Em São Paulo – Pode ser vista no Instituto Tomie Ohtake de 22 de janeiro a 18 de abril de 2021 a exposição “Nicholas Nixon – Coleções Fundación MAPFRE” que traz ao Brasil, pela primeira vez, um conjunto da produção do premiado fotógrafo Nicholas Nixon (1947, Detroit, Michigan, EUA).
Viabilizada com acervo da Fundación MAPFRE e em colaboração com o Instituto Tomie Ohtake, a mostra tem curadoria de Carlos Gollonet, chefe de fotografia e obras da fundação espanhola.
A mostra traz 182 imagens divididas em nove núcleos que indicam a notabilidade do artista em retratos e fotografia documental: As Irmãs Brown, Cidades, Varandas, Idosos, AIDS, Casais, Família / Casa, Retratos e fotos recentes.
O premiado fotógrafo norte-americano tem explorado sobretudo o retrato desde os anos 1970, centrando-se em temas como envelhecimento, família, afeto, cumplicidade e solidão. Embora mais conhecido pela As irmãs Brown, trabalho em que registra ano a ano um grupo de quatro mulheres, Nixon criou várias outras séries também reconhecidas por revelar justamente o que não se vê: a humanidade e a emoção contida em expressões de idosos residentes em asilos, pacientes soropositivos, casais, grupo de pessoas, além de vistas primorosas de cidades.
A série consagrada, As irmãs Brown, evidencia a mudança de aspecto vivenciada pela esposa de Nixon, Bebe, e pelas três irmãs dela ao longo de quatro décadas. Na mostra, as fotos registradas anualmente se referem ao início do projeto, 1975, chegando a 2018. Segundo o curador, a série tornou-se um dos estudos sobre o retrato e o tempo mais convincentes da fotografia contemporânea. As imagens captadas com a câmera de grande formato, em exteriores, com iluminação natural, trazem a mesma ordem das modelos desde a primeira tomada: de esquerda à direita, Heather, Mimi, Bebe e Laurie.
Depois de se licenciar em Literatura Norte-americana na University of Michigan, Nixon cursa Belas-Artes na University of New Mexico, em Albuquerque. É de Albuquerque grande parte das imagens do núcleo Cidades, e também de Boston, onde veio a morar nos arredores e dar aulas de fotografia no Massachusetts College of Art. Tais fotografias fizeram parte de suas primeiras exposições importantes, como a realizada no MoMA em 1976, responsável pela divulgação definitiva de seu trabalho.
As passagens de Nixon pelas margens do rio Charles, perto de Boston, e por outros bairros do Sul, da Flórida e Kentucky estão registradas no núcleo Varandas. As fotografias, segundo o curador, situam-se na beira do rio, nas praias e sobretudo nas varandas das casas, espaços de transição entre o público e o privado. Um projeto do qual se ocupou até 1982, enquanto aperfeiçoava o uso da câmera de grande formato. “Talvez parte da minha ambição artística seja a de conservar o elemento vivo dos instantâneos e eliminar a parte pesada e estudada dos retratos, mantendo sempre o melhor dos dois”, explicava o fotógrafo.
Interessado na vulnerabilidade e na passagem do tempo, começa a tirar fotografias em lares de idosos e hospitais nos quais trabalhava como voluntário já fazia algum tempo. Por volta de 1984 esse tema compõe a série Idosos, que o absorve por vários anos ao longo de várias décadas. Segundo o curador, passa a existir uma relação nova entre o fotógrafo e os retratados, a quem Nixon conhece pessoalmente. “A fotografia é fascinante por sua capacidade de deter o curso normal do tempo, especialmente quando já se esvai, e de deixar uma imagem tão precisa mesmo quando se apagaram as fronteiras entre arte e vida, entre consciente e inconsciente”, aponta Gollonet.
