A exposição Memórias em Cartografias Expandidas ou El olvido que seremos (1), da artista Ana Friedlander, com curadoria de Andrés I. M. Hernández, será aberta no próximo dia 29 de maio, sábado, das 11h às 16h, na Rabeca Cultural, em Sousas.
O conjunto de obras de arte que a artista visual Ana Friedlander apresentará no espaço arquitetônico da Rabeca Cultural constitui-se formal e conceitualmente a partir de memórias cartográficas expandidas e inseridas em imagens digitais, aquarelas, colagens digitais e Livro de Artista; memórias essas que são construídas por meio de procedimentos que a artista executa como algoritmos estéticos para provocar, numa primeira leitura, discussões editadas sobre suas referências pessoais. No entanto, não há finitude nem a partir dos procedimentos de provocação nem na edição.
“Si abres los ojos, se abre la noche de puertas de musgo, se abre el reino secreto del agua que mana del centro de la noche. Y si los cierras, un río, una corriente dulce y silenciosa, te inunda por dentro, avanza, te hace oscura: la noche moja riberas en tu alma.” (2)
Assim uma vez confrontados os manifestos visuais construídos por Friedlander tornam-se torvelinhos sensoriais que emergem como correntes que inundam e transbordam nossos embates com a matéria, o contexto, as colaborações, a forma e relações com outras áreas do conhecimento humano, por exemplo.
Nessa realidade que confrontamos, de isolamento, as realidades da artista transformadas em obras de arte intercalam-se com a de cada um dos usufruidores virtuais e/ou presencias da exposição. E, consequentemente, são as imagens digitais que ressoam como fluidos doces ou estrondosamente referenciais; silenciosos ou notórios nas rupturas e leituras sugeridas pela artista. Assim as define José Mario Martínez:
“Imagens que não são o que parecem. Significados insinuados que, às vezes, se explicitam brutalmente, outras flutuam na incerteza e na ironia. Pancada no Inconsciente. Divirtam-se. Ou não.”
Dessa forma, na instabilidade constitutiva das obras de arte da exposição; suportes e técnicas múltiplas, assuntos e transbordamentos variados Friedlander articula discursos visuais que transitam, incluindo imagens de seus álbuns particulares, desde sua experiência pessoal e familiar com as atrocidades da II Guerra Mundial, especificamente com os judeus, e com as ditaduras militares do Sul da América Latina, Argentina em contexto, com migrações forçadas, deixando em evidência a desnudez empática da maldade humana com seus conterrâneos sofrida em carne própria. Mas, evidenciam-se outros tipos de migrações, aquelas que se constroem com o esforço destemido de enfrentar desafios. Desafios em experimentar e formatar como diagramas migratórios as ferramentas que a tecnologia digital oferece. A artista atualiza-se constantemente e desde aí aparecem suas colagens digitais, ou suas imagens digitais, aqui em impressões digitais. Essa atualização discorre sem se desfazer de técnicas que tradicionalmente transitam pela História da Arte como a aquarela, por exemplo. E na conjunção de atualização contemporânea e tradição, emerge o glossário visual do Livro de Artista estruturado para a exposição em questão.
Há no projeto da exposição uma ênfase na ressonância de cada obra de arte e na leitura do conjunto delas como ferramentas que a artista oferece para nos manter conectados com a História, e com o ziguezague atemporal que ultrapassa o tempo e a memória para nos fazer refletir e tomar posição no presente. Adequação formal e sensorial de procedimentos artísticos e de comportamento, tensionamentos conceituais e espaciais – o display inserido – instrução, democratização e interdisciplinaridade desde a arte, assim como, o chamado urgente à necessidade da formatação de convicções, de um posicionamento crítico, da discussão sobre arte política e/ou política da arte e da preservação ambiental são as conjunções verbais que se pretendem interpor nesta exposição.
PhD Andrés I. M. Hernández – Curador – São Paulo, outono de 2021
(1) Título da obra literária do escritor colombiano Héctor Abad Faciolince
(2) PAZ, Octavio. Agua nocturna https://www.poesi.as/op03004.htm”
Ana Friedlander nasceu na Hungria em 1947. Cresceu e se educou em Buenos Aires, Argentina, onde se formou como Licenciada em Ciências Matemáticas. Em 1976 mudou -se para o Brasil. Trabalhou na UNICAMP como professora de Matemática Aplicada até sua aposentadoria em 2016. Desde então se dedica à pintura e a fotografia. É aluna de Vera Ferro em pintura e gravura, de Isabela Senatore e Juliana Engler em fotografia. Participou de várias exposições coletivas e individuais com curadoria das professoras e artistas mencionadas acima. A partir de 2018, depois de viagens de estudo a Bahia e Maranhão organizadas pela professora Isabela Senatore e o Doutor Andrés Inocente Martín Hernández participa em várias mostras e começa a sentir interesse em aprofundar aspectos da história da escravidão no Brasil, em particular em Campinas. Em Buenos Aires é convidada para uma mostra individual sobre esse tema. Essa mostra é realizada com a curadoria do Doutor Andrés Inocente Martín Hernández. Em 2019 participa do curso Imagens e Expressões ministrado pelos professores Isabela Senatore e Danilo Lorena Garcia no Subsolo Laboratório de Arte. Os resultados desse trabalho foram apresentados em agosto de 2019 na galeria de arte do CIS Guanabara em Campinas. Nesse tempo de pandemia trabalhou sobre as suas memórias e as diversas formas de violação dos direitos humanos que familiares e amigos sofreram durante o século 20.
Exposição: Memórias Cartográficas Expandidas
Ana Friedlander
Curador: Andrés I. M. Hernández
29 de maio
Sábado
Das 11h às 16h
Presencial com agendamento prévio. Uso obrigatório de máscara e todos os procedimentos que o momento exige.
Entrada gratuita
A exposição ficará em cartaz até 31 de julho de 2021
Visitação: de segunda à sexta das 9h às 12h e das 14h às 17h, sábados das 9h às 12h, ou com agendamento prévio.
Rabeca Cultural
Av. Dona Maria Franco Salgado, 250, Sousas, Campinas, SP.
Mais informações: 19 997206186
(Carta Campinas com informações de divulgação)