A posse de Pedro Castillo, do partido de esquerda Peru Livre, como presidente do Peru isola ainda mais o governo de extrema-direita de Jair Bolsonaro na América Latina. Depois da vitória de Alberto Fernandez na Argentina, a volta da esquerda na Bolívia, as mudanças no Chile, o Peru é mais um país que será governado pela esquerda. Veja trecho da reportagem de Michelle Mello, do BdF:
No Peru, Pedro Castillo foi proclamado presidente para o período 2021-2026. Depois de avaliar mais de 200 pedidos de anulação do pleito, a justiça eleitoral reconheceu a vitória do candidato de esquerda, que obteve 44.263 votos de vantagem em relação à Keiko Fujimori. A advogada Dina Boluarte, também do partido Peru Livre, será a vice-presidenta.
Depois de um mês e meio de espera pelo resultado oficial, os peruanos ocuparam as ruas de Lima para festejar a proclamação do novo presidente. Fujimori assumiu a derrota, como seu dever constitucional, mas afirmou que “a verdade ainda virá à tona”.
Seu partido, Força Popular possui a segunda maior bancada do Congresso, com 24 deputados, atrás somente do partido governante Peru Livre, que elegeu 37 parlamentares.
“Creio que sua estratégia nestas semanas que não se havia confirmado o resultado, foi consolidar-se como uma liderança da direita, capaz de encabeçar a oposição ao professor Castillo”, aponta o sociólogo peruano Alberto Adrianzen.
O resultado mostra um cenário de polarização da sociedade peruana que não se expressava desde a década de 1970. Para o sociólogo peruano, a direita irá unificar-se em torno à bandeira do “anticomunismo”, já que o partido de Castillo se identifica como marxista, leninista e mariateguista.
O carro-chefe da campanha de Pedro Castillo era a realização de uma reforma constitucional para alterar a atual Carta Magna, promulgada em 1990, durante o regime de Alberto Fujimori, pai de Keiko. Com um parlamento dividido em dez bancadas, a aprovação da proposta será outra tarefa para o líder do partido Peru Livre.
“Castillo, que é professor de zonas rurais, também prometeu aumentar o investimento em educação pública para 10% do PIB e implementar uma campanha de combate ao analfabetismo. O processo constituinte implica no fim de um ciclo histórico e o início de outro. É a possibilidade que se abre para o Peru”, afirma Adrianzen.
A expectativa é de que a política exterior do Peru dê um giro de 360 graus, começando com o fim do chamado Grupo de Lima, uma aliança de governos de extrema-direita, criada em 2017, com o objetivo de ser uma base de apoio dos Estados Unidos em ações contra o governo venezuelano na Organização dos Estados Americanos (OEA).
“O que é certo é que o Peru tem a oportunidade de somar-se a um novo ciclo progressista. Se ganha o Lula no Brasil, Petro na Colômbia, a esquerda no Chile, evidentemente o mapa político da América do Sul irá mudar substantivamente”, analisa Alberto Adrianzen. (texto integral no Brasil de Fato)