.Por Susiana Drapeau.
O Brasil vive três tragédias sobrepostas. Não bastasse uma, temos três, o que torna a situação de difícil solução.

A primeira todos já sabem, menos os bolsominions-cloroquinions. É o Coronavírus, um vírus sem tratamento e vacina que tem matado milhares de pessoas pelo mundo e que no Brasil se sobrepôs ao governo de extrema-direita de Bolsonaro.
Um governo negacionista que só avançou em pautas negativas para o país, no aumento da desigualdade, da miséria, da violência, da facilidade à corrupção com redução da transparência dos gastos, etc. Um governo que faz de tudo para abafar crimes que estão sendo investigados e que envolvem os filhos do presidente.
Essas duas tragédias sobrepostas causaram até este domingo, 24 de maio de 2020, 23 mil mortes notificadas e milhares de outras mortes não notificadas pelo Coronavírus. No Brasil já são 360 mil casos notificados e milhares não notificados. Uma pesquisa no Espírito Santo mostrou que o número de infectados na capital é inúmeras vezes maior do que os dados oficiais.
As ações trágicas do governo Bolsonaro começaram antes do vírus chegar ao Brasil. Comunicado à Organização Mundial da Saúde (OMS) em janeiro, o governo Brasileiro não fez praticamente nada durante três meses. Não fez bloqueios necessários, não fez quarentenas necessárias, não comprou equipamentos, não induziu a produção de equipamentos, não fez nada para estar preparado para a epidemia. Isso diante da tragédia italiana já acontecendo.
Depois da inépcia inicial das autoridades de saúde do governo Bolsonaro, as coisas pioraram quando decidiram começar a agir. As ações do próprio governo Bolsonaro, ainda na gestão do ministro Luiz Henrique Mandetta, foram todas para dificultar, politizar e ideologizar o combate. E isso aconteceu com proibição de governos estaduais de comprar equipamentos, centralizando ações e prejudicando o combate.
Depois, todos viram e ouviram. Bolsonaro minimiza o vírus, viola a quarentena, sai às ruas e pode até ter contaminado pessoas. Isso explica porque não agiu antecipadamente contra a contaminação da população quando teve tempo.
Bolsonaro agiu assim não se importando nem com os mortos (E daí?) nem com médicos, enfermeiros e profissionais de saúde, que já estavam sufocados com os hospitais lotados. Na outra ponta, o gabinete do ódio soltava fake news de que os hospitais estavam vazios e o vírus não provocava danos. As tragédias foram sobrepostas (Bolsovírus e Coronavírus).
Assim se instalou o caos na saúde pública e no sistema político, com manifestações de ameaça ao Supremo Tribunal Federal, à Democracia, ao parlamento, etc.
No meio da pandemia e das constantes ameaças à Democracia, Ciro e Lula não se entendem. Ciro critica e bate de um lado, os petistas respondem de outro. Lula diz que vai caminhar sem Ciro, que vai pra cima e bate mais no PT. Isso é uma terceira tragédia sobreposta porque dificulta o enfrentamento ao autoritarismo.
Talvez falte um líder para aproximá-los, insistir, falar mil vezes, dizer e redizer, articular, perturbar até uma conversa possível. A movimentação dessa união, inesperada e pouco provável, poderia ajudar a desestabilizar a rede de não fascistas que, de forma oportuna, apoiam o governo autoritário.
Não é necessário definir uma proposta eleitoral inicialmente, mas um pacto democrático, pautas e conversas em defesa da democracia. É isso que vale a pena.
O governo tende a se isolar e cada vez mais se afundar em ações ilegais e autoritárias. É preciso aproveitar esse espaço aberto de confronto entre o governo e setores do judiciário e da mídia. É preciso deixar o governo dentro do cercadinho do Planalto e se aproximar também de outras instituições importantes, mesmo as que foram omissas nos últimos anos.
Uma coisa é certa. Lula e Ciro são capazes de fazer isso, superando egoísmo pessoal ou partidário, pelo povo brasileiro. Mas parece que falta alguém com perseverança para articular esse pacto.
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