Edson dos Santos, Silvia Gatti e André Kaysel (foto Paula Vianna – adunicamp)

Da ADunicamp – Com a participação de representantes de mais 18 entidades sindicais e da sociedade civil, além de docentes de diversas unidades da Universidade, a ADunicamp realizou nesta terça-feira, 17 de janeiro, o primeiro encontro “Ação pela Democracia – Sem Anistia para os Golpistas”.

A decisão de organizar o encontro foi tomada após os atos de vandalismo e destruição dos prédios dos três poderes da República, desfechados em Brasília, em 8 janeiro, por vândalos seguidores do ex-presidente Jair Bolsonaro que, inconformados com a sua derrota nas urnas para o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pediam abertamente um golpe de estado no país.

“Diante dos fatos que vivenciamos nos últimos dias, avaliamos a importância de retomarmos os debates de defesa da democracia, que já havíamos realizado no ano passado durante as eleições”, relatou a presidenta da ADunicamp, professora Sílvia Gatti (IB).

A professora avaliou que os atos ocorridos em Brasília, e também posteriormente, mostram que há uma clara organização de forças antidemocráticas no país e que elas precisam ser denunciadas e combatidas sistematicamente. “Estamos em um momento de atuar o mais que pudermos pela democracia. Então pensamos o evento de hoje como se fosse uma retomada, uma tomada de posição da nossa associação neste momento, mas achamos importante termos parcerias nas ações, por isso convidamos sindicatos, associações, docentes e pessoas, para darmos um novo início, como um start, para repensarmos a questão da democracia, da defesa e da luta pela democracia”.

O professor Edson Joaquim dos Santos (Cotuca), diretor Administrativo da ADunicamp e que também compôs a mesa que dirigiu o evento, avaliou que “embora a decisão de realizar o encontro esteja muito marcada pelos eventos do dia 8” ela vai bem além disso. “Vemos que hoje as condições democráticas ainda estão sob ataque. E a ADunicamp não poderia deixar de se manifestar, mesmo porque essa é uma posição histórica da nossa entidade e, inclusive, a defesa da democracia e de todos os seus instrumentos foi a razão da sua fundação”.

O professor Edson destacou que a decisão de incluir, no nome do evento, a frase “Sem Anistia para os Golpistas” resultou de uma avaliação dos atos ocorridos em Brasília e também de manifestações claramente criminosas de personalidades, políticos, empresários e manifestantes – hoje sob investigação – que apoiaram as depredações e seguem apoiando ações contra a democracia.

“A ideia de trazer para esse momento o destaque da preservação da condição democrática no país não pode compactuar com essa fala de anistia para quem quer que seja que tenha articulado, atacado a democracia e defendido golpe de estado. E isso desde aqueles que reverberaram e defenderam criminosamente os atos, até os que bancaram e participaram”, afirmou o professor.

(fotos paula vianna – Adunicamp)

ESPERANÇA VERSUS VIOLÊNCIA

O professor André Kaysel, titular do CR (Conselho de Representantes) da ADunicamp pelo IFCH, fez um breve balanço das condições políticas do país hoje, com foco não só no 8 de janeiro e nos episódios recentes de ataques à democracia, mas também na conjuntura e no equilíbrio das forças políticas hoje em jogo no país.

Para o professor, o resultado das eleições de 2022 e o equilíbrio de forças dele resultante apontam para uma condição de esperanças e ao mesmo tempo de riscos e perigos para o quadro democrático brasileiro.

Ele utilizou dois episódios recentes para ilustrar sua análise. “Me coube a fortuna de estar em Brasília no dia 1°, dia da posse do presidente Lula, e também no dia 8, então pude testemunhar sobre o melhor e o pior da sociedade brasileira”. No dia 1°, lembrou, centenas de milhares de pessoas festejaram com alegria a posse de Lula, envolvendo Brasília em uma gigantesca festa alegre e democrática. Já no dia 8, os estimados apenas seis mil participantes das invasões promoveram depredações e ataques aos Três Poderes nunca antes ocorridos na história recente do país.

“No dia 1° nos emocionamos muito com a esperança e no dia 8 nos preocupamos muito com as depredações e com as ameaças que representaram e seguem representando. O perigo não foi afastado”, ponderou.

