Da RBA
A Associação dos Empregados de Furnas (Asef) – subsidiária da Eletrobras – cobrou no último dia 23 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) esclarecimentos sobre a proposta de reajuste salarial de até 3.576% para o alto escalão da empresa. A entidade afirmou ter sido surpreendida com a convocação de assembleia geral extraordinária de acionistas para votar o que classificaram como “aumentos salariais alarmantes aos diretores e aos conselheiros da companhia”, contestam os trabalhadores em nota.
A proposta foi apresentada na terça (22) pelos próprios executivos da Eletrobras privatizada. A depender do cargo, o aumento pode variar de 150% a 3.576%. No caso do presidente da companhia, Wilson Pinto Ferreira Júnior, sua remuneração poderá subir de R$ 52,3 mil para cerca de R$ 300 mil. Mas o maior aumento é no salário dos conselheiros de administração, de R$ 5.440,36 para R$ 200 mil mensais.
Os acionistas da Eletrobras já haviam aprovado o próprio aumento salarial em assembleia realizada em abril deste ano, sob o custo total de R$ 15,4 milhões.
Com a atualização do reajuste, a companhia poderá desembolsar agora mais que o dobro do valor inicial, de R$ 35,9 milhões para garantir o aumento dos executivos.
Os de cima sobem
Pela divisão, os valores dos salários, que não contemplam os encargos referentes ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), serão de R$ 35,9 milhões para os administradores, membros do Conselho Fiscal e dos Comitês Estatutários de Assessoramento ao Conselho de Administração; R$ 30,5 milhões para os membros da Diretoria Executiva; R$ 2,8 milhões para os conselheiros de administração; R$ 489.198,60 para os conselheiros fiscais e R$ 2 milhões para os membros dos Comitês de Assessoramento ao Conselho de Administração.
Os executivos justificam que, nos últimos sete anos, a assembleia geral não aplicou qualquer reajuste, permanecendo congelada a remuneração fixa de seus diretores e conselheiros. “O que teve o condão de tornar ainda mais relevante o já severo distanciamento remuneratório que separa as atuais práticas da Companhia daquelas de seus competidores e do mercado em geral”, alegam na proposta. O documento cita ainda um estudo elaborado pela consultoria Korn Ferry que recomenda um novo modelo de remuneração para a direção.
O argumento é que é preciso manter os atuais dirigentes na empresa depois da privatização, em junho. A proposta deverá ser submetida a votação na Assembleia Geral da Eletrobras. A reunião, porém, foi marcado para 22 de dezembro, às vésperas do Natal. A avaliação do diretor financeiro da Asef e do Sindicato dos Engenheiros do estado do Rio de Janeiro (Senge-RJ), Felipe Araújo, é que a data, próximo do feriado nacional, “não soa razoável”. “É preciso muito cuidado e responsabilidade para que os acionistas avaliem este pedido de reajuste de remuneração da direção da Eletrobras”, cobrou.
Os de baixo descem
A entidade também alerta que parte desses R$ 35 milhões – que custará o aumento dos executivos – também sairão do bolso dos brasileiros, já que a União mantém mais de 40% de suas ações. Araújo acrescenta que esses milhões “são o preço a ser pago à direção pela privatização” que contou com o empenho do diretor da companhia. “Wilson Pinto nunca escondeu sua insatisfação com o valor que ganhava. E ainda defende seu alto salário como meritocracia sem, no entanto, levar em consideração que a Eletrobras teve um prejuízo recente. É o espólio do tesouro nacional”, critica o sindicalista.
Ele faz referência ao primeiro balanço da empresa após a sua privatização. Ao assumir os impactos com o processos, a Eletrobras apresentou prejuízo líquido de R$ 88 mil no terceiro trimestre deste ano. Uma queda de 45% em relação ao mesmo período de 2021, quando a companhia, então estatal, lucrou R$ 965 milhões.
Plano de demissões
Os reajustes milionários para o primeiro escalão da Eletrobras também vêm sendo propostos em um momento em que a empresa tenta “enxugar gastos”, desligando cerca de 20% do quadro de funcionários. A manobra faz parte do Plano de Demissão Voluntária (PDV). Inicialmente, as demissões devem atingir principalmente os mais antigos da companhia, aposentados ou aposentáveis.
De acordo com Araújo, isso significa dispensar os trabalhadores com capacidade técnica que “detêm o conhecimento energético do país”. O engenheiro denuncia que a direção também não deu nenhum prazo para que os cérebros da Eletrobras repassem o conhecimento adquirido ao longos desses anos. O plano de demissão ainda pode se estender a outros trabalhadores em 2023. “O discurso de meritocracia só vale para quem faz parte do time da direção porque para ela o trabalhador, que gera riqueza para a empresa, não tem valor. É muito ruim ver pessoas que estão em pleno gozo de suas funções laborais quererem continuar contribuindo com a sociedade e serem descartadas desta forma”, contesta o sindicalista. (Da RBA)