Online – Na performance (r)e_c0L3t4: C40S P4R4D0XAL que será apresentada até o dia 22 de junho, 20h, a artista travesti Guma Joana estabelece uma triste relação entre o descarte de materiais e de corpos. Para a criadora, não é apenas coincidência que o Brasil seja o líder mundial nos rankings de países que mais matam a população trans e também dos que mais descartam lixo de forma inapropriada.

A artista também apresenta D3SD1T4 #02, de 2 a 4 de julho, 20h, uma performance curta composta por oito pessoas trans (travestis, transmasculinos e não bináries) que desfilam vestindo cerca de 30 peças criadas por Guma a partir de materiais recicláveis e designs não-convencionais. A equipe técnica desse desfile-performance é assinada integralmente por pessoas trans que irão conversar com Guma na série de lives Representatividade Trans e Trajetória Corpa-Política, que ocorre de 27 de junho a 1º de julho, às 21h. As performances serão exibidas pelo canal de Youtube da Movicena Produções e as lives pelo Instagram @movicena_producoes. O projeto foi contemplado no Edital PROAC EXPRESSO LEI ALDIR BLANC 37/2020 .

(r)e_c0L3t4: C40S P4R4D0XAL. (Foto: Sladká Meduza)

O trabalho – que vem sendo desenvolvido desde 2020, quando Guma foi artista-residente no mOno_festival, do grupo de teatro 28 Patas Furiosas – foi ressignificado a partir da própria experiência de tê-lo apresentado na sede do grupo. “Os olhares e comentários das pessoas sobre mim no trajeto que fazia da minha casa até o espaço foram invadindo a obra, que saiu do lugar de apresentar uma série de materialidades estéticas para reforçar uma questão mais pessoalizada mesmo”, conta Guma.

Na primeira versão, os materiais mais utilizados pela artista eram plásticos e papéis. Agora, a investigação avançou também para os metais e alumínios. Segundo a artista, a escolha se justifica pela imutabilidade desses materiais a longo prazo. “São estruturas resistentes que têm pouca variação ao longo do tempo. Uma faca vai ficar muito tempo no mundo do jeito que ela é hoje”.

“Nessa versão da performance usei muitas caixas de remédios que fazem parte da minha terapia hormonal. Esses papéis e bulas tem muito a ver com uma “biohackeação” que exerço no meu corpo. Muitas pessoas associam as mudanças corporais e uso de hormônios a alguma disforia, como se eu achasse que estou num corpo errado, mas não há nada de errado comigo. Quero ver como vou funcionar dessa forma. Quando crio uma roupa feita de embalagens de remédio, não estou tentando cobrir alguma disforia, mas sim operando com aquilo” – Guma Joana

Os elementos escolhidos para (r)e_c0L3t4: C40S P4R4D0XAL também carregam, em suas materialidades, metáforas sobre como os corpos trans são tratados em nossa sociedade, por serem afiados, cortantes e resistentes. Em sua performance, Guma também não prescinde da discussão sobre o meio ambiente, que revela uma grande irresponsabilidade da parte das pessoas. “É indignante ver como não existe nenhuma preocupação com coisas que vão estar no mundo muito tempo depois de nós”, diz Guma. A artista reflete ainda sobre a dependência humana desses elementos que serão descartados em seguida. Como exemplo, cita um fio que conecta a internet que, caso pare de funcionar, não cumprirá mais função alguma.

“É inevitável pensar em como corpos de mulheres trans e travestis também são submetidos a essas lógicas, afinal vivemos o paradoxo de estarmos no país que mais mata travestis e que, ao mesmo tempo, mais consome pornografia trans”, lembra-se Guma. A artista, que já tem uma experiência longa com dança, diz que no campo da moda as suas experimentações são autodidatas, o que rende roupas muito alternativas e artísticas, pontos estabelecidos em (r)e_c0L3t4: C40S P4R4D0XAL e também em D3SD1T4 #02.

Enquanto (r)e_c0L3t4: C40S P4R4D0XAL assume um lugar de protesto e indignação, D3SD1T4 #02 parte da indignação para chegar em um outro lugar: o de exaltação às pessoas trans, “de valorização das nossas corpas”, ressalta Guma. Nessa performance-desfile, oito artistas trans  (travestis, transmasculinos e não bináries) desfilam com cerca de 30 roupas criadas por Guma. Suas caminhadas se alternam entre as ruas da cidade de São Paulo e o porão do Centro Cultural São Paulo, espaço que foi equipado com luzes e estruturas que endossam mais a elegância e potência desse desfile.

