.Por Rafael Martarello.
A música “Os mais humildes” é um rap combativo, revolucionário, que empreende abertamente crítica ao bolsonarismo, às organizações da burguesia, e de outro lado faz uma exaltação aos setores proletarizados (os humildes). Essa obra prima do rap nacional, gravado no meio de 2022 pelos rappers Nego Mancha e Goldman, só pode ser compreendida em sua totalidade a partir do contato com o videoclipe, reproduzido abaixo:
De início, o videoclipe apresenta trechos icônicos das figuras mais sórdidas do Brasil: Bolsonaro elogiando torturador e reverenciando a bandeira do imperialismo americano; Dória defendendo Bolsonaro e ressaltando o papel genocida da polícia; Mourão elogiando os 257 disparos que assassinaram com 80 tiros o músico Evaldo dos Santos Rosa que se dirigia para um chá de bebe com sua família. O fim do início do vídeo se dá com a frase “Fora Bolsonaro e todos os golpistas”.
Aqui já temos uma marca política muito importante, a adesão à campanha de retirada do Bolsonaro não por meios institucionais ou eleitorais, mas pela pressão popular. Nesse mesmo sentido, o entendimento que o golpe de 2016 ainda não está finalizado e seus agentes estão ativos. Para ambos, Bolsonaro (opressor), golpistas (traíras) e arquitetos do golpe (lavajatistas), em outro trecho do rap, é dado o recado de como é desejável que paguem: sejam liquidados por meio do bum.
Logo de cara, no início da canção, o rapper lança que ao olhar para ele, é possível ver que ele não se parece com quem está no poder. Trata-se de uma crítica a sub-representação racial em esferas de poder, mas não só, também do trabalhador periférico que se encontra afastado do poder político, institucional e econômico na sociedade burguesa.
Desse ponto em diante o rapper começa a fazer críticas que vão desde a base da acumulação e expropriação do homem dos meios de se produzir, chegando até a divisão do mundo entre os poderosos, podendo ser visto essas colocações no verso “exterminou os índios, escravizou os preto”, chegando a comentar do alcance em contaminar o “espírito que era pureza”, vale um comentário maior.
Ao falar do espírito, cito três pontos que acredito ser o que os rappers pretendiam passar na mensagem: 1) a marginalização na sociedade burguesa que empurra os indivíduos para o crime, mesmo o indivíduo sendo moralmente contra essa opção; 2) a contaminação do corpo humano, um exemplo são os psicoativos, revivo a guerra do ópio na qual o imperialismo britânico matou dezenas de milhares de chineses para impor a comercialização do ópio. Situado em solo sul-americano, nesse ponto o clipe mostra uma primeira cena com crianças com doces na mão, e na próxima cena, as crianças estão com entorpecentes.
O terceiro ponto aparece no verso em que é mencionado que o capital “dividiu o nosso povo”, isto é, criou os capachos do sistema, tão logo “nem todo hebreu quer dá fuga da escravidão”. De outro lado, por meio da maldita ideologia fez parte do nosso povo não lutar pelo fim da exploração e/ou se tornar acomodado (“Nem todo sofredor é guerreiro”). As cenas que ilustram essa letra é a aparição do Hélior Negão, Sergio Camargo e Fernando Holiday.
A linguagem utilizada nesta primeira parte da música é em muitas partes bíblica e outra característica marcante é a apresentação da luta aos moldes sul-americano, observado no verso “Uma foice, um martelo, uma cruz, um furador”.
Durante a troca da primeira para a segunda parte é colocado o discurso de militantes revolucionários de esquerda que conclamam a classe trabalhadora para a luta e para governarem.
A segunda parte da música, interpretada pelo Rapper Goldman, que manda a letra para os que não estão se movimentando, que se encontram em uma espécie de anestesia paralisante de sua pulsão de luta enquanto os preto e a população pobre tem sofrido por diversas vertentes as consequência do domínio burguês: “Tem que questionar, tem que lutar, ter consciência antes de votar”.
Mas é preciso que fique mais que claro, que a luta aqui não é filtro de foto de Facebook, o clipe exibe o povo se rebelando violentamente contra supremacistas brancos e nazistas, lembrando que, historicamente, a derrota ao nazismo não foi mediante twitters ou leis. Também aparece a queima da bandeira do PSDB quando este tentou se infiltrar em atos de esquerda. O curto prazo mostrou que foi uma atitude acertada dos militantes, o PSDB não se opôs ao Bolsonaro, ao contrário, forneceu apoio político e eleitoral para o bolsonarismo.
Outra crítica trazida logo em seguida é o combate à polícia militar, e este deve ser visto por duas perspectivas: uma racial e outra política. A primeira é clara, a música diz que “rap é contra todo capitão do mato” e aparecem as fotos do Da Cunha, do estuprador Gabriel Monteiro e de policiais da ROTA. A segunda perspectiva está implícita dentro da música, de aberto combate ao fascismo: um fenômeno da classe capitalista que se utiliza de golpes militares e de agentes policiais para preencherem suas fileiras. No Brasil esse se move por meio do bolsonarismo.
Na música há duas colocações ao bolsonarismo, e seu símbolo mor, ao falar sobre o mito, mostrando no clipe Mussolini de cabeça para baixo, diz: “Mas se é guerra, é guerra. Quer tirania? Pereça”. E em outro momento, diz “quem planejou o meu fim, certeza vai cair” e mostra no clipe o Bolsonaro levando a facada mal dada.
Finalizo ressaltando que no rap ainda tem crítica ao judiciário e à fuga de Jean Wyllys que abandonou os LGBTQIAPN+ pobres para viver na Europa do dinheiro do magnata George Soros. Também tem exaltação à Marielle Franco na frase “luto bem guardado na memória”. Além disto, em vários momentos do clipe é exibida fotos de revolucionários e atos nacionais e internacionais. Conforme mencionado, essa produção musical uma obra prima da cultura do proletário revolucionário. Parabéns meus camaradas!
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