As perguntas: ‘por que os negros brasileiros não se revoltam como os americanos? ou ‘Por que mistério os negros do Rio de Janeiro, por exemplo, não incendiaram a cidade inteira quando foi assassinada a menina Agatha, em setembro do ano passado? Por que não reagiram de forma violenta?
Essa são questões tratadas pelo texto de Dodô Azevedo, na sua coluna quadro-negro, na Folha de S. Paulo do último dia 29 de maio. Além das variadas argumentações, relacionada à educação, à história e à cultura, Azevedo relembra um livro de 1933, de Carter G. Woodson.
“O livro norte-americano “The Miseducation of the Negro”, “A deseducação do negro”, de Carter Woodson, escrito em 1933, é um dos faróis que não tivemos aqui. Apesar de aqui dançarmos até hoje as músicas do álbum “The Miseducation of Lauryn Hill”, onde a cantora fez questão de, na famosa capa do disco, ter imitado o design da capa do livro de 1933. Seria como se o primeiro disco de Anita trouxesse na capa o geógrafo brasileiro negro Milton Santos…
“Anitta não tem culpa de nada. Ela, e você, não leram a fundamental obra de Carter Woodson. E ainda vêm dando sinais de despertar político. Não tem culpa. Nem ela, nem nenhum outro negro que não sabe que é negro, ou que não queria saber que é negro porque é algo que no Brasil dá trabalho, ou não se vê como parte de um povo que é antagonizado e excluído o tempo inteiro pelas etnias que detém o poder no país. Nós negros brasileiros, fomos todos educados longe de nossa própria cultura e tradição e ligados às franjas da cultura do povo branco”, escreveu.
Parece que no Brasil, o negro não se vê como negro. “Fora do Brasil, negros são educados, desde criança, a se verem como negros. E todos os movimentos negros norte-americanos que partiram para o confronto, como os Panteras Negras, não o fizeram sem antes muitos estudar, ler livros sobre o assunto, produzir intelectuais robustos que os fizessem escapar da armadilha da “educação ocidental”, anota.
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