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Iracema e o país irascível

.Por Marcelo Mattos.

Iracema voou. Seu nome soprado ao vento, da taba de Jacaúna litorânea ao talhe das palmeiras nas matas incineradas de hoje.  Do romance de José de Alencar à “Uma Transa Amazônica”, filme do cineasta Jorge Bodanzky, de 1974, Iracema sublima: representa tanto uma desintegração do ideário Romântico de recusa universal quanto a presente devastação ambiental na horda periférica do mundo capitalista.

(foto bruno kelly – amazonia real – ccl)

É esta natureza exuberante e poética de ruptura que me colocam frente ao discurso difuso do atual presidente da República na Cúpula de Chefe de Estado do Brics, grupo que reúne Rússia, Brasil, China, Índia e África do Sul. Além de desconexo com a peculiar deficiência de linguagem e leitura pré-escolar, novamente expôs ao mundo um país dilacerado pela infâmia conservadora e fascista contra a preservação ambiental e investimentos científicos em saúde.

Reiterando ataques à OMS ao falar da Covid-19, voltou a acusar a Organização Mundial de Saúde de ter a pretensão “ao monopólio do conhecimento”, como se a presente gestão governamental tivesse mínima ciência, compreensão dos deveres de Estado e das prerrogativas e garantias constitucionais subtraídas da população. Sobretudo por ser um presidente que “torce”, celebra a morte de um voluntário da vacina da Sinovac/Butantan, num ato de permissividade genocida enquanto velamos mais de 166 mil brasileiros mortos pela pandemia da Covid-19.

O discurso permeado de acusações veladas à Organização Mundial do Comércio (OMC), à China e ao desmatamento ambiental, manteve o seu alinhamento de subserviência e ventriloquismo, procurando perfazer, reproduzir as palavras suscitadas e a geopolítica do seu mentor americano Donald Trump .

Além disso, responsabilizou os países europeus pelo desmatamento da Amazônia, ameaçando de divulgar uma lista de países que compram madeiras ilegalmente extraídas das florestas brasileiras. Como sabemos, o governo é o grande responsável pelo genocídio de índios, a ocupação de garimpos ilegais, a grilagem de terras por grandes fazendeiros e quem flexibilizou, através do Ibama, a exportação de madeiras extraídas ilegalmente, para privilegiar seus aliados das grandes madeireiras.

Segundo a Ong Greenpeace, cerca de 70% da madeira extraída ilegalmente é destinada para o mercado do Sul e Sudeste do país; melhor seria que o presidente divulgasse a lista com os nomes dos criminosos desmatadores das florestas brasileiras.    

Iracema ainda tem saudades do Brasil…

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