Da ADunicamp

O “Seminário de Comunicação Sindical – Mídia e Política no Século XXI”, realizado pela ADunicamp em parceria com o Núcleo Piratininga de Comunicação, foi iniciado nesta quinta-feira, 19 de maio, com as primeiras palestras sobre o tema da “Comunicação no Século XXI”.

(foto adunicamp – div)

O Seminário é realizado de forma híbrida e tem 60 participantes inscritos de forma presencial, no auditório da ADunicamp, e outros 140 online, um grande número deles/as integrantes de entidades sindicais, da sociedade civil organizada e de movimentos sociais. As palestras também ocorreram de forma híbrida, com palestrantes participando presencialmente ou online.

“A disputa entre nós, comunicadores sindicais e a grande mídia, a mídia burguesa, existe, é latente e diária. E hoje, não tão latente assim, muito pelo contrário, é a nossa disputa diária contra a desinformação promovida inclusive pelo atual governo federal”, afirmou o coordenador de Comunicação da ADunicamp, jornalista Fernando Piva, que saudou os participantes e fez a fala de abertura do Seminário.

Para Fernando, a situação atual do país, faz com que a comunicação sindical seja obrigada a ultrapassar os muros que cercam as suas bases. “Hoje, faz parte das nossas lutas diárias a defesa da verdade, o combate à fake News e, acima de tudo, a defesa da nossa democracia”, afirmou.

A coordenadora do Núcleo Piratininga, Cláudia Santiago, apontou o “caráter inédito” do Seminário, que foi aberto para representantes de entidades de todas as categorias e para profissionais de todo o país. O Piratininga, lembrou ela, costuma realizar frequentes seminários sobre mídia sindical e popular, mas sempre dirigido a determinadas categorias ou movimentos sociais.

“Temos um desafio muito grande da comunicação neste momento. Necessidade urgente que a gente tem, pois não existe ação sindical sem comunicação. E a encrenca que a gente está metida, do ponto de vista da comunicação, é o mundo da internet. Como é que a gente está lidando com essa história. E é disso que a gente vai falar bastante aqui, nas próximas mesas”, antecipou Cláudia.

A presidenta da ADunicamp, Sílvia Gatti (IB), que mediou a Mesa de Abertura, afirmou que a ideia de realizar o Seminário nasceu a partir da proposta de “termos uma comunicação mais arrojada e de atingir objetivos” tanto no âmbito interno da Universidade quanto com o público externo.

Para Sílvia, é fundamental que as entidades sindicais e movimentos sociais busquem uma comunicação ampla com o conjunto da sociedade. “A pauta da imprensa tradicional esquece questões essenciais para o país. Precisamos levar a informação real. Muitas vezes perdemos muito tempo com as pautas que são impostas a nós, esquecendo as coisas essenciais”, avaliou Sílvia ao comentar a importância de encontros e debates como os propostos no Seminário.

OS DESAFIOS

A primeira Mesa do Seminário apontou os principais desafios que a comunicação sindical, popular e democrática enfrenta com o advento das novas tecnologias e o controle em escala global dos meios de comunicação.

O primeiro palestrante, o sociólogo e jornalista Laurindo Lalo Leal, professor aposentado da ECA/USP e diretor do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, questionou alguns dos modelos de comunicação e participação de entidades sindicais com suas bases e defendeu que novas formas de ação precisam, e já começam, ser gestadas, inclusive graças à utilização ampla das novas tecnologias.

Lalo relatou a experiência recente das eleições na ABI (Associação Brasileira de Imprensa), na qual ele participa do Conselho Deliberativo, como uma dessas experiências a serem ampliadas e seguidas. “Até essas eleições, as diretorias da ABI eram integradas em sua maioria por jornalistas do Rio de Janeiro. E as ações eleitorais também se limitavam ali”, apontou. Nas últimas eleições, a chapa vencedora, a Chapa 2, mudou totalmente esse modelo e passou a realizar plenárias e encontros virtuais com profissionais de todo o Brasil, às vezes com mais de 100 participantes.