A constatação de vida e morte fica ainda mais patente no projeto seguinte que Nixon desenvolve com sua mulher: Pessoas com aids (1988), que resultou em livro. Ele reuniu a sequência de 15 vidas afetadas pela AIDS, bem como transcrições feitas por Bebe, sua mulher, de cartas e conversas. As fotografias eram tiradas em intervalos de uma semana a um mês, a partir do primeiro encontro e até o final da vida. Conforme o curador destaca, o temor, até hoje despertado por essa enfermidade, era maior ainda nos anos 1980, quando artistas e intelectuais, testemunhando como morriam amigos e conhecidos, tiveram papel ativo em dar visibilidade à doença e em tratá-la como tal, por cima de significados morais ou sociais. “Nixon não é um ativista, mas envolveu-se nesse projeto de maneira bem clara para fazer uma crônica honesta e real dessas vidas ao penetrar em sua privacidade, para fazer-nos compreender o sofrimento dos doentes e de seus entes próximos”.
“A intimidade – como compartilhamos nossas vidas, nossos sentimentos, nossos pensamentos e nossos corpos – talvez seja impossível captá-la em uma fotografia, mas mostrar como poderia ser é a minha forma de amar o fracasso. A pele não diz grande coisa, mas pode sugerir muito”, escreve Nixon. A declaração foi a propósito da série Casais, que começava com a mudança de século (2002). Segundo o curador, ele não prepara as cenas, participa delas, e quando atinge um clima de confiança, a fotografia surge sozinha, ele só precisa disparar. Troncos, braços, bocas, formas quase abstratas que falam da intensidade tanto física quanto emocional que existe em uma relação. “O nu em fotografia nunca foi fácil, pois tradicionalmente tem sido mais associado ao sexo do que ao retrato; daí o valor dessas fotografias que transmitem intimidade, paixão, gozo, retratos de como compartilhamos as nossas vidas”, diz Gollonet.
A partir desta época, não há mais séries fechadas na produção de Nixon, que de alguma maneira retorna repetidamente às suas principais obsessões. Em Família/Casa Nixon “se recria na intimidade, a proximidade de sua câmera sugere algo tátil, é sua maneira de fazer uma carícia”. Nixon começou a fotografar a sua mulher desde que se conheceram, nos anos 1970; seu filho Sam desde o nascimento, em 1983, e 2 anos depois sua filha Clementine. Sobre as crianças declarou: “Adorava a sua pele. Era tão fresca e maravilhosa que me assombrava. Pareciam encantadoras criaturas lindas e flexíveis, envoltas em uma capa que mudava a cada dia”. As fotografias dos filhos estendem-se até a idade adulta, enquanto Bebe é tema permanente, imagens que refletem a intensidade de sua relação.
Em Retratos as fotos enfatizam a capacidade de o artista revelar as minúcias das feições dos retratados, enquanto em Cidades, fotos recentes vistas de Boston são clicadas no século 21.
Atividades integradas
A exposição será acompanhada de uma série de atividades educativas, como visitas mediadas, encontros exclusivos para professores, além de uma publicação sobre a obra de Nicholas Nixon e sua relação com temas sociais que podem ser abordados em sala de aula junto aos estudantes. A mostra contará também com recursos de acessibilidade, como videolibras e audiodescrição de algumas obras.
Exposição: Nicholas Nixon – Coleções Fundación MAPFRE
De 22 de janeiro a 18 de abril
Terça a domingo, das 12h às 17h – entrada franca
Conversas on-line sobre as exposições
Apresentação e diálogo sobre as mostras em cartaz no Instituto Tomie Ohtake.
Indicadas para maiores de 15 anos em grupos de até 20 pessoas, com duração média de 1 hora.
Horários: terças e quintas, 10h e às 14h, realizadas pela plataforma ZOOM.
Informações e inscrições pelo e-mail: [email protected]
Conversas presenciais nas exposições
Mediante agendamento, para grupos familiares com até 4 participantes.
Duração média de 40 minutos.
Horários: sextas e sábados, às 14h
Informações e inscrições pelo e-mail: [email protected]
Medidas de segurança / visitação: Obrigatório uso de máscara / Medição de temperatura / Tapetes sanitizantes / Álcool em gel disponível em diversos pontos / Distanciamento mínimo de 1,5m entre os visitantes / controle de público, de 2 a 10 pessoas, dependendo da sala / percurso único / guarda-volumes desativado.
Instituto Tomie Ohtake – Av. Faria Lima 201 (Entrada pela Rua Coropés 88) – Pinheiros SP
Metrô mais próximo – Estação Faria Lima/Linha 4 – amarela
Fone: 11 2245 1900
(Carta Campinas com informações de divulgação)