Atualmente presente na vida de mais de 4,5 mil famílias em 12 estados brasileiros, o projeto Sisteminha, ou Sistema Integrado de Produção de Alimentos, é um pacote tecnológico de baixo custo capaz de gerar alimentos para o consumo próprio de pequenos produtores rurais a ainda um excedente para incrementar a renda das famílias. A tecnologia social recebeu vários prêmios nacionais.
Lançado em 2011, a tecnologia é resultado de uma parceria entre uma universidade pública, a Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e uma empresa pública (Embrapa). O projeto teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), também um órgão público de financiamento à pesquisa.
O embrião da tecnologia surgiu no início da década de 2000, na Universidade Federal de Uberlândia, no triângulo mineiro, com o desenvolvimento da tese de doutorado do zootecnista Luiz Carlos Guilherme, hoje pesquisador da Embrapa.
A base do Sisteminha é o tanque de piscicultura, que tem capacidade para dez mil litros e funciona com um sistema de recirculação de água. A produção é de 35 quilos de peixes a cada 90 dias, em quatro ciclos por ano. Os peixes podem pesar até 300 gramas ao final de cada ciclo. “Todo o sistema reutiliza a água do tanque de piscicultura, o que reduz os custos de produção e aumenta a oferta de alimentos”, explica Guilherme.
O sistema, adaptado para pequenos espaços, pode ser implantado em propriedades rurais a partir de 100 metros quadrados. Ele consiste em um tanque para a criação de peixes que pode ser associado a outros 14 módulos produtivos como, por exemplo, produção de minhocas, hortaliças, frango, ovos de galinha, produção de caprinos, ovinos e bovinos e outros.
Uma das vantagens do sistema a tecnologia limpa. O pesquisador explica ainda que a tecnologia sequestra o Carbono da matéria orgânica. “O dióxido de carbono (CO2) oriundo da respiração dos peixes é mantido no sistema por meio das reações com o cálcio, utilizado para manter o efeito tampão”, detalha. Por ser um sistema cíclico, a água é reutilizada várias vezes e assim é economizada, o que aumenta a eficiência hídrica. Ele garante que não há geração de resíduos orgânicos no processo: “todos eles são reciclados pela compostagem e produção de húmus”.
Hoje, a tecnologia opera com sucesso nos estados do Piauí, Maranhão, Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Norte, Ceará, Pará, Acre, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Paraná. No continente africano, é empregada em Gana, Uganda, Etiópia, Camarões, Tanzânia, Angola e Moçambique.
De acordo com texto de Fernando Sinimbu, os locais onde foi adotado, famílias que antes não tinham renda fixa passaram a ter mais comida na mesa e a ganhar, em média, um salário mínimo por mês com a venda dos produtos em feiras livres. Dois exemplos em comunidades pobres que adotaram o Sisteminha estão no sertão nordestino.
No município de Inajá, a 396 quilômetros a sudoeste do Recife, 20 famílias carentes de cinco comunidades trabalham em 13 unidades do Sistema, melhorando a alimentação e com uma renda diária que vem da comercialização do excedente da produção e pelo que deixaram de gastar. O assentamento indígena Kambiwá Caraibeirinhas é o destaque. Dez mulheres, de duas famílias, operam cinco módulos e ganham em média 1,5 salário mínimo, cada uma.
O Sisteminha chegou também a outra universidade pública. Na Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), em Juazeiro, a unidade implantada em uma área de 1,3 mil metros quadrados, no Espaço Plural, vem capacitando comunidades rurais e orientando estudantes nos trabalhos de conclusão de curso (TCC) nas áreas de agronomia, veterinária e zootecnia. A implantação do módulo foi em agosto de 2018, com piscicultura, criação de galinhas de postura, frangos de corte, codornas, porquinhos da índia e minhocultura, que dividem espaço com milho, tomate cereja, abóbora e macaxeira. (Com informações de Fernando Sinimbu-Embrapa)