O acesso a serviços públicos de saúde de qualidade é bandeira de luta no mundo inteiro. Na Índia, uma alternativa implantada há 75 anos por iniciativa do Partido Comunista Indiano (PCI) tem servido para levar mais dignidade à população. A ideia não é promover a caridade, mas sim, proporcionar uma abordagem alternativa à saúde centrada no lucro.
Tema do dossiê deste mês do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, o projeto das Policlínicas Populares iniciou em 1945, com a inauguração da primeira unidade, na cidade de Nellore, no estado de Andhra Pradesh. Somente esse unidade conta com 66 médicos, 250 leitos e é administrado por 25 membros.
De acordo com site do Instituto Tricontinental, o PCI começou a prestar assistência médica em aldeias onde as pessoas morriam em tenra idade devido a problemas de saúde facilmente evitáveis e tratáveis. Nos anos 1930, P. Sundarayya, líder do PCI, começou um pequeno ambulatório em sua aldeia, que fornecia tratamento básico de primeiros socorros – como limpeza e curativos para ferimentos – bem como remédios para doenças comuns. Os pacientes que precisavam de tratamentos mais elaborados eram encaminhados para policlínicas com médicos mais especializados. Sundarayya, por sua experiência pessoal, considerou que o movimento comunista deveria incentivar e inspirar médicos a servir em áreas rurais, onde o acesso à assistência médica era mínimo. Ele pediu a seu irmão mais novo, Ramachandra Reddy, que estudasse medicina para prestar assistência médica à classe trabalhadora. Ele ficou conhecido como Dr. Ram.
Saúde-mercadoria
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), ao menos 800 milhões de pessoas no mundo utilizam 10% de seu orçamento doméstico em gastos com saúde, sendo que aproximadamente 100 milhões caíram na extrema pobreza por causa de altas despesas médicas. Além disso, mais da metade da população do mundo carece de serviços essenciais de saúde, ou seja, quase 4 bilhões de pessoas.
Na Índia, as despesas com a saúde são as mais altas do planeta. Um indiano médio arca diretamente com 67,78% das despesas com saúde enquanto a média global é de 18,2%. A cada ano, 57 milhões de indianos são levados à pobreza devido a esses custos médicos.
Além do corpo
Para além da saúde física, o projeto das Policlínicas Populares aborda o impacto do ambiente no paciente. Os cuidados primários e secundários ganham ênfase como alternativa aos hospitais privados, que comumente têm foco no lucro.
As policlínicas se consolidaram como uma alternativa ao sistema capitalista de prestação de serviços de saúde, oferecendo tratamentos de forma acessível para a população e também residências médicas em clínica geral.
Em sua origem, o objetivo da Policlínica ou hospital era tratar quem precisasse de cuidados de saúde sem se preocupar se o paciente poderia pagar pelo tratamento ou medicamentos, embora se solicitasse pagamento aos que tinham condições.
Dr. Ramachandra Reddy – conhecido como Dr. Ram – começou o trabalho com um pequeno espaço em uma casa de palha com apenas três médicos. Hoje o local conta com 60 médicos e 250 leitos para pacientes internados, administrado por um grupo com 25 membros.
Atualmente, a Policlínica Popular de Nellore trata 312 mil pacientes por ano, o que corresponde a cerca de mil pacientes por dia. O ambulatório funciona das 8h às 17h, enquanto a enfermaria fica aberta 24 horas por dia, seis dias por semana, fechando, apenas, aos domingos.
Os pacientes que precisam de tratamento podem se inscrever em um programa de associação ao longo da vida que custa 20 rúpias mensais, o que equivale a R$ 1,20. Além de uma taxa de consulta de 50 rúpias, válida por um mês, ou seja, R$ 2,99.
A Policlínica Popular leva sua experiência a outros locais por meio de acampamentos itinerantes de saúde a cada dois meses. Além disso, o hospital realiza acampamentos aos domingos para fornecer consultas gratuitas a pessoas que não podem ir à policlínica. Os pacientes também podem obter medicamentos para doenças crônicas, como diabetes, hipertensão e epilepsia por 200 rúpias, R$ 11,96. (Do Brasil de Fato)