Desde o último dia 14 de dezembro de 2020, está no ar mais uma edição das Coleções e Acervos Históricos CPT_SESC com itens do acervo CPT. A peça selecionada dessa vez é Fragmentos Troianos, que está disponível na plataforma Sesc Digital para acesso gratuito.
Com imagens do figurino criado pelas artistas Jacqueline Castro Ozelo, Joana Pedrassolli Salles e Cibele Álvares Gardin, além de peças gráficas e outros itens que retratam o espetáculo, a nova coleção contém elementos cênicos que evocam um cenário de guerra, de campo de concentração nazista, reforçando a luta e a perseverança contra o “mal”.
Fragmentos Troianos é a primeira de um ciclo (não-oficial) de adaptações de tragédias gregas realizada pelo CPT – junto com Medeia e Antígona. Em comum, apresentam mergulhos no universo feminino – todas com mulheres como protagonistas – e um processo de criação focado na busca do que Antunes chamou de a sonoridade trágica, uma forma de interpretar tragédias no palco. A pesquisa vocal e corporal buscou radicalizar a voz que se usa no cotidiano, conferindo à interpretação mais dramaticidade para retratar o sentimento (e o sofrimento) dos atores.
A peça é uma adaptação do texto “As Troianas”, escrito por Eurípedes em 415 a.C. que retrata o final da Guerra de Tróia a partir de arquétipos femininos, os ciclos de fertilização, geração e morte.
A adaptação do texto realizada por Antunes segue seu pensamento de que, mesmo ao se trabalhar textos clássicos, a encenação deve dialogar com tempos presentes. Assim, parte-se da Grécia Antiga para refletir sobre o horror em todos os tempos, sejam eles as guerras da Iugoslávia, o nazismo ou massacres nacionais como o de Carajás (PA) e o da Candelária (RJ).
Como marca cenográfica, a peça explicita um afastamento da grandiloquência de Drácula e Outros Vampiros (de 1996). O cenário corrobora com a imagem da guerra por meio de projeções enquanto busca uma aproximação do minimalismo de cenografia e figurino, uma forma de deixar o impacto na atuação, na construção da tragédia com a sonoridade trágica.
Antes de estrear no Teatro Sesc Anchieta em 1999, o espetáculo, com direção de Antunes Filho, apresentou-se em Shizuoka (Japão) e em Istambul (Turquia) – a cidade turca fica a 30 minutos de distância do local onde “As Troianas” foi concebida por Eurípedes.
As coleções
A coleção digital de Fragmentos Troianos junta-se a outras três, que permanecem online para serem visitadas a qualquer instante no Sesc Digital.
A primeira, lançada em setembro, é A Pedra do Reino (2006), sobre a encenação de Antunes e do grupo Macunaíma, com base na obra de Ariano Suassuna.
Em outubro, foi disponibilizada a mostra sobre A Hora e vez de Augusto Matraga (1986), baseada em conto de Guimarães Rosa. A peça marcou o encontro de Antunes com Raul Cortez e foi definida pelo ator como um marco em sua carreira.
Xica da Silva (1988) ganhou coleção em novembro. Protagonizada pela atriz Dirce Thomaz, a peça foi fundamental na trajetória e evolução do grupo com o uso da cenografia como elemento narrativo, mais do que simples recriação realista de um espaço, era parte efetiva na criação de significados no relacionamento com atores e texto.
FRAGMENTOS TROIANOS – Coleções e Acervos Históricos do CPT_SESC [disponível na plataforma Sesc Digital]
Figurinos, objetos de cena, materiais gráficos em coleção digital que apresenta o acervo do espetáculo “Fragmentos Troianos”, montado em 1999 pelo CPT, com direção de Antunes Filho.
O Centro de Pesquisa Teatral foi criado em 1982 como laboratório permanente de criações teatrais, formação de atrizes, atores, dramaturgas e dramaturgos. Ao longo das décadas, ganhou reconhecimento da crítica e de seus pares no Brasil e em outras partes do mundo como referência no fazer teatral. Foi coordenado por Antunes Filho por 36 anos. Agora, passado um ano da morte do diretor, o CPT propõe expandir suas ações em busca do constante desenvolvimento que o teatro contemporâneo exige, mantendo o diálogo com o seu legado.
Em tempos de distanciamento social, a programação do CPT_SESC acontece online, ampliando o acesso ao Centro que é referência da área teatral, formou mais de mil profissionais das artes cênicas e criou dezenas de espetáculos.
A programação, disposta em cinco eixos temáticos: Formação de Atores; Criação e Experimentação; Dramaturgia; Cenografia; e Memória, Acervo e Pesquisa, reúne artistas e técnicos com diversas formações, atuantes em diferentes instâncias da produção teatral, a fim de buscar a realização de um trabalho interdisciplinar a que sempre se propôs o CPT.
(Carta Campinas com informações de divulgação)