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Existências marginais: Theatro Municipal apresenta as óperas ‘Navalha na Carne’ e ‘Homens de Papel’, de Plínio Marcos

Em São Paulo – O Theatro Municipal de São Paulo apresenta em abril duas óperas de Plínio Marcos: Navalha na Carne e Homens de Papel. Ambas as montagens são as primeiras óperas encomendadas especialmente pelo Municipal. Apresentadas em double bill, trazem textos icônicos da dramaturgia brasileira, que se debruçam sobre existências vistas como marginais, tanto nos anos 60, em que tais peças foram escritas, quanto atualmente.

(Foto: Stig Lavor)

As apresentações ocorrem de 8 a 10 e de 12 a 14 de abril e contam com a participação da Orquestra Sinfônica Municipal, sob a batuta do maestro Roberto Minczuk e do Coro Lírico, sob a regência do maestro Mário Zaccaro. Com os ingressos entre R$30 e 120 reais, a classificação é de 12 anos.

“As obras de Plínio Marcos tiveram papel fundamental na história do teatro brasileiro, visto que ele foi um dos primeiros dramaturgos a registrar a vida de camadas mais marginalizadas da sociedade, até então pouco retratadas no palco de maneira incisiva e contundente, como protagonistas de uma peça. Trazer os textos do Plínio para o universo da ópera não só atualiza questões inerentes ao nosso contexto como amplia o repertório do Theatro, com duas importantes obras especialmente comissionadas para esse projeto. Desse modo, reafirmamos nosso compromisso com o fomento à criação de obras contemporâneas”, afirma Andrea Caruso Saturnino, diretora geral do Theatro Municipal de São Paulo.

A ópera Homens de Papel, composta pela violonista venezuelana Elodie Bouny, é originalmente uma peça de teatro de Plínio Marcos, escrita em 1968 durante o período da ditadura militar. A história retrata um grupo de catadores de papel, que fomenta uma revolta contra o homem que, ao comprar-lhe o papel coletado pelas ruas, “rouba no peso e no preço”, para revendê-lo, mais tarde, para uma fábrica. Eleva-se, assim, a partir dessa “sociedade” de catadores de papel, uma metáfora do poder pelo poder, que aprisiona explorador e explorado a um sistema desumano de luta pela sobrevivência.

“Uma das principais tarefas que eu tenho na direção dessa peça é, em primeiro lugar, adaptar a linguagem do teatro e da ópera. A ópera possui uma espécie de lente de aumento que faz com que as coisas sejam mais alegóricas, mais simbólicas e menos realistas. O espectador que irá ao Theatro Municipal se deparará com uma peça dura, áspera e sem muita alegria, visto que o objetivo principal é retratar essas pessoas que levam uma vida muito endurecida”, afirma José Henrique de Paula, diretor cênico da ópera.

“A obra é uma ópera de coletividade, assim como os protagonistas que são os Homens de Papel. Nesta peça podemos trazer o entorno do Theatro Municipal para dentro do palco, já que hoje em dia o local se tornou um ponto de encontro dessa população marginalizada, por questões socioeconômicas e urbanísticas”, completa José Henrique.

Já a ópera Navalha na Carne, composta pelo professor e pesquisador Leonardo Martinelli, será apresentada em ato único. A obra, criada em 1967 por Plínio Marcos, também sofreu com a censura da ditadura militar, e trata da relação entre três personagens principais: Neusa Sueli, a prostituta; Vado, o Cafetão e Veludo, um funcionário do hotel em que os personagens estão.

Na trama, Neusa Sueli se encontra em um quarto de hotel junto a Vado, que a acusa de não entregar todo o dinheiro que ela devia a ele. Os dois entram em enfrentamento, porém descobrem que haviam sido roubados por uma terceira pessoa, Veludo. Os três possuem uma posição de domínio que se alterna com uma de fraqueza, sofrendo alterações durante a peça e escancarando a miséria humana e as injustiças que eles sofrem.

“A peça em si é uma metáfora para os mecanismos de poder e relações entre as classes sociais em uma disputa entre elas mesmas, reflexo do que observamos até hoje na sociedade. A obra simboliza a população marginalizada e que se encontra em uma situação de violência, opressão e na batalha entre elas e a sociedade”, afirma Fernanda Maia, diretora cênica da peça.

Como complemento da programação, haverá uma exposição gratuita em homenagem a Plínio Marcos, na Praça das Artes, entre os dias 8 de abril e 8 de maio. A mostra exibirá painéis, manuscritos, reproduções de matérias em jornais, fotografias – fragmentos da trajetória atribulada do dramaturgo, incluindo um embate com a censura da ditadura militar.

NAVALHA NA CARNE
de Leonardo Martinelli

Ópera em ato único a partir da peça de teatro de Plínio Marcos.

Orquestra Sinfônica Municipal

Coro Lírico

Roberto Minczuk, direção musical e regência

Fernanda Maia, direção cênica

Luisa Francesconi, Neusa Sueli

Fernando Portari, Vado

Homero Velho, Veludo

Bruno Anselmo, cenografia

Fran Barros, iluminação

João Pimenta, figurino

HOMENS DE PAPEL
De Elodie Bouny

Ópera em dois atos a partir do texto de Plínio Marcos adaptado por Hugo Possolo.

Orquestra Sinfônica Municipal

Coro Lírico
 

Roberto Minczuk, direção musical e regência

Zé Henrique De Paula, direção cênica

Solistas do Coro Lírico

Bruno Anselmo, cenografia

João Pimenta, figurino

Ingressos R$30,00 a R$120,00

Classificação 12 anos

Duração total aproximadamente 3 horas (com intervalo)

EXPOSIÇÃO PLÍNIO MARCOS – Teatrólogo Brasileiro

08 ABR a 08 MAI – abertura, às 18h

segunda a sexta – 10h às 19h

sábado – 10h às 16h

Sala de Exposição – Praça das Artes

Grátis

(Carta Campinas com informações de divulgação)

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