“O que vimos foi a vitória do ‘chão-de-fábrica’. Profissionais antes isolados, ‘representados’ pelas diretorias passaram a ser ‘representantes’ a ter voz, a decidir”, relatou. Para Lalo, esse novo modelo de representação e de atuação é fundamental para ampliar de fato a comunicação dos sindicatos com suas bases. “A novidade é um processo de interação, participantes com direito à voz, foram ouvidos e levados em consideração. Foi criado um entusiasmo que nunca vi nos movimentos sindicais da área da comunicação”.

O professor e coordenador do Observatório da Mídia da UFES (Universidade Federal do Espirito Santo), Edgard Rebouças, também diretor da Intercom (Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação), afirmou que os grandes problemas que apontam no século XXI não têm nada de novos. “São mutações de algo que já vinha acontecendo, que já vem acontecendo”, como a grande concentração, o uso abusivo e a falta de transparência e democratização das corporações de mídia.

“O novo fenômeno que se propalou muito forte no início dos anos 2.000 é o uso das tecnologias por pessoas que não tinham acesso a elas”, relatou. E, para ele, a questão que se coloca são os “usos, abusos, e mau/mal usos” dessas tecnologias, de forma intencional ou não. Grande parte da população, como o “tiozão do zap”, jovens e crianças” não foram e não estão preparadas para utilizá-las, ao mesmo tempo em que as grandes corporações, hoje globalizadas, as “utilizam de formas perversas”.

“O uso que as pessoas têm feito é que nos trazem a preocupação. A quantidade não conduziu à qualidade. A produção e reprodução crescente do fluxo de conteúdos acabaram gerando, entre outros, desinformação intencional ou não. Infodemia, discursos de ódio, generalização e naturalização da discriminação. Uma sociedade incivil, isolada”. E, para Edgar, o que tem que ser discutido hoje são os meios para enfrentar esses problemas, inclusive com a criação de mecanismos efetivos de regulação das grandes plataformas.

A jornalista Bia Barbosa, especialista em direitos humanos pela USP, mestra em Gestão e Políticas Públicas, pela FGV-SP, e integrante do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social e da Coalizão Direitos na Rede, iniciou sua palestra seguindo a linha das questões apontadas por Edgar.

“Estamos no século XXI com problemas do século XX que ainda não foram resolvidos. A internet tem causado tremendo impacto e traz ameaças de curtíssimo prazo, mas não podemos esquecer uma agenda que não foi resolvida, a concentração dos meios de comunicação no Brasil. Os principais canais e sites da internet são os dos grandes conglomerados, redes de televisão e jornais, que ainda formam a opinião da maioria da população”, apontou.

Para Bia, a relação entre mídia e religião, que só tem se fortalecido nos últimos 20 anos, assim como a proliferação de programas policialescos que incitam a violência, reafirmam a ausência das diversidades regional, étnico-racial, de classe e de orientação sexual. “O pouco que se avançou nessas áreas foi à custa de muita luta. E as clássicas violações dos direitos humanos seguem propagadas sem controle nas emissoras”.

“O grande desafio é como enfrentar os novos desafios, sem deixar de olhar esses desafios passados”, pois, lembrou Bia, a maioria da população segue se informando pela televisão. “Milhões de brasileiros ainda tem acesso extremamente limitado à internet, com acesso apenas às redes sociais pelo telefone. E a internet é bem mais que as redes”. Por isso, para ela, é indispensável enfrentar também o desafio da democratização da internet. (Da ADunicamp)

O SEMINÁRIO

O Seminário prossegue nesta sexta-feira, 20 de maio, a partir das 9h, com as mesas Comunicação no Século XXI – Internet, Polifonia, Controle Social e Possibilidades Emancipatórias; Comunicação Sindical na Década de 20 do Século XXI – nos locais de trabalho e de forma remota; e, por fim, Outra Comunicação é Possível nos Bairros e nas Ruas. Nos próximos dias, a integra do Seminário estará disponível no canal do Youtube da ADunicamp.