Reportagem de Pedro Grigori e Bruno Fonseca sobre a contaminação de frutas e legumes com contaminação de agrotóxico mostra que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) não avalia o perigo de contaminação por agrotóxico em crianças menores de 10 anos.
Segundo o texto, publicado pela Agência Pública e Repórter Brasil, nas avaliações específicas para identificar a quantidade de agrotóxico que pode gerar problemas à saúde de quem come o alimento, a Anvisa criou um novo método para avaliar o risco agudo (a curto prazo) e crônico (a longo prazo). Para isso, a agência usou dados sobre quanto os brasileiros consomem em média de cada alimento e o peso corpóreo dos consumidores a partir de 10 anos de idade. “Ou seja, a Anvisa ignora o risco para crianças de zero a 10 anos, grupo cuja saúde é ainda mais suscetível à intoxicação porque tem peso inferior ao dos adultos. Questionada pela reportagem, a agência confirmou a informação e atribuiu a falha à limitação da Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE, usada como base para a avaliação”, diz a reportagem.
Veja mais um trecho:
A partir deste cálculo, a agência concluiu que não há casos de risco crônico nos alimentos analisados e apenas 41 frutas e legumes tem potencial de risco agudo. Desses, 27 eram laranjas. Ou seja, a cada 14 laranjas vendidas nos mercados, uma tinha agrotóxico suficiente para causar uma intoxicação imediata em quem consumiu – um cenário preocupante para um país onde a fruta é consumida com frequência.
“O risco agudo inclui uma gama de sintomas como enjoo, dor de cabeça, alteração do ritmo cardíaco e respiratório, em alguns casos podendo levar a pessoa a ser hospitalizada”, explica Karen, da Fiocruz.
Cinco laranjas analisadas apresentaram mais de cinco vezes o limite de segurança de exposição, todas para o agrotóxico carbofurano, um inseticida proibido no Brasil desde 2017 devido aos efeitos neurotóxicos. Este produto pode afetar o desenvolvimento, incluindo efeitos nos fetos, funcionais e comportamentais.
Especialistas alertam que o problema pode não estar apenas na laranja. A pesquisadora da Fiocruz faz críticas ao método de avaliação para risco à saúde humana, apontando que uma das falhas é a análise isolada dos agrotóxicos. “Os resultados mostram que a mistura é frequente. Interações entre os agrotóxicos podem gerar efeitos aditivos e sinérgicos que necessariamente impactam o cálculo”, explica Karen.
Outra crítica é em relação ao cálculo de quanto o brasileiro consome. Segundo o relatório, a abordagem da Anvisa “parte do princípio de que é improvável que um indivíduo consuma grande porção de dois ou mais alimentos diferentes, em um curto período, contendo resíduos do mesmo agrotóxico nas maiores concentrações detectadas”.
Para Karen, o relatório erra ao não considerar que “a pessoa come diferentes alimentos por dia, que podem conter resíduos de diversos agrotóxicos com efeitos danosos para a saúde”.
Veja reportagem completa da Agência Pública e Repórter Brasil AQUI.
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