A decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, de suspender a indicação de Alexandre Ramagem, para o cargo de diretor-geral da Polícia Federal no final de abril, causou estranheza porque foi a primeira forte decisão judicial contra o clã bolsonarista. E atingiu diretamente uma decisão do próprio Bolsonaro.
Agora, as revelações de Paulo Marinho, suplente de Flávio Bolsonaro, à Folha, deixam as coisas mais claras. Segundo ele, Flávio ficou sabendo por meio de um delegado da Polícia Federal que a Operação Furna da Onça, que atingiu Fabrício Queiroz, seria deflagrada.
O tal delegado da Polícia Federal era simpatizante do candidato e contou que ia segurar irregularmente a investigação para não atrapalhar o segundo turno, conta Marinho. Marinho afirmou, ainda, que o delegado que vazou a informação sugeriu que Queiroz e a filha dele, que trabalhava no gabinete de deputado federal Jair Bolsonaro, fossem demitidos, o que realmente ocorreu no dia 15 de outubro.
As suspeitas de parlamentares e da imprensa sobre quem é o delegado que vazou e protegeu o clã Bolsonaro recaiu sobre Alexandre Ramanagem, o mesmo que foi indicado por Bolsonaro para ser o novo diretor da PF em substituição a Sérgio Moro. Em 2017, Alexandre Ramagem atuou nas investigações de deputados estaduais suspeitos de corrupção. Chamava-se Operação Cadeia Velha. A base foi o depoimento do delator Carlos Miranda — que serviu para deflagrar a Furna da Onça. Ou seja, ele estava próximo das investigações.
Naquela época, o deputado Paulo Pimenta (PT), anotou a coincidência da demissão de Queiroz e familiares fantasmas do gabinete e afirmou que provavelmente Flávio Bolsonaro havia sido avisado da operação da Polícia Federal. Agora, há a confirmação por parte do empresário Carlos Miranda.
A decisão de Alexandre de Moraes de afastar Ramagem foi publicada poucas horas antes da posse e o ministro pode ter tido informações ainda não reveladas.
Na decisão, o ministro afirmou que o Poder Judiciário pode impedir o Executivo de descumprir princípios constitucionais básicos como o de observar os princípios da legalidade, da impessoalidade, da moralidade e do interesse público. Mas Moraes não entrou na questão do vazamento, o que indicaria uma ligação íntima e criminosa entre o delegado e o clã bolsonarista.
Apesar de não anotar, é possível que ele já tenha recebido alguma informação ainda não divulgada, visto que foi uma decisão foi bastante inusitada até aquele momento. A quebra dos sigilos telefônicos e geolocalizador de Flávio e Ramagem poderiam ajudar a esclarecer essa suspeita.