Em São Paulo – O Grupo Redimunho de Investigação Teatral encena a sua versão de Woyzeck, propondo o que está chamando de uma dramaturgia adjacente, onde se estabelece a “desterritorialização” simbólica do clássico alemão, o espetáculo é baseado integralmente no texto inacabado do jovem dramaturgo alemão Georg Buchner, morto em 1837 aos 23 anos. A encenação tenta trazer questões de nosso tempo sem rupturas estruturais da obra Bucheriana.
Woyzeck representa, não só o novo projeto do Grupo Redimunho, mas, sobretudo, a consolidação de uma experiência que marca mais de 17 anos de existência e consequentemente seu amadurecimento artístico, forjado na experimentação cênica e na troca de saberes entre artistas que carregam o objetivo de pesquisar a condição humana, utilizando como elemento norteador, entre outros, a narrativa de João Guimarães Rosa.
A partir de reflexões sobre a vida no campo e o próprio destino do trabalhador, também muito bem definidas no texto de Georg Buchner é que o coletivo baliza suas experiências e as coloca em contraponto com a vida nos tempos atuais, tratando dos aspectos políticos, sociais e culturais, propondo em metáfora um teatro que precisa transpassar a lógica do entretenimento.
A dramaturgia, além da obra
Foi da dramaturgia de Georg Buchner, que brotou de forma muito objetiva um pensamento mais afiado sobre o que estamos chamando de disputa do imaginário e do que acreditamos ser um mundo mais justo, mais honesto, mais verdadeiro e mais voltado para a ocupação do tempo e espaço, com mais autonomia pelos homens e mulheres, sejam eles do campo ou da cidade, podendo, desse modo, disputar o pensamento que concentra a reflexão sobre o humano que habita nossa sociedade.
A obra fragmentada de Georg Buchner é intercalada pelo texto adjacente de Rudifran Pompeu que promove um preenchimento reflexivo a partir do que surgiu nas infindáveis discussões do processo investigativo do coletivo, e que levantou e trouxe para a cena inúmeras questões de nosso tempo, mas que parecem ainda ser reminiscências de quase 200 anos atrás.
Com muitos atores e musicistas no palco, a peça promove para o espectador um ambiente desenvolvido a partir do universo simbólico que a obra e o local de apresentação, a Ocupação 9 de Julho, oferecem.
“A discussão e reflexão que envolvem as temáticas do espetáculo são de grande relevância para nossa atual conjuntura política e social. Queremos proporcionar por meio desse espetáculo o encontro de existências ameaçadas, de indivíduos, personagens, cidadãos, que indagam suas ruínas”, diz o coletivo.
“Falamos sobre uma sociedade de exílios e medos, sufocada e estrangulada pela superfície. As liberdades de outrora possuíam o simbólico do encontro e da troca, da fraternidade, que agora são legadas à inanição. O acúmulo sucessivo de exclusões, de prisões arbitrárias e de crimes contra os direitos civis é um dos retratos mais lúcidos do contemporâneo, escancara não só a situação de crueldade daqueles que vivem à margem e que perderam o seu lugar no mundo, mas também a face embaçada do mundo que os perdeu”.
“Estamos diante de uma sociedade acometida por constantes demonstrações de ódio, afloramento este que não implica apenas na miséria dos discursos e na pobreza das opiniões, com suas ofensas e agressões cotidianas, mas algo muito mais grave que é a ausência de diálogo. A crise institucional e o desgaste no emprego de termos como “esquerda e direita”, por exemplo, além de não abarcar a confusão no horizonte das ideias, tem apequenado e fortalecido as fronteiras de uma divisão que é alimentada às cegas, recriando em bases sólidas o avanço do fascismo”.
Trata-se também de trabalhar a cena de uma certa esperança que habita sobretudo naqueles que não encontraram consolação para seu apartamento do mundo, criando uma perspectiva alternada de um exílio intermitente que pode, talvez, alcançar uma nova forma de ver. Se a morada dessas existências é o desabrigo ou a luta nos acampamentos e territórios ocupados, a tragédia de não ter lugar no mundo chama a atenção para as outras tragédias originadas pela (auto) expulsão simbólica da vida e do direito à cidade.
O espetáculo será realizado em um campo de muitas lutas, a simbólica “Ocupação 9 de Julho” do MSTC (Movimento Sem Teto do Centro), movimento parceiro desde nosso último espetáculo “Siete Grande Hotel: a sociedade das portas fechadas”, completam.
