Neste sábado, 10/12, o Samba no Maneco celebra seu aniversário (um tanto inusitado), ao mesmo tempo em que marca seu retorno presencial desde o início da pandemia.
O evento, nascido nas adjacências do Parque São Quirino, zona leste da cidade, surgiu como uma estratégia de aproximação com a comunidade, num objetivo muito mais amplo de promover uma revolução cultural no seu entorno. Sempre devagarinho, como insiste Rafa Carvalho, primeiro mobilizador da roda de samba, a ideia tem demonstrado todo êxito até aqui. De lá pra cá, outras ações locais foram constituídas, como o Sarau da Dalva, a Biblioteca Comunitária, um cineclube, a produção de um documentário, inúmeras exposições de artes visuais, apresentações musicais, circenses, de dança, teatrais e performances variadas, lançamentos de livros, e ainda outras, como o Rolê das Domésticas, um trabalho de leitura, criatividade e inclusão, voltado especificamente para mulheres trabalhadoras do lar e prestadoras de serviços de limpeza em geral.
Tudo isso está hoje acolhido pelo Coletivo Cultural Comunitário Encruzilhada Estrela Dalva (CCCEED), atuação colaborativa que se estruturou ao longo desses anos todos, conectando as ações rizomáticas que foram brotando das mediações iniciais de Rafa. E os rizomas não param de nascer e avançar. A partir daí já surgiram também a Encruza, editora periférica popular, e a Trans Produtora, que atua em diversas linguagens por múltiplos diálogos com as cenas culturais locais, assim como de todo país e do mundo, propondo programações, curadorias e realizando suas iniciativas nos mais diferentes contextos. Toda essa organização, originada na periferia de Campinas, segue impulsionando produções autorais em cinema, artes visuais e música, com muitas criações e partilhas em curso. Um fluxo contínuo, mas que, com a pandemia, precisou interromper todas as suas ações presenciais, como o Maneco.
No entanto, apesar das adversidades todas, o momento estimulou sua iniciativa de ocupar melhor o espaço digital, fazendo dos últimos anos um profícuo viveiro de ações online, entre partilhas, oficinas, vivências, ciclos e rodas diversas, espaços de acolhimento, trocas de saberes, transformação e coprotagonismo. É o caso do Brilha Estrela Preta, projeto embasado totalmente na produção e fruição artística e científica de mulheres negras, coordenado por Maraisa Raquel, já uma nova geração da comunidade envolvida com todo o processo coletivo.
Rafa celebra a atuação de Maraisa e das novas gerações, enquanto considera também a relação que o samba teve e tem com todo esse processo de constituição: “Começar toda nossa ação com o samba foi uma boa estratégia sim, mas por tudo aquilo que o samba é, em si. Quando começamos, eu não tinha a mesma noção que tenho agora sobre a minha condição de pessoa negra. Sentia-me mais ligado à literatura, a uma ideia de poesia estigmatizada, limitante, sem reconhecer com a mesma precisão de hoje, a importância que teve, para mim, ser criado ouvindo os pagodes, nas faxinas com minha mãe, nos anos 90. Só depois percebi algumas coisas… a irmandade entre o samba e a poesia no Brasil, por exemplo. O samba é uma tecnologia de sobrevivência. E coletiva. A roda de samba é esse lugar de cura. Dos pés à cabeça. Trata-se de um dispositivo de emancipação e reunião para nós, de transmissão e intersecção dos saberes. Um espaço para nossas possibilidades afetivas, com pele, voz e coração; suingue e ritmo.”
Já a questão do aniversário, que pode parecer confusa, é na verdade bem simples: a primeira roda do Samba no Maneco foi em 2010, há doze anos. Mas foi a partir de 2012, juntando-se ao Pagode do Souza, expandindo para a periferia uma ação significativa que acontecia nos entornos da Unicamp e de Barão Geraldo, que o projeto passou a acontecer com uma frequência mais definida. Dali em diante, foram edições mensais de fevereiro a novembro de cada ano até 2020, quando a pandemia acabou interrompendo o ciclo. Mas não foi de vez. Mais uma vez, o samba resiste. E nesse dia 10 ele festeja tanto tudo o que já aconteceu, nesses anos todos, quanto tudo o que ainda virá. Anunciando que 2023 já vem aí. E que o Maneco, enfim, vai voltar a sambar.
O evento começa às 15h e vai até às 21h, pontualmente. No Bar do Manoel – Estrela Dalva. Conta com a participação de DJ Aline Turim, rodando alguns vinis raros de samba em sua vitrola, e com a característica roda aberta do Samba no Maneco, famosa por ser aberta realmente, espaço onde todas as pessoas podem chegar e tocar, cantar e dançar. Nesta Retomada, o evento começa também com uma nova atuação social. Pede-se que o público leve, se puder, alimentos e produtos básicos de higiene pessoal e do lar, que serão organizados e doados para famílias da comunidade, que precisem desse cuidado, nesse momento.
Samba no Maneco
Onde: Bar do Manoel – Estrela Dalva
Av. Lafayete Arruda Camargo, 767. Parque São Quirino
Telefone: (19) 3296-4912
Quando: dia 10/12, sábado, das 15h às 21h
Entrada gratuita
*com doação de alimentos e/ou produtos de higiene básica, se possível
Participação livre
Redes sociais:
Instagram: @sambanomaneco / @encruzaestreladalva
(Carta Campinas com informações de divulgação)