Alunos do curso de Arquitetura e Urbanismo da USF (Universidade São Francisco) estão protestando contra a redução da qualidade do curso com redução de carga horária, além de demissão de professores. Segundo os alunos, esse e outros problemas acontecem nas três unidades que tem o curso. Veja abaixo o manifesto que os alunos estão divulgado:
Por Representantes do Corpo Discente da USF, e União Estadual dos Estudantes – SP

O curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade São Francisco vem sofrendo alterações problemáticas, das quais o ensino superior em nosso país também vêm sendo vítima, o processo de mercantilização do ensino, em que a universidade busca ter muitas ofertas de cursos sem priorizar a efetiva qualidade dos mesmos, mas sim garantir um serviço rápido, visando vender diplomas e não garantir a ampliação do conhecimento.
O curso está sendo afetado nas 3 unidades em que ele é oferecido, Bragança Paulista, Itatiba e Campinas, essa situação vem se desenhando há um tempo, com diversas queixas por partes dos alunos e gerando um sentimento de desconforto geral e descaso da administração da universidade para com os alunos. Neste cenário os estudantes vêm se movimentando há algumas semanas, se reunindo para discutir as diversas problemáticas que os assolam, mas principalmente em uma mudança de extrema importância, o modo como o Trabalho Final de Graduação (TFG) será aplicado daqui para frente.
Os estudantes se queixaram de uma redução na grade horária do curso que efetivamente causa um esvaziamento do aprendizado e deixa aulas apenas em 4 dias na semana por toda a graduação, cortando matérias essenciais para a formação do arquiteto urbanista sem que os conteúdos estivessem verdadeiramente distribuídos em outras matérias. Somado a um crescente número de demissões de professores e professoras de excelência que eram orientadores de diversos projetos de conclusão de curso, deixando toda uma gama de alunos desamparados no último semestre de sua graduação, além de que a nova proposta de TFG foi aplicado no meio do processo de trabalho.
Demonstrando a gravidade da situação, paixão que os alunos têm pela sua universidade e o desejo de manter a USF com a qualidade de ensino que os alunos e professores merecem, uma aluna do último ano nos deu um depoimento acerca da situação:
“Antes de mais nada, a gente precisa entender que o curso de arquitetura e urbanismo não é igual aos outros cursos, como as engenharias, por exemplo. Ela não cabe dentro de uma fórmula ou uma equação a ser seguida.
Como disse Le Corbusier, ‘arquitetura é um estado de espírito e não uma profissão’. E o que isso significa? Significa que o arquiteto e urbanista precisa aprender muito mais do que regras para construir quatro paredes. Nós precisamos aprender a ler o ser humano, a pensar no coletivo, aprender a enxergar como nossos projetos irão afetar a vida e os sonhos das pessoas.
É por esse motivo que o método de atelier é extremamente importante para o nosso curso. Não temos como aprender a ter esse olhar que o arquiteto e urbanista necessita sem o contato e convívio com o nosso mestre (professor).
Quando eu entrei na São Francisco, em 2017, o curso tinha exatamente essa visão. Me lembro de ficar encantada com a dedicação e entrosamento com que a coordenação e professores trabalhavam. Tenho amigos em outras instituições, e a maioria deles sempre reclamava de seus professores, ou por sentirem que faziam de tudo para reprovar o aluno ou por não terem didática e não oferecerem um bom ensino. E eu sentia orgulho em dizer que não passava pela mesma situação, que todos os meus professores, contando com a coordenação, eram excelentes.
Um momento marcante pra mim foi quando o MEC visitou a instituição para fazer o reconhecimento do curso, eu fui uma das escolhidas para conversar com as representantes. Estávamos em aproximadamente 20 alunos de semestres diferentes, e quando perguntado sobre o diferencial da faculdade, a resposta foi unânime: a relação entre aluno e professor.
Infelizmente, estou no último semestre do curso e não consigo mais dizer o mesmo. Não por conta dos professores, pois ainda temos muitos excelentes, mas por conta da metodologia que vem sendo trocada frequentemente e demissões sem sentido do corpo docente.
As novas turmas tiveram a carga horária reduzida para 4 aulas semanais, com somente 3 horas por dia. Nós, do último semestre, tivemos nosso tempo de assessoria do TFG reduzido de 2 aulas para 2 horas semanais, resultando em 10 MINUTOS para cada aluno, além de tudo, fora do nosso horário de aula. No lugar foram colocadas assessorias metodológicas, como a coordenação nomeou, onde o foco é a apresentação do trabalho e não o projeto em si.
Tivemos uma reunião online entre coordenação e alunos, onde estavam presentes mais de 80 alunos, no intuito de entender os motivos para as mudanças. Uma das respostas do coordenador foi “é bom vocês terem outro professor caso o orientador de vocês estejam cansados de olharem o projeto de vocês”, num total descaso com o excelente trabalho que vem sendo feito por nossos orientadores.
E quando expressamos que não estávamos felizes com as mudanças, que nossa qualidade de ensino, assessoria e produção iria ser afetada, a resposta da coordenação foi: ‘não podemos fazer nada, a mudança foi feita, vai ser assim agora’.
Entendemos isso como autoritarismo desmedido e tememos que essa forma de lidar e impor com as decisões acabe afetando também a qualidade de atuação do corpo docente, até então entrosado, dedicado e que sempre nos trataram com devido respeito e atenção. Digo isso visto o número de docentes desligados da instituição sem justificativa alguma. Tememos que seja retaliação por talvez pensamentos contrários aos novos coordenadores. E, se isso for uma verdade, vejo o futuro não muito distante do curso de Arquitetura e Urbanismo da São Francisco, como uma verdadeira fábrica de profissionais, sem liberdade de expressão, sem espaço de discussão e nada democratico.
No fim desta conversa, os alunos pediram uma reunião com a reitoria, já que a coordenação foi bem clara ao dizer que não poderia fazer nada para nos ajudar. Passaram um mês já e até o momento não tivemos nenhuma resposta. Cobramos um posicionamento da faculdade e tudo que recebemos foi silêncio, segundo eles a pedido do setor jurídico. A única resposta foi, ‘as coisas irão continuar assim’.
Sinceramente, fico triste por mim, pelos meus colegas que estão se formando, pelos professores que estão sendo desligados, pela perda de contato humano (e quem dera se fosse apenas físico que eu estivesse falando), pela falta de sensibilidade que a universidade tem mostrado para com o ensino. Antes, tínhamos certeza que as coordenações anteriores sabiam nossos nomes e nos davam ouvidos. Hoje, a nossa certeza é de que somos apenas números e que o interesse está nos número$ que proporcionamos com o pagamento de nossa mensalidade. Se São Francisco de Assis fosse vivo, o que falaria sobre isso?”
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