.Por André Henrique.
Com exceção de algumas centenas de privilegiados, a maioria não está em quarentena há meses. Muitos que poderiam no mínimo evitar aglomerações estão nas temporadas de Campos do Jordão e lotando baladas, infelizmente. A narrativa negacionista nesse ponto venceu.
Não fossem as manifestações de 29 de maio e a CPI da covid, nesse momento Jair Bolsonaro estaria com o monopólio das ruas, comemorando o sucesso do genocídio deliberado, travando a vacinação e nas ruas fazendo “populismo” assassino como se fosse o libertador dos imbecis que ajudam a proliferar o vírus em suas festinhas regradas a perdigotos e coronavírus.
Somados à CPI os movimentos populares levaram o capiroto para a rede nacional posar de defensor da vacinação. Governadores estaduais iniciaram uma corrida de vacinação. As vacinas existem e o Brasil têm instrumentos para consegui-las e imunizar os brasileiros em 2021, isso é imperioso para se evitar uma nova epidemia.
Há risco em protestar nas ruas, mesmo com máscaras e cuidados? Evidente, mas diante desse contexto de anormalidade o que mata é o imobilismo político, porque sem manifestações o governo não irá se mexer por vacinas e auxílio emergencial e isso nos condenaria a novas epidemias e a um morticínio sem data para acabar. E não estamos ainda livres disso.
O risco é inerente à luta política, sobretudo em contextos de guerra e tirania. Imaginem Jesus Cristo, Olga Benário, Luís Carlos Prestes, Che Guevara, Fidel Castro, Carlos Marighella, Nelson Mandela, feministas que morreram lutando por igualdade, os que se rebelaram contra ditaduras e a escravidão, anônimos de resistências populares, profissionais da saúde que enfrentaram o vírus por mais de um ano sem vacinas; paralisados pelo risco?
Muitos precisam se resguardar, de fato, e é legítimo fazê-lo. Já os que foram às ruas no 29 de maio agiram heroicamente, e não são todos de organizações políticas. Várias pessoas sem conexão com partidos e organizações de esquerda participaram (ou pretendem ir nas próximas) empurrados por um sentimento, não por convocações.
O sentimento de que sem exercerem a pressão popular o presidente genocida continuará alimentando a pandemia e condenando os brasileiros à enfermidade, ao luto e ao medo de socializar. O sentimento de repúdio a um presidente da República que, como constatou a CPI da Covid, atrasou a vacinação por meses e negou cerca de 170 milhões de doses contribuindo para que perdêssemos mais de 470 mil vidas.
Os bolsonaristas estavam nas ruas, sem máscaras, com suas bundas murchas pintadas de verde e amarelo; propagando o vírus e mentiras sobre tratamento precoce. O 29 M foi um recado de que haverá resistência popular nas ruas contra o negacionismo. A conjuntura empurra os brasileiros para serem os sujeitos históricos desse processo.
André Henrique, cientista político e jornalista. Editor dos canais de política Rede Popular e Independente