As dores mentais ocasionadas pela pandemia
Por Alexandre Padilha
Em 2019, sem a pandemia da Covid-19, o Brasil foi considerado o país com maior número de pessoas ansiosas no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No ano anterior ao início da maior tragédia humana que o país já enfrentou e que tirou a vida de mais de 560 mil de pessoas, cerca de 18,6 milhões de brasileiros foram diagnosticados com o transtorno.
De acordo com pesquisa “One Year of Covid-19”, do instituto Ipsos para o Fórum Econômico Mundial divulgada em abril de 2021, mais da metade dos brasileiros entrevistados – 53% – afirmaram que sentiram piora de sua saúde mental desde o começo da pandemia. No mundo, essa taxa é de 45%.
O medo, a insegurança do contágio, a dor da perda de amigos e familiares, o receio da ausência do emprego e as mudanças do ambiente de trabalho com a implementação do home office, são as consequências da crise sanitária que trazem sequelas físicas e emocionais.
O trabalho em casa além de muitas vezes não oferecer a estrutura necessária ao empregado, pode ocasionar o desenvolvimento de dores musculares – em especial na coluna em decorrência da má postura -, muitas vezes excede o horário estabelecido. No caso das mulheres, esse cenário é ainda pior já que muitas fazem duas e até três jornadas diárias. É cada vez mais comum relatos de estafas mentais ou até mesmo perda de produtividade.
Diante deste cenário, é preciso estabelecer novas medidas que reduzam os riscos dos trabalhadores, que vão além dos físicos, mas também psicológicos e psicossomáticos. Estudos apontam os riscos psicossociais em diversos segmentos e o empregador negligenciá-los é silenciar a dor mental do ser humano.
Pensando nisso, apresentei na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 3588/2020 que solicita a inserção de medidas de prevenção, intervenção e gestão dos riscos psicossociais por parte do empregador na lei de Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
A pandemia da Covid-19 não trouxe apenas sequelas físicas a quem felizmente não veio a óbito pela doença, mas também consequências emocionais muito dolorosas a todos nós. Por isso, precisamos lutar em defesa de todos que sofrem e por um SUS que possa cuidar da nossa saúde mental baseada na defesa da liberdade e da vida.
Alexandre Padilha é médico, professor universitário e deputado federal (PT-SP). Foi Ministro da Coordenação Política de Lula, Ministro da Saúde de Dilma e Secretário de Saúde na gestão Fernando Haddad na cidade de SP.