Livro “Dois tempos – a epidemia de Febre Amarela e a pandemia de Covid-19 na cidade de Campinas” será lançado no dia 7 de outubro na Estação Cultura, em Campinas
As profundas distorções da sociedade brasileira tornaram-se ainda mais evidentes durante a pandemia do coronavírus. Aumento da fome, o desinteresse do Estado em levar acesso à informação segura sobre a doença a toda a sociedade, o agravamento da crise ambiental com o “passar da boiada na porteira aberta”, o aprofundamento da crise urbana, o aumento da violência contra as mulheres e o racismo são alguns dos temas que os seis primeiros livros da Coleção Caminhos e Rumos, da Ícone Editora, discutem.
Coordenada por Paulo San Martin e Rogério Bezerra da Silva, a Coleção trata de caminhos e rumos por meio da fotografia, de charges, contos, de romance histórico e de textos científicos. Afinal, são essas múltiplas linguagens com as quais todos e todas se deparam ao longo de seu caminhar. E é por meio delas que se deve para o futuro apontar.
Em “Dois tempos – a epidemia de Febre Amarela e a pandemia de Covid-19 na cidade de Campinas”, o livro 1 da Coleção, Rogério Bezerra da Silva, leva o leitor por um olhar histórico sobre epidemias e pandemias, ao abordar a cidade de Campinas (SP), a qual padeceu e sobreviveu a uma das maiores epidemias de Febre Amarela ocorridas no Brasil, ao final do Século XIX, e, decorrido pouco mais de um século, se vê novamente tendo que resistir à Covid-19. O leitor é conduzido por um paralelo histórico que compara a Campinas da Febre Amarela à Campinas da Covid-19, o qual evidencia que, mais do que distinções, o passar do tempo conserva muitas semelhanças, como as fake news, os negacionismos, os remédios ineficazes, a iminência de um golpe de Estado, dentre tantas outras existentes nesses dois tempos.
Lançamento: Estação Cultura (no bar que fica dentro da Estação; Praça Marechal Floriano Peixoto, s/n, Centro, Campinas) no dia 7 de outubro, a partir das 18h30, para percorrer esse e outros caminhos e rumos!
Livros da Coleção Caminhos e Rumos
“Mulheres Negras Sim”, o livro 2 da Coleção, Sandra Cassimiro, uma mulher negra sim, trata de coletivos de mulheres negras, de como se reformularam, se adequaram e se instrumentalizaram durante a pandemia para fazer a diferença.
Notadamente, foram as mulheres negras, que estão na base da pirâmide socioeconômica brasileira, as mais impactadas pela pandemia. Foram elas, chefiando seus núcleos familiares e vivendo em espaços prejudicados e carentes de políticas e equipamentos públicos, ainda mais sobrecarregadas e atingidas pela Covid-19. E, em meio a isso, convivendo com dicotomias: tanto a primeira vítima fatal como a primeira pessoa vacinada no Brasil são mulheres negras.
O livro 3, “Quando todos os dias foram domingo”, de Cassia Janeiro, reúne contos. Em cada um deles, a autora, que se diz uma colecionadora de eventos, sensações, sentimentos e palavras, aborda uma questão que, de certo modo, ficou ainda mais salientada na pandemia: a relação familiar dentro de casa.
Seja a violência, inclusive infantil, que aumentou assustadoramente, seja a solidão entre os casais e mesmo o suicídio, cada um dos contos leva o leitor a refletir sobre a sociedade em que vive, especialmente nesses tempos em que o isolamento social foi tratado como política pública em âmbito mundial. São narrativas de uma contista sobre a vida intramuros, escritas durante a pandemia de Covid-19 que assombrou e ainda nos assombra.
O livro 4, “Agricultura na cidade – o cultivo de alimentos e do comum pelas mulheres”, de Laura Martins de Carvalho e Márcia Tait Lima, é um chamado à proposição de outro paradigma (ou paradigmas) que se apoie em práticas sociais coletivas emergentes, nas “utopias concretas” que já existem no presente e apontam para outros futuros possíveis e desejáveis.
No livro, as autoras partem do contexto pandêmico e da crise na qual o planeta ainda está imerso para propor caminhos e rumos que preservem a vida. Caminhos que nascem do pensar e do agir desde um horizonte do “comum” e da práxis coletiva nos espaços urbanos, que se dá em torno da produção do alimento, do co-construir comum (por consciência ou necessidade, ou ambas), e da colaboração na gestão de espaços para a produção em hortas urbanas comunitárias em grandes cidades, com ênfase na de São Paulo.
A arte, como processo de transgressão da realidade, não ficou de fora dos Caminhos e Rumos. Por isso, o livro 5, “A Epidemia que ninguém vê – violência contra mulheres em meio à pandemia do coronavírus”, de Stella Pinheiro e Júlia Zulian, é justamente um ensaio fotográfico que evidencia os efeitos da pandemia para a sociedade. Nele, as autoras mostram aquilo que muitos não veem ou que não querem ver: as violências contra as mulheres, agravadas ainda mais pela pandemia.
Isoladas em casa, mulheres foram obrigadas a passar mais tempo com seus agressores. Sem rede de apoio, muitas vezes em ambiente precário, sobrecarregadas com tarefas do lar, filhos sem poder ir à escola, vendo sua renda diminuir ou até mesmo ficando sem renda alguma. A pandemia da violência contra a mulher tomou conta dos lares.
A linguagem e práticas extremistas que afloraram recentemente na política brasileira, especialmente durante a pandemia, têm precedentes históricos mundiais. Em “Dachau nunca mais”, o livro 6 da coleção, Paulo San Martim e Paulo Cardoso mostram a história real de dois famosos músicos austríacos que viveram, em diferentes tempos, o surgimento e as chagas deixadas pelo nazismo na Europa. Os relatos evidenciam as perigosas semelhanças que pontuam com o extremismo política atual no Brasil.
Mas, como nos mostra o livro, depois de se percorrer os caminhos das crises civilizatórias profundas, há de se rumar para uma direção em que se possa festejar com muita música, comunhão, apertos de mãos, abraços, o passado superado por muita luta e pela união daqueles que querem partilhar um futuro em comunhão.
Paulo San Martim e Rogério Bezerra da Silva – Coordenadores da coleção