.Por Leandro Schwanke.
Codinome Alexandre na vida clandestina. Amadeu Felipe no batismo e nos anos de legalidade. Nos deixa hoje, aos 85 anos, devido a complicações vasculares cerebrais e falência dos órgãos vitais.
O padrasto Josil, coronel do exército, conheceu aos cinco anos. O militar gaúcho conquistara a destemida Chininha, neta de Hercílio Luz, governador de Santa Catarina por três mandatos. Menina, com pouco mais vinte anos, em legítima defesa, tirara a vida do pai dos seus filhos.
De sólida formação marxista, Josil partiu em 1964, aos 49 anos. Desiludido com o rumo que o país tomara com o golpe, ensinara ao enteado os fundamentos do marxismo-leninismo. Os conceitos dos materialismo histórico e dialético como ferramentas para compreender e transformar o mundo.
Amadeu Felipe, com os seus poucos companheiros, pensou possível avançar pelo meio rural, conscientizando a população para combater a ditadura militar. Comandou a guerrilha do Caparaó, primeiro levante contra a ditadura, desarticulada logo em sua gênese. Para maiores informações ver o filme Caparaó, documentário premiado no Festival É tudo verdade no ano de 2006.
Preso, ficou 4 anos e não foi assassinado como muitos dos seus companheiros. Seu padrasto, Josil Palmeiro da Costa, era primo do General Costa e Silva, então presidente, para quem Chininha implorou pela vida do filho. Viajou dias, noites, na luta para que não o torturassem e matassem.
Solto, Amadeu Felipe chega em Londrina em 1971, juntando-se à mãe, irmãs e sobrinhos e com a companheira Eudir com quem teve três filhos. Tinha 36 anos, filhos e sobrinhos todos crianças. A família haveria de esperar a militância diminuir para poder desfrutar da sua companhia. Na época ainda lhe conferíamos o status de herói.
Na busca pela redemocratização do país, militou no antigo MDB, na época do bipartidarismo, no Cebrade, e onde houvesse oprtunidade de expor as suas convicções. Candidato a deputado constituinte, governador, prefeito e vereador, fez a sua voz ouvir. Os recursos da sua campanha eram insignificantes para concorrer com os caciques paranaenses. Foi fiel à linha partidária de ocupação de espaços para combater o sistema uterinamente. Foi secretário dos governos Richa e Cheida.
Militante orgânico, disciplinado, destinava com alegria as suas tardes de sábado em cursos de formação política para os trabalhadores. Companheiros queridos, como Arturo, Marcos e Dora Barnabé, engrandeciam o evento. Determinista, dizia sempre que o sistema capitalista estava apodrecendo e que o advento do socialismo era inevitável…. tinha a convicção marxista de que a os modos de produção se sucederiam…. o socialismo e depois o comunismo se imporiam, frutos da necessidade histórica. Que a mais valia, exploração do trabalho, tinha os seus dias contados. Amigo de Prestes, Brizola, Darcy Ribeiro, esteve com Fidel em Cuba e na Nicaragua sandinista.
Amadeu demorou a sentir o peso da idade. Vaidoso, conservadísimo, pedia as pessoas para que adivinhassem a sua idade. Ao ficarem pasmos, ele ria, se dizia velho, mas resistindo heróica e bravamente.
Passou os últimos anos atônito com a ascensão dos fascistas milicianos. Dizia, como um mantra, não tardar a revolução… Teve na terceira idade tempo para ser pai, padrasto, avô, tio e marido presente. Ao seu lado, a companheira Elyany, força e amor que o conduziram até aqui…
Teve o respeito, o amor e a admiração da sua familia e dos muitos amigos. Eloquente, juntava pessoas ao seu redor para ouvi-lo. A todos dava atenção, distribuía afeto aos borbotões e solidariedade aos menos favorecidos.
Naquela época o tínhamos como herói e nada mudou! Com as suas virtudes, manias, defeitos… humanizado… será sempre a nossa referência! Eternamente em nossos vermelhos corações!
De uma ternura infinita, parte sem ver o mundo que idealizou e tanto buscou ….fraterno, igualitário e solidário! Uma terra sem amos!