“A proposta dessa obra é criar um lugar imagético de levar essas corpas marginalizadas para um outro patamar, criando um novo imagético de representatividade”, diz Guma. Neste trabalho, toda a equipe técnica, da direção à maquiagem, também é composta por pessoas trans. “Não acredito que o projeto defenderia verdadeiramente a diversidade se não fossem pessoas trans que estivessem cumprindo os papéis técnicos, frequentemente oferecidos a pessoas cis”, complementa.

A luta para inserir pessoas trans em toda cadeia de produção artística também se tornou o assunto central que vai guiar uma série de lives entre Guma Joana e a equipe criativa do projeto. As conversas, bem como as duas performances, serão exibidas de graça pelo canal de Youtube da Movicena Produções.

“Nessas lives, vamos discutir como é para essas meninas fazer um projeto e como é importante que não haja uma hegemonia da cisgeneridade nas funções técnicas, afinal há muitos profissionais trans em todos segmentos”, reforça a artista. As lives têm como assunto disparador o título Representatividade Trans e Trajetória Corpa-Política.

Sinopse de (r)e_c0L3t4: C40S P4R4D0XAL

Pelo 12º ano consecutivo, o Brasil é o país que mais mata mulheres trans e travestis no mundo todo – dados compilados pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA). O país também é o 4º maior produtor de lixo no mundo e, consequentemente, um dos piores exemplos de descarte residual adequado. Fica explícita a negação das pessoas com materiais/corpos que fazem parte da sociedade e do mundo tanto quanto elas mesmas. A performance acontece em um ambiente onde o foco principal é a vulnerabilidade, tendo uma questão disparadora para o compartilhamento: ¿3M QU3 M0M3NT0 M3 T0RN31 @ L1X@ D4 N4Ç40?

Sinopse de D3SD1T4 #02

Com uma equipe 100% composta por pessoas trans (travestis, transmasculinos e não bináries), desde a direção, figurinos, fotografia até maquiagem e assistências, cria-se uma videoarte de uma coleção de roupas assinadas por Guma Joana em que a relação evidenciada é a moda X performance, onde todas as roupas criadas a partir da ressignificação estampam corpos dissidentes em imagens gravadas em ruas e espaços da cidade de São Paulo. O elenco é composto por Audre Werneck, Bárbara Britto, Guma Joana, Kala Maria, Lua Negra, Maria Demônia, Okofá e Pedrx Galiza, beleza e cabelo por Sasá Ferreira, direção de fotografia por Sladká Meduza e assistência de hiperlinque e Berro Rrobe.

FICHA TÉCNICA

(r)e_c0L3t4: C40S P4R4D0XAL

Direção e interpretação: Guma Joana

Direção de fotografia: Sladká Meduza (DAFB)

Operação de câmera: Sladká Meduza e hiperlinque

Assistência de câmera: hiperlinque

Design de luz e assistentes: Wagner Antônio, Douglas de Amorim e Dimitri Luppi Slavov

Trilha sonora: Fornazier

Figurino e instalação cênica: Guma Joana

Produção: Jota Rafaelli (MoviCena Produções)

Assistente de produção: Fellipe Oliveira

Designer gráfico: Kala Maria

Assessoria de imprensa: Canal Aberto

Agradecimentos especiais: Yorhan Pires, Espaço Cia da Revista e Celso Reeks

D3SD1T4 #02

Direção de arte: Guma Joana

Direção de fotografia: Sladká Meduza (DAFB)

Performers/modelos: Audre Verneck, Bárbara Britto, Céu Anselmo, Guma Joana, Maria Demônia, Okofá e Pedrx Galiza.

Operação de câmera: Sladká Meduza, hiperlinque

Assistência de câmera: Berro Rrobe

Criação de figurinos: Guma Joana

Trilha sonora: Fornazier

Produção: Jota Rafaelli (MoviCena Produções)

Assistente de produção: Fellipe Oliveira

Designer gráfico: Kala Maria

Convidadas lives: Audre Werneck, Bárbara Britto, Lua Negra, Pedrx Galiza e Okofá.

Assessoria de imprensa: Canal Aberto

Agradecimentos especiais: Centro Cultural São Paulo. Yorhan Pires e Lua Negra

Exibições gratuitas pelo Youtube da Movicena Produções: https://www.youtube.com/movicenaproducoes

(r)e_c0L3t4: C40S P4R4D0XAL

De 17 a 22 de junho, às 20h

Duração: 30 minutos

D3SD1T4 #02 

De 2 a 4 de julho, às 20h

Duração: 5 minutos

>>> Lives Representatividade Trans e Trajetória Corpa-Política<<<

No Instagram do Movicena: @movicena_producoes

De 27 de junho a 1º de julho, às 21h

(Carta Campinas com informações de divulgação)