Do BdF
Na capital do Uruguai, Montevidéu, os coronéis do Exército uruguaio Carlos Alberto Rossel Argimon e Glauco José Yannone de Leon foram presos na última quinta-feira (08/12). O motivo? Eles integraram o grupo que sequestrou o casal Lilián Celiberti e Universindo Rodríguez e seus dois filhos, Camilo e Francesca, então com sete e três anos, em Porto Alegre, durante a ditadura militar.
Argimon e Yannone participaram da Operação Sapatos Quebrados, que sequestrou Rodríguez e Celiberti na cidade brasileira no dia 12 de novembro de 1978. Para dar certo, eles contaram com a cooperação de agentes do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) local, chefiado por Pedro Seelig, uma espécie de Fleury gaúcho, além da Polícia Federal e Brigada Militar.
O objetivo da operação era prender o secretário-geral do Partido da Vitória do Povo (PVP) do Uruguai, Hugo Cores, que estaria no Brasil.
A operação de sequestro dos cidadãos uruguaios em território gaúcho foi uma combinação entre a repressão militar do país vizinho, que agia clandestinamente no Brasil, e o DOPS do Rio Grande do Sul. No entanto, havia uma integração maior nesse esquema: a Operação Condor.
Também contou com a participação do ex-jogador brasileiro de futebol Orandir Portassi Lucas, conhecido pelo apelido de Didi Pedalada, João Augusto Rosa e Janito Keppler, todos agentes do DOPS. Além do coronel reformado Eduardo Ferro e do capitão José Bassani, ambos do Exército uruguaio.
Militares denunciados
A denúncia contra os militares uruguaios e agentes brasileiros foi realizada pelo Movimento de Justiça e Direitos Humanos do Rio Grande do Sul (MJDH-RS) no início da década de 1980. “Este é um caso muito importante para o Brasil. Há 44 anos nem imaginávamos que existisse Operação Condor. A atual condenação e prisão dos militares uruguaios só foi possível porque não houve prescrição das ações judiciais. A legislação uruguaia considera que crimes contra a humanidade – como o sequestro – são imprescritíveis”, explica o presidente da MJDH-RS, Jair Krischke, a Opera Mundi.
A primeira ação judicial contra os militares uruguaios fora aberta em fevereiro de 1984 pela equipe do Instituto de Estudos Jurídicos e Sociais do Uruguai, mas acabou arquivada posteriormente. O processo acusava os militares envolvidos de tortura, sequestro, privação de liberdade e subtração de menores. Uma nova denúncia foi apresentada em 2002, e o caso só foi reaberto quase uma década depois, em 2012.
Os dois coronéis presos na quinta-feira foram processados pela juíza criminal Silvia Urioste com base em investigação promovida pela Promotoria Especial para Crimes contra a Humanidade do Uruguai, chefiada pelo procurador Ricardo Perciballe. (veja mais AQUI)