapa, a necessidade de priorização de soluções para a crise climática, para o fortalecimento da agricultura familiar e para a soberania alimentar. Falou da necessidade do fortalecimento do incentivo e condições para a permanência dos jovens no campo e da priorização de uma agricultura familiar de base agroecológica. Elisa integra o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável (CDESS), instância junto ao governo federal que discute políticas públicas para o desenvolvimento sustentável no país e se colocou à disposição dos trabalhadores e da direção da Embrapa.

Clenio Pillon, que participou do Ciclo de debates representando a presidência da Embrapa, encerrou a segunda mesa chamando a atenção para o simbolismo do evento e a abertura de canais de comunicação com a diretoria da empresa. O diretor-executivo de Pesquisa e Inovação da Embrapa e o chefe-geral da Embrapa Agricultura Digital acompanharam toda a agenda do evento. “Foi uma experiência fantástica estar aqui”, afirmou Pillon. Ele abordou vários dos questionamentos feitos, inclusive sobre a revisão do processo de indicação das chefias, e reforçou que um dos focos prioritários é trabalhar pela recomposição do orçamento. “R$ 14 milhões ao ano para a pesquisa não é compatível”.
 
Continuidade

A agenda para continuidade do Ciclo de Debates começou a ser discutida e um grupo de trabalho foi formado para a sistematização de temas, sugestões de datas e dos locais de realização das próximas edições, a partir das indicações e manifestações feitas no plenário.

Cultura popular
O lançamento do Ciclo de debates sobre a pesquisa agropecuária pública: da Embrapa que temos à Embrapa que queremos também foi um momento de valorização da cultura popular. No início do evento, o grupo Flautins Matuá encantou o público com sua riqueza rítmica a partir da sonoridade de seus instrumentos tradicionais. No encerramento, a cantora Andreia Preta e o violeiro Pedro Henrique Gava apresentaram canções de referência da MPB e composições próprias, ligadas à toda a temática abordada no evento.

Abertura

A iniciativa do evento foi da Seção Sindical Campinas e Jaguariúna do SINPAF e contou com o apoio da Embrapa Agricultura Digital, que sediou o debate realizado na última sexta-feira, 14.

Na mesa de abertura, o chefe-geral da Embrapa Agricultura Digital, Stanley Robson de Medeiros Oliveira, deu as boas-vindas a todas(os) as(os) presentes, destacando a importância desse momento para o futuro da Embrapa.
 
Elisiene do Nascimento Lobo (presidenta do Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp – STU) chamou a atenção para a importância da presença feminina na luta sindical e da responsabilidade nas ações de cada uma(um) para as transformações necessárias para um Brasil melhor.
 
Dione Melo, secretária-geral do SINPAF, ressaltou a importância desse momento de resgate democrático e destacou o papel da mulher nesse processo.
 
Mário Urchei, diretor de Ciência e Tecnologia do SINPAF e vice-presidente da Seção Sindical Campinas e Jaguariúna, destacou a importância do início desse processo de diálogo democrático, valorizando as(os) trabalhadoras(es).
 
Wilmar Lacerda, chefe de Gabinete da Liderança do PT no Senado e presidente do SINPAF na gestão de 1995 a 1997, destacou o importante processo de mudança em curso na empresa que começou com a nomeação da nova diretoria. E apontou para alguns desafios, como agilidade nas negociações do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) e o fim da perseguição sindical, entre outros.
 
Clenio Nailto Pillon, diretor-executivo de Pesquisa e Inovação da Embrapa enfatizou ser filiado ao SINPAF desde seu primeiro dia de trabalho na empresa e destacou, entre outros temas, a meta de recomposição do orçamento da Embrapa. (Com informações de divulgação)