A partir dessa análise, o professor André fez um relato dos acontecimentos que resultaram na invasão e depredação dos prédios dos Três Poderes. “Importante sabermos como o dia 8 surgiu e o que podemos esperar a partir dele na conjuntura brasileira”.

Da noite do dia 7 para o dia 8, forças de segurança foram retiradas das ruas e dos palácios, lembrou o professor, e o novo governo só foi avisado na última hora. No dia 8, PM e Exército agiram de forma passiva diante dos invasores. A violência só foi controlada após a intervenção do governo Lula na Segurança do Distrito Federal e, no dia seguinte, com o afastamento do governador Ibaneis Rocha Barros, o que permitiu a desmobilização e prisão de cerca de 2.500 pessoas que permaneciam acampadas em frente ao Exército em Brasília.

“De lá pra cá muita coisa tem sido revelada e há muito ainda a ser revelado. Um fato que chama atenção é a descoberta da minuta de um decreto que propunha a intervenção no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), para anular o resultado das eleições presidenciais. Deixo claro que essa minuta não tinha nada ver com dia 8, seria para novembro ou dezembro do ano passado, mas aponta que o dia 8 fez parte de um encadeamento de ações, a partir do questionamento do processo eleitoral feito por Bolsonaro”, afirmou.

Segundo o professor, é relevante também o fato de que as portas dos palácios e do Congresso não foram quebradas, mas sim abertas, certamente por agentes das forças de segurança que estavam lá dentro e não esboçaram nenhuma tentativa de reprimir ou prender os invasores. “Então temos que reconhecer um envolvimento explícito ou implícito das Forças Armadas”.

“E como analisar? Houve uma tentativa de golpe de estado? Sem querer desconsiderar essa análise, além da malta que quebrou tudo, será que os organizadores do 8 de janeiro acreditavam que no dia 9 o governo Lula estaria deposto? Tudo indica que essa tentativa fracassada não tinha a intenção de ser bem sucedida de imediato. Parece ser parte de um processo, o começo de tentativas de uma situação de desestabilização”, destacou.

Para o professor André, uma das principais condições que precisam ser avaliadas dentro do quadro político atual é o papel das Forças Armadas. “A cumplicidade das Forças Armadas e da PM nos atos, o que acontece mesmo nos altos comandos, mostra que o governo não controla o aparelho repressivo do Estado e isso é muito sério. Houve um avanço relativo, quando o governo Lula conseguiu colocar interventor na Segurança do DF, mas as Forças Armadas seguem como uma grande pedra no sapato. Sobre a PM ainda é possível um certo controle, mas as Forças Armadas são fator decisivo numa crise aguda, pois ainda se arrogam como ‘poder moderador’”, afirmou o professor

Na avaliação de André, a relação com as Forças Armadas será um fator chave para o futuro do governo Lula e da democracia. “A crise pode ter sido abafada de imediato, mas não encerrou. Teremos que atuar num raio muito tênue de pressão popular por um lado e, por outro, em defesa, da democracia como um todo. Enfim, se alguém achava que 2023 fosse um retorno pra 2003 estava muito enganado. 2023 é outro mundo, mais interessante e esperançoso por um lado, mais perigoso por outro”, concluiu.

REFORÇAR AS AÇÕES

Representantes das várias entidades que participaram do encontro reafirmaram a importância de que as forças democráticas se mantenham unidas e mobilizadas e defenderam a realização de novos encontros como esse, com o objetivo de debater e realizar ações conjuntas em defesa da democracia.

Além de dirigentes da ADunicamp e de docentes de Unidades, participaram do encontro representantes das seguintes entidades: ADUSP, ABJD, LBS Advogados, Fórum das Seis, DEDH/Unicamp, STU, Sinteps, Coletivo Esquina da Democracia, Sintunesp, Sinergia-CUT, Sinpro Campinas, CTB Campinas, Apeoesp, Associação dos Idosos de Campinas, Rádio Noroeste, PT Campinas e PSOL Campinas.

Diante das chuvas diluvianas que despencaram sobre a região de Campinas no momento do evento, várias outras entidades convidadas pela ADunicamp justificaram a ausência, mas também reafirmaram a importância da realização do encontro e defenderam a realização de outros com o mesmo objetivo. (Da ADunicamp)