.Por Verônica Lazzeroni Del Cet.
Um clube de leitura é capaz de incentivar, de muitas formas, o amor pelos livros e a criação do hábito de leitura. No norte do país, na cidade de Conceição do Araguaia (PA), o Clube de Leitura Mulheres que leem CDA tem esse principal objetivo: criar o hábito da leitura. “O Clube surgiu da necessidade de um grupo para falar sobre nossas leituras, ajudar a quem quer adquirir o hábito da leitura, conhecer novos gêneros literários e para pessoas que tenham o mesmo amor pela leitura”, explica Tiane Verneck, 33, fundadora do grupo.
As primeiras atividades do clube aconteceram em setembro de 2019, por meio de encontros presenciais na cidade das participantes, em Araguaia. No entanto, o incentivo para o grupo ser criado veio um pouco antes. “O incentivo final para o clube acontecer foi um encontro do coletivo de mulheres que leem Xinguara, uma outra cidade a cerca de 200km da nossa. Esse encontro foi aqui em Conceição e mostrou o quanto um grupo de mulheres que leem podem impactar positivamente na vida de cada uma, mostrou que existia uma necessidade e um sentimento que apenas um clube como o que temos hoje poderia suprir”, conta Gabriela Aguiar Costa, 27, mediadora dos encontros do mês de setembro.
A partir deste incentivo, o clube promoveu encontros presenciais entre mulheres que gostam de ler e, inclusive, o nome do grupo sofreu uma pequena alteração, passando a se chamar Mulheres que leem CDA, em homenagem a cidade das participantes.
PARTICIPANTES
Atualmente, o grupo conta com a participação de 48 mulheres, sendo que 20 delas participam ativamente das atividades. Além disso, com a pandemia causada pelo Covid-19, as atividades que antes eram presenciais, passaram a ser virtuais.
Graças ao uso das redes sociais, especialmente o WhatsApp, as participantes conseguiram dar continuidade dos encontros e discussões de obras e temas propostos, de acordo com um planejamento que seguem desde o começo do ano. “Nós tivemos uma grande mudança com a pandemia, assim como tudo mudou. O último encontro presencial foi em fevereiro (com exceção de setembro onde fizemos um encontro restrito para comemorar nosso primeiro ano), desde então fazemos encontros online e passamos a conversar mais pelo WhatsApp. A falta dos encontros presenciais é sem dúvida a maior mudança”, diz Tiane Vernek.
Inclusive, graças as redes sociais, várias mulheres podem participar do Clube de Leitura. O acesso ao grupo é disponibilizado na rede social do Clube de Leitura Mulheres que leem CDA (@mulheresqueleemcda). “Toda mulher interessada em leitura pode participar, o link do grupo fica disponível na bio do Instagram, assim fica fácil nos acompanhar, saber dos livros, do andamento e dos encontros”, explica Elke Mara Cardoso de Sousa Abreu, 38, mediadora do mês de dezembro.
DINÂMICA DO CLUBE DE LEITURA
O Clube de Leitura Mulheres que leem CDA segue um planejamento elaborado por todas as participantes do grupo. Todas ajudam a programar as obras que serão lindas, os temas discutidos, além das postagens nas redes sociais que acontecem frequentemente e que tratam sobre as leituras realizadas e os encontros que acontecem. “Nós montamos um cronograma para o ano todo, assim podemos nos organizar e aproveitar promoções”, explica Grabriela Costa.
“Primeiro todas indicam livros e temas, com isso temos muitas opções e fazemos uma votação. Escolhemos 6 livros e 6 temas para o ano, e a sequência de leitura e a sequência dos livros dos mais aos menos votados. Sempre intercalando um livro e um tema. Todas sugerimos quantos livros e quantos temas quisermos, buscamos sempre temas diversos e relevantes como feminismo, racismo etc. Isso é muito bom, porque todas se envolvem no processo que, normalmente, leva mais de uma semana, inclusive, já montamos nosso cronograma 2021!”, conta Elke Mara Abreu.
A dinâmica dos encontros, atualmente através das Salas do WhatsApp, acontece de forma até mesmo a criar uma boa rede de amizades e apoio entre mulheres que amam ler. “Qualquer mulher interessada no mundo da leitura pode participar, nosso principal tema é o livro do mês, mas também falamos de outras leituras, de filmes, da nossa vida. Nesse momento temos falado das mudanças e inseguranças que a pandemia nos trouxe, trocamos experiências e principalmente apoio”, explica a fundadora do grupo.
Além disso, os encontros virtuais contam com a atuação de uma mediadora – uma mulher em cada mês atua com essa função – sendo que ela será responsável, segundo as entrevistadas, por mediar, direcionar ou mesmo levantar tópicos para discussão. Além disso, as postagens nas redes sociais também ficam sendo tarefas de outras integrantes que têm disponibilidade para participar e cumprir a programação.
OS DESAFIOS
O Clube de Leitura Mulheres que leem CDA enfrenta alguns desafios com relação ao acesso a livros no município. Infelizmente, na cidade ainda não existem livrarias, apenas lojas que vedem alguns livros e a biblioteca é mais facilmente acessada pelos estudantes da cidade. “Estamos ganhando espaço, o clube ainda é pouco conhecido e a leitura não tem o devido apoio, uma realidade de todo o Brasil, que é bem maior nas cidades do interior. Não temos uma biblioteca e até pouco tempo atrás não tínhamos sequer uma livraria. Continuamos sem ter, mas já temos duas lojas que vendem livros”, contam as entrevistadas.
Além disso, o valor do frete na compra de livros pela internet chega a ser outro grande desafio para quem quer comprar obras, mas que esteja morando na região norte do país. “Comprar pela internet, por anos, foi nossa única opção, mas com fretes exorbitantes (sempre “frete grátis-exceto para o norte”). Faz um ano que passamos a ter fretes mais em conta e algumas modalidades de assinatura com frete incluso em alguns sites, mas a demora da entrega dos livros é um caso à parte”, explica Gabriela Costa, mediadora do mês de setembro.
Para ajudar as participantes, o Clube disponibiliza a versão do livro digital ou realizam empréstimos das obras entre as próprias participantes.
AS MULHERES LEEM
O que não faltam são elogios ao Clube que cria não apenas o hábito da leitura, como também uma rede de amizade entre as mulheres, capaz de ultrapassar toda dificuldade do acesso à leitura.
“Minha experiência é a melhor possível, pois o clube me permitiu retomar a leitura como atividade essencial na minha vida e de uma forma bem prazerosa e contagiante”, diz Elke Abreu.
“A leitura por si só já é um verdadeiro encanto. Mas quando podemos interagir, debater opiniões e citar trechos, a leitura se torna algo prazeroso e verdadeiro. Tinha muita dificuldade em terminar livros, e ler livros fora do meu contexto literário, confesso que também andava desanimada de não ter com quem compartilhar, mas esse grupo (Mulheres que leem CDA) foi um divisor de água no meu mundo literário”, comenta Aline Silva Prado
“O clube de leitura me fez voltar a ter vontade de ler novamente. O clube melhorou o meu círculo de amizade”, finaliza Erly Vieira de Souza
Relembrar nossa história sempre me aquece o coração, obrigada por compartilha-la.