.Por Eduardo Maretti/RBA.
A CPI da Covid recebe nesta terça-feira (15) o ex-secretário de Saúde do Amazonas Marcellus Campêlo. O interesse pelo depoimento aumentou após o habeas corpus obtido pelo governador Wilson Lima (PSC) no Supremo Tribunal Federal (STF), na semana passada, permitindo que ele não comparecesse à comissão. O foco dos questionamentos dos senadores de oposição e independentes (o chamado “G7”) deve girar em torno da grave crise de oxigênio hospitalar no Amazonas, em janeiro. Por sua vez, os bolsonaristas do colegiado tentarão desviar o foco do depoimento para as alegadas responsabilidades das autoridades estaduais e irregularidades locais, na tentativa de isentar o presidente Jair Bolsonaro de responsabilidade sobre o colapso do início do ano em Manaus.
O senador Rogério Carvalho (PT-SE) tem expectativa de que a oitiva de Campêlo possa ser “o ponto alto” da semana. “Às vezes quem a gente menos espera é quem dá mais informações. Amanhã, se bem conduzido, o Marcellus pode ser que ‘entregue’, se tiver disposição disso”, diz. O ex-secretário “está disposto a falar” – acredita Carvalho – e deve ter informações importantes dos motivos pelos quais não foram aplicados recursos que estavam disponíveis para a compra de oxigênio. Também será inquirido sobre por que não houve plano para preparar o Amazonas para a segunda onda da covid-19, em janeiro, se havia dinheiro em caixa. “Por que não fizeram? Por que não adotaram as medidas? O que aconteceu?”, antecipa o senador.
Em entrevista à Rádio Brasil Atual, na manhã de hoje, o senador Humberto Costa (PT-PE), afirmou que serão questionados temas como a crise de abastecimento de oxigênio e a imposição de cloroquina por parte de membros do governo federal. “Vamos questionar a crise de abastecimento de oxigênio, a influencia do governo federal para não deixar o estado impor um lockdown. Queremos entender também o que foi a missão do governo para distribuir cloroquina e usar o medicamento aos pacientes. Além, lógico, das denúncias de corrupção. contra os integrantes do governo do Amazonas”, explicou.
Documento enviado à CPI da Covid pela empresa White Martins confirma que o Ministério da Saúde, ainda sob a gestão de Eduardo Pazuello, soube do crescimento brusco da demanda de oxigênio no Amazonas quase um mês antes do colapso do estado. “Temos documentos que mostram que o consumo de oxigênio aumentou rapidamente, ainda em dezembro. Em janeiro, houve uma comunicação direta da secretaria de Saúde junto ao ministro da Saúde. E o governo tomou quatro dias para tomar uma decisão, inclusive sem aceitar a proposta de oxigênio por parte da Venezuela. Isso tudo será questionado”, disse Costa à jornalista Marilu Cabañas.
População foi cobaia?
O presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD), disse mais de uma vez que a população do Amazonas foi usada “como cobaia” na experimentação da cloroquina como medicamento contra a covid-19. Um dos alvos da acusação foi o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, em 20 de maio. “Infelizmente, o povo do Amazonas foi feito de cobaia sim. O colapso com a falta de oxigênio, que vivemos em janeiro, foi fruto da omissão e da incompetência e de ações desastrosas. Ninguém tem como negar isso”, escreveu o presidente da comissão no Twitter, na ocasião. Agora senador, Omar Aziz (PSD) foi governador do Amazonas, de 2011 a 2014, assim como Eduardo Braga (MDB, entre 2003 e 2010), que também integra a CPI da Covid .
Carvalho concorda com Aziz. “Suspeito que fizeram de propósito, para testar a cloroquina. Se essa questão aparecer com força a gente pode ter um caminho definitivo aí”, diz o petista. Para ele, há elementos que apontam para isso. Um exemplo, na opinião do parlamentar, foi o aplicativo “TrateCOV”, criado na gestão de Pazuello no ministério da Saúde para “auxiliar” médicos na indicação de remédios contra a covid-19, mas que servia apenas para receitar remédios como a cloroquina e a ivermectina. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI, confirmou em entrevista à GloboNews, que o colegiado vai investigar se laboratórios que produzem a hidroxicloroquina lucraram com a política do governo Bolsonaro.
Witzel, ex-aliado
O ex-governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, é aguardado na quarta-feira (16). O ex-aliado que se tornou adversário de Bolsonaro, a quem chegou a chamar de “negacionista”, deve fazer um depoimento contra o chefe do Planalto. Witzel foi deposto do cargo em 30 de abril, com a aprovação de seu impeachment por um Tribunal Especial Misto (TEM). Ele é acusado de desviar recursos da saúde que seriam aplicados no combate à pandemia e sofreu investigação da Polícia Federal. Para Rogério Carvalho, o ex-governador fluminense “também pode falar”.
Na quinta (17), os senadores deveriam ouvir o empresário Carlos Wizard, membro do chamado gabinete paralelo, mas ele não respondeu à convocação e nem às tentativas posteriores de contato. Na reunião na noite de hoje (14), o chamado G7 – grupo formado por senadores de oposição e independentes que integram a CPI – deve definir que caminho tomar em relação ao empresário. Ele pode ser intimado, já que a condução coercitiva, outra opção aventada, pode ser barrada no STF. Wizard, assim como Pazuello e outros, tiveram sigilos quebrados pela CPI.
No lugar de Wizard na quinta, deve ser ouvido o auditor do Tribunal de Contas da União (TCU) Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques, afastado do órgão após divulgar dados falsos sobre a pandemia. Ligado à família Bolsonaro, ele é acusado de “produzir” informações segundo as quais as mortes por covid no Brasil foram superestimadas. Os médicos Ricardo Dimas Zimmermann e Francisco Eduardo Cardoso Alves, defensores da cloroquina, podem ou não ser confirmados para depor na sexta (18). (Da RBA)