Uma pandemia no meio do caminho…
“O grupo chegou à sua adolescência no meio de uma das maiores crises sanitárias e econômicas da história brasileira e, assim como todos, tivemos que assimilar e entender a atual conjuntura, a fim de ordenar alguma possibilidade de futuro e de novas maneiras para navegar em águas tão turbulentas e desconhecidas. Portanto, para mirar um horizonte à frente, nossa proposta é um misto de compasso de espera e de ação, onde seguimos cuidadosos com o momento preocupante de saúde pública, mas focados em construir uma estética que tenha a força de suprir as necessidades inerentes da pesquisa, proporcionando, dessa maneira, a continuidade de um trabalho que pretende refletir um plano, no qual o fenômeno teatral se coloque com vigor na disputa do pensamento da cidade, principalmente, no sentido que corresponde a crise sanitária de questionar a vida pautada pela lógica do capital que, de forma avassaladora, acaba regendo as leis do mercado na sua ânsia por abarcar a própria existência humana.
O que se busca, enquanto pressuposto básico para a construção de um mundo possível é a fricção das forças que habitam a sociedade na qual estamos inseridos e que neste momento se evidenciam e se escancaram diante da peste covid-19, ampliando visivelmente o enorme abismo entre as classes, expondo mais cruelmente as já existentes inúmeras injustiças sociais, promovendo de forma avassaladora uma proposta de necropolítica e genocídio, executado violentamente pelo atual governo brasileiro”.
SINOPSE
Woyzeck é um soldado alemão da mais rasa patente, naturalmente apático e perturbado, estrangulado socialmente por sua condição econômica que o relega à margem da sociedade local. Excluído e oprimido pelas diversas forças que regem o sistema no qual está inserido, ele, aparentemente sem saída, perde totalmente sua capacidade de reagir diante das situações limites provocadas pelo seu capitão e o médico do quartel, de tal forma que a sua ruína mental é inevitável.
“Woyzeck, uma desterritorialização em curso”
Temporada: Estreia dia 01 de Maio
Domingos e Segundas às 19h | Até 25 de Julho
Local: Ocupação 9 de Julho (MSTC)
Rua Álvaro de Carvalho, 427 – Bela Vista – São Paulo
Ingressos: R$ 30,00 (inteira), R$ 15,00 (meia)
Bilheteria estará aberta 1h antes do início do espetáculo
Classificação indicativa: 14 anos
Capacidade: 60 Lugares | Duração: 150 min
Estacionamento ao lado. Próximo às Estações República e Anhangabaú de Metrô
Ficha técnica
Direção e Dramaturgia: Rudifran Pompeu
Assistência de Direção: Jandilson Vieira
Direção Musical: Luis Aranha
Artistas Criadores:
Amanda Preisig, Anísio Clementino, Breno Carvalho,Bruna Aragão,Caio Silviano,Carolina Moreira, Danilo Amaral, Flávia Teixeira, Giovanna Galdi, Jandilson Vieira, Keyth Pracanico, Luis Aranha, Luiza Torres, Neide Nell, Patricia Borin, Pedro Felício, Pedro Poema, Tatiana Polistchuk, Alexandre Mello, Marcus Martins, Ivan Forneron e Rafael Ferro.
Elenco do Espetáculo:
Amanda Preisig, Anísio Clementino, Breno Carvalho,Bruna Aragão,Caio Silviano,Carolina Moreira,
Danilo Amaral,Flávia Teixeira, Giovanna Galdi, Jandilson Vieira, Keyth Pracanico, Luis Aranha,
Luiza Torres, Neide Nell, Patricia Borin, Pedro Felício, Pedro Poema e Tatiana Polistchuk.
Preparação Vocal: Cor e Voz / Ana Terra Ikeda
Pesquisa e Consultoria Literária: Ivan Forneron e Marcus Martins
Iluminação: Lui Seixas
Técnica de Iluminação: Guilherme Soares, Léo Xymox, Oubi Inaê Kibuko
Apoio Técnico Ocupação 9 de Julho: Júnior e Tiago Manoel
Cenários e figurinos: Grupo Redimunho
Produção: Giovanna Galdi e Bruna Aragão
Assessoria de imprensa: Rafael Ferro
Produção Visual e Site: Danilo Amaral
Ilustração: Pedro Felício
Mídias Sociais: Bruna Aragão e Flávia Teixeira
Produção teaser: Fuzuê Filmes – Cibele Appes, Lucas Kakuda e Márcio Nascimento – Som direto: Jefferson Santos
Fotos: Jardiel Carvalho
(Carta Campinas com informações de divulgação)