Em São Paulo – O Pivô abre seu programa de exposições de 2021* com a coletiva “Uma História Natural das Ruínas”. Com abertura prevista para 22 de fevereiro, a mostra propõe uma revisão crítica da distinção moderna entre cultura e natureza a partir da obra de um grupo singular de quinze artistas, de diferentes contextos e gerações, alguns deles apresentando suas obras no Brasil pela primeira vez.
As implicações da representação fora da linguagem, através da exploração de outras tecnologias e formas de inteligência que não as humanas, estão no cerne do projeto curatorial de Lozano. Ela conta: “No centro da exposição está uma crítica à divisão moderna entre natureza e cultura e suas implicações ontológicas”. Por meio de uma série de processos históricos, alguns humanos se separaram da natureza, fabricando-a, portanto, como categoria. Lozano prossegue: “Os regimes coloniais propagam essa noção por meio da educação e da exploração, normalizando a natureza como um ‘recurso’ à disposição dos humanos. É em grande parte por meio do conhecimento e das práticas ecológicas dos povos indígenas que essas categorias coloniais podem ser produtivamente desafiadas”.
A exposição também busca oferecer oportunidades para pensar sobre a cura no que a antropóloga Anna Tsing chamou de “sobrevivência precária”. É a vida multiespécie que reage à violência humana na paisagem arruinada do capitalismo. Lozano especula: “As ruínas produzidas no presente podem ser parcialmente consideradas como a projeção de um inconsciente modernista”.
Através de uma pluralidade de práticas e diferentes mídias, tais como pinturas, instalações, vídeos e performances sonoras, as/os artistas presentes na exposição, nas palavras da curadora, “enfrentam a brutalidade das categorias e práticas binárias modernas”.
Alguns destaques da mostra: Em Mesa Curandera (2018), o artista francês Louidgi Beltrame registra cerimônias de cura com o cacto San Pedro promovidas por um xamã no Peru; Qapirangajuq: Inuit Knowledge and Climate Change (2009), do coletivo de arte e mídia inuit Isuma, que ocupou o pavilhão do Canadá da Bienal de Veneza em 2019, é o primeiro documentário feito em idioma inuktitut sobre o tema do aquecimento global; os delicados desenhos do yanomami Sheroanawe Hakihiiwe descrevem as formas e marcas deixadas por animais e plantas que fazem parte do ambiente onde vive, no Alto Orinoco venezuelano; feita especialmente para o projeto pelo espanhol David Bestué, a série de novos trabalhos tem inspiração no Poema Sujo, de Ferreira Gullar; Whole New Animal (2012), vídeo da estadunidense Candice Lin, interroga as histórias do colonialismo e do imperialismo no Brasil, EUA e Bélgica; além da participação de duas jovens artistas brasileiras Janaina Wagner, com o vídeo Lobisomem (2016), e max wíllà morais, que apresentará uma obra inédita.
*O programa de 2021 do Pivô se articula em torno da leitura feita pelas antropólogas Marisol de la Cadena e Milton Blaser do conceito de pluriverso, como mundo onde cabem muitos mundos. Esse conceito alinha as pesquisas dos artistas envolvidos no programa de exposições, e aparecerá também de maneira transversal nos outros programas da instituição. Acompanhe em www.pivo.org.br.
Exposição coletiva, Uma História Natural das Ruínas
Denilson Baniwa (Brasil), Louidgi Beltrame (França), David Bestué (Espanha), Minia Biabiany (Guadalupe), Paloma Bosquê (Brasil), Elvira Espejo Ayca (Ayllu Qaqachaca), Sheroanawe Hakihiiwe (Sheroana, Alto Orinoco), Isuma (Nanavut), Cristiano Lenhardt (Brasil), Candice Lin (EUA), Lina Mazenett e David Quiroga (Colômbia), max wíllà morais (Brasil), Daniel Steegmann Mangrané (Brasil/Espanha), Janaina Wagner (Brasil)
Curadoria: Catalina Lozano
Abertura: 22 de fevereiro de 2021
Visitação até 18 de abril de 2021
Entrada gratuita
Horário de funcionamento: consulte www.pivo.org.br
*Sujeito a alterações em decorrência da evolução da pandemia de Covid-19.