.Por Susiana Drapeau.
Qual o sentido de dar um golpe de Estado e manter na presidência um sujeito que só causa confusão?
O bolsonarismo tenta rasgar a Constituição brasileira com interpretações com a mesma metodologia que descobriu a “terra plana”. Enquanto apoiadores pedem um golpe militar com palavras de ordem como ‘intervenção militar’, ‘intervenção constitucional’ e ‘botar os vagabundos do STF na cadeia’ e outras sandices, o governo Bolsonaro parece promover sem receio o caos.
Bolosonaro parece buscar o caos com políticas que promovem o aumento da pobreza, redução dos direitos dos trabalhadores, aumento da fome com redução de programas sociais, aumento das mortes pela pandemia de Covid-19 com ações de boicote a governadores e prefeitos, contenção de gastos com Saúde etc. Parece um governo que deseja a insurgência social.
Talvez acredite que, se houver o caos social, seja possível legitimar um sonhado golpe militar, em que ele seria um Napoleão do Brasil, como já ameaçou várias vezes de forma velada ou não tão velada, principalmente quando há alguma ação judicial ou de mídia contra seus filhos ou aliados. Para isso, indica que as Forças Armadas o apoiariam nesse desatino.
Mas Bolsonaro, diante da experiência traumática que o Brasil passa com seu governo, corre o risco de ser o primeiro a ser derrubado com um golpe militar. A questão é: que militares iriam se insurgir ao custo de destruir a Democracia para manter no poder um governante que destrói o país? Será que os militares pagariam novamente um alto preço de destruir a Democracia para beneficiar um projeto de poder pessoal e familiar?
Há indicações de que não. Depois de Hamilton Mourão, o próprio vice-presidente, ter desacreditado a articulação de um golpe, o tenente-brigadeiro-do-ar Sérgio Xavier Ferolla, ex-presidente do Superior Tribunal Militar (STM), afirmou que ‘é inaceitável tentar envolver as Forças Armadas em uma ruptura”, destacou o jornal O Estado de S. Paulo, em coluna nesta segunda-feira, 8 de maio.
O militar também criticou a utilização de militares na articulação política do governo. “As Forças Armadas não podem se meter em política. Elas são instituições de Estado e não de governo. Não deve se meter em política pessoal. Quem gera as crises é o presidente”, acrescentou.
O tenente-brigadeiro Sérgio Ferolla criticou também o negacionismo de membros do governo Bolsonaro. “Diga-me: Como é possível vir com essa conversa de Terra plana nessa altura do campeonato? Estamos no século 21. E tem dois amigos dele no governo: o ministro da Educação, esse Weintraub, e o das Relações Exteriores, o Ernesto Araújo”, afirmou. (Com informações do 247)
É, mas não se enganem. O cafajeste é só o para-raio, como já discorreu magistralmente o professor da Universidade Federal de São Carlos Piero Leirner (https://www.bbc.com/portuguese/brasil-52926714). O estamento militar que assiste a tudo fingindo manter uma distância segura, está é por trás de tudo que devasta o país. Tirar o cafajeste é até uma opção da retaguarda milica. Ou vamos ter força para reverter a conspiração anti-democrática desde o golpe de 2016 ou é melhor esperar pelas condições objetivas convergirem afinal a situação econômica, social e ambiental vai piorar tanto que os assaltantes do poder podem vir a cair de maduros.