Em São Paulo – Pode ser vista até o dia 28 de fevereiro de 2023 na Pinacoteca de São Paulo, a mostra Jonathas de Andrade: O rebote do bote, a mais abrangente exposição do artista organizada até o momento. Com curadoria de Ana Maria Maia, curadora-chefe da Pinacoteca de São Paulo, o projeto, que ocupa o quarto andar da Pinacoteca Estação, oferece ao público um panorama da produção realizada por Jonathas durante os últimos quinze anos.
Dividida em três salas, cada qual pensada como um núcleo conceitual, a mostra apresenta a produção deste artista que se dedica a construir abordagens e vivências, nas quais o acesso ao outro e às diferenças é motivado pelo desejo e, consequentemente, também carregado de performances do poder, disputas e questões éticas. “A ideia era percorrer momentos diferentes da carreira de Jonathas de Andrade, mas sem necessariamente criar uma cronologia. Pensamos em grandes temas, mas o fio condutor foi entender os aspectos dessas relações que ele propõe com pessoas, com colaboradores, personagens dos trabalhos”, afirma Ana Maria Maia.
Na sala 1, intitulada “Corpo para Jogo”, a narrativa da mostra começa apresentando a sexualidade em um conjunto de obras que incorrem em tematizações da masculinidade e do homoerotismo. Vemos suas passagens por cidades, arquivos e histórias e, por meio delas, percebemos que a busca desse corpo é a todo tempo carregada de perigos e promessas.
Na sala 2, intitulada “Jogos de Corpos”, existe uma reflexão sobre as dinâmicas de alteridade, dotadas de mecanismos de escuta, colaborações e resistência. O artista costuma refletir sobre questões laborais e negociações constantes de lugares, agências e memórias sociais. Representado no exercício de sua ocupação, o trabalhador encontra formas de resistir ao olhar fotográfico; sua excelência no manejo do ofício torna-se ferramenta para tensionar o fetiche e disputar a direção da cena.
O destaque fica por conta da obra inédita Museu da Caravana do Nordeste (2022), que funciona como um desdobramento da obra Cartazes para o Museu do Homem do Nordeste (2013)[pp. 7, 102-105], adquirida para o acervo da Pinacoteca pelo Programa de Patronos da Arte Contemporânea, em 2017, e atualmente em exposição na apresentação do acervo do museu.
Também se destaca a obra Teatro das Heroínas de Tejucupapo (2022), em primeira exibição no Brasil e que apresenta uma encenação da batalha ocorrida no séc. XVII, na Zona da Mata de Pernambuco, na qual tropas holandesas foram expulsas do vilarejo por um grupo de mulheres. A presença desse trabalho nessa sala abre caminhos para pensar a questão de gênero, que na história e na pesquisa estética de Jonathas é predominantemente abordada por um viés da masculinidade.
A sala 3, intitulada “Escalas de devoração”, aborda o jogo tenso de convívio e cuidado, preservação e saque, nos âmbitos sociais, institucionais e ambientais. A curadoria provoca um encontro de obras de tempos distintos. A peça Nostalgia, sentimento de classe (2012) traz o tema da arquitetura modernista, que por um bom tempo foi amplamente explorado pelo artista. A instalação discute a ideia de que, quando o patrimônio arquitetônico não é tratado como um bem coletivo, ele só resiste como fetiche, como posse. A obra envolve as paredes externas da sala do vídeo Nó na garganta (2022), obra comissionada e produzida pela Fondazione In Between Art and Film, que fez parte da instalação Com o coração saindo pela boca, exibida no Pavilhão do Brasil na 59a Bienal de Veneza. Nele, se estabelece uma relação limítrofe entre os cuidadores de um zoológico e diversas cobras.
Nessa sala é também apresentado o projeto Decalque Estilhaço (2022), o primeiro exercício de autorrepresentação na carreira de Jonathas, que sempre se dispôs a mostrar a figura do outro e do coletivo. A obra evoca o começo de um processo criativo no qual colocar-se em cena, tornar-se imagem, é parte do exercício artístico e político de se implicar.
A mostra terá um catálogo bilíngue, que será vendido nas lojas físicas e on-line do museu. A Pinacoteca ainda produzirá um vídeo e um tour virtual para serem disponibilizados ao público no site do museu ao longo da exposição.
Jonathas de Andrade (1982, Maceió) vive e trabalha na cidade de Recife. Em quinze anos de carreira, criou obras que revisitam imaginários socioculturais, sobretudo referentes à região Nordeste do Brasil, e trazem à tona questões de gênero, classe e raça, com frequência apropriando-se, como suporte, da fotografia, de vídeos, de instalações e de coleções. Já realizou mostras solo em diversas instituições, como The Power Plant, no Canadá; New Museum, em Nova York; Museu de Arte de São Paulo (Masp); Alexander and Bonin Gallery; Museu de Arte do Rio; Instituto Banco Real; Fundação Joaquim Nabuco; Musée d’Art Contemporain de Montréal; e Kunsthalle Lissabon, em Lisboa.
Participou de residências artísticas em Darat al Funun, Amman, na Jordânia; Wexner Center for the Arts, Columbus, Estados Unidos; Gasworks / Train Residence Programme, Londres, Inglaterra; Casa Maauad, Cidade do Mexico; e A Tale of a Tub, Rotterdã, Holanda. E esteve em mostras coletivas como a 29a e a 32a Bienal de São Paulo; Sharjah Biennial 13; 12a Bienal de Lyon, na França; 2nd New Museum Triennial, em NY; 7a Bienal do Mercosul, em Porto Alegre; 10th Gwangju Biennale, na Coreia; 32a Panorama da Arte Brasileira; When Attitudes Became Form Become Attitudes, CCA Wattis Institute for Contemporary Art, em San Francisco; Histórias Mestiças, Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo; 12a Bienal de Istambul, na Turquia, entre outras.
Jonathas de Andrade: O rebote do bote
Período: 24.09.2022 a 28.02.2023
Curadoria: Ana Maria Maia
Edifício Pina Estação
Largo General Osório, 66, São Paulo, SP, 4o andar
De quarta a segunda, das 10h às 17h
Gratuitos todos os dias
Ingressos no site ou na bilheteria da Pinacoteca
Tel 11 3335.4990
(Carta Campinas com informações de divulgação)