.Por Reginaldo Cruz.
Descaso, abandono, recursos públicos desperdiçados e acima de tudo um enorme desrespeito à memória e à cultura. Esse é o quadro que pode descrever hoje o espaço onde era para estar localizado o Parque da Paz e o Memorial Yasser Arafat, localizado na Avenida Alexandre Chiarini, no jardim Madalena, região leste próximo à Estação Anhumas em Campinas.
Inaugurado em julho de 2010 pelo então Prefeito Hélio Santos, dentro das comemorações do aniversário da cidade, a área, com 200 mil metros quadrados estava projetada para receber ciclovia, um jardim envoltório e uma trilha no entorno do trecho onde estava previsto o prolongamento do novo traçado dos trilhos da Maria Fumaça – trem turístico que faz a viagem entre Campinas e Jaguariúna – da estação Anhumas até a Praça Arautos da Paz, ao lado da Lagoa do Taquaral.
Dentro do parque, em uma pedra de granito bruto já existente no local, foi esculpido um busto do líder palestino, com duas frases suas que se tornaram famosas: “A justiça da causa determina o direito da luta” e “Sou rebelde e a minha causa é a liberdade”.
A área seria interligada ainda ao Bosque da Paz Yitzhak Rabin, localizado na mesma Avenida Alexandre Chiarini, em frente de onde seria a entrada principal do parque e memorial Yasser Arafat. Portanto, a criação de duas áreas interligadas representava também uma homenagem da cidade aos dois líderes e uma referência à cultura da paz.
Conforme relata Ali El Kathib, superintendente do Instituto Jerusalém do Brasil, a inauguração da área teve forte repercussão na comunidade árabe no Brasil e até mesmo no exterior, inclusive com a presença da rede de TV Al Jazeera, com sede no Catar e forte audiência no Oriente Médio, cobrindo a inauguração. “Esse era o terceiro maior Parque da Paz Yasser Arafat no mundo e na inauguração tivemos um encontro da comunidade palestina no Brasil e a presença do embaixador palestino no país. Lamento que a atual administração do prefeito Jonas tenha abandonado completamente este local histórico, um símbolo da paz”, diz Ali.
De fato, depois de uma década o cenário é completamente diferente do que foi inaugurado e estava projetado. Com a duplicação da avenida Alexandre Chiarini, o local onde seria a entrada do parque foi completamente desfigurado. O mato toma conta de toda extensão da área onde seria o parque, com acúmulo de lixo que propicia a proliferação de insetos, carrapatos, ratos e escorpiões, o que coloca em risco a saúde da população do entorno.
A pedra de granito onde foi esculpido o rosto de Arafat encontra-se em completo abandono, cercada pelo mato e alvo de pichações, num total desrespeito à essa figura histórica importante. “Solicitamos da atual administração que seja feita a recomposição da mata ciliar, e que faça uma limpeza da área em respeito a esse belo memorial da paz. Esperamos que sejamos atendidos”, reivindica Ali El Khatib.
Na última segunda-feira, dia 28/9, o ex-vereador Paulo Bufalo esteve no local acompanhando Ali em uma vistoria e ao constatar o estado do abandono da área se comprometeu a lutar pela recuperação do parque, inclusive mantendo o projeto de área de lazer, cultural e memorial da paz.
“Esse parque envolve a preservação das margens do ribeirão Anhumas, interligação da estação da Maria Fumaça com a praça Arautos e toda uma revitalização dessa região. Infelizmente essa área foi abandonada não só enquanto projeto, mas enquanto cuidado de urbanização de todo entorno, que envolve a Vila Madelana e a região da Rua Moscou e tem impacto para toda região”, observa Bufalo.
Como candidato a vereador, Paulo Bufalo assumiu o compromisso de reforçar a cobrança pela limpeza do local para que haja condições de retomar o projeto original. “Outro compromisso, como estou me propondo a voltar a Câmara Municipal, é propor em legislação municipal para oficializar a criação do Parque Yasser Arafat, conectando inclusive com o Bosque Yitzhak Rabin e assim consolidar essa região como um símbolo da paz. Queremos cobrar da próxima administração a consolidação deste espaço, que é um espaço de referência não só para a comunidade árabe, mas um símbolo da cultura de paz entre os povos e solidariedade que estamos precisando muito para a nossa cidade e para o nosso país”, afirma Bufalo.
Acordo de paz de Oslo, prêmio Nobel e paz ainda distante
Cabe lembrar que Yasser Arafaf, líder da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e Yitzhak Rabin, primeiro ministro de Israel entre 1992 e 1995, dividiram o prêmio Nobel da Paz em 1994 em virtude dos chamados acordos de Oslo, assinados no ano anterior na capital norueguesa e que, em linhas gerais, previam autonomia palestina na Faixa de Gaza e na Cisjordânia e criação da Autoridade Nacional Palestina. O prêmio também foi dividido com o então chanceler israelense Shimon Perez.
Em consequência do acordo, Rabin foi assassinado em 1995 por um militante de extrema-direita israelense, contrário a paz com os palestinos. Arafat morreu em 2004, em um hospital em Paris, de causas ainda não esclarecidas.(Com informações do Instituto da Cultura Árabe)
Veja imagens – fotos Reginaldo Cruz: