No próximo sábado, 15, às 19h, a Casa de Vidro abre sua temporada de exposições com a mostra “As Morfologias Sensórias”, de Stenio Oliveira.
Artista que traz em sua pesquisa questionamentos sobre o comportamento, a espiritualidade, a gênese e a matéria, Stenio Oliveira, em sua poética, se apropria de variadas técnicas para criar um universo que transita entre o pictórico e o escultórico, dando origem a esculturas, painéis e pinturas expandidas com uso expressivo de materiais têxteis, resinas e estruturas com objetos variados. O artista possui criações que se assemelham a morfologias orgânicas e que percorrem a ideia de amálgama visceral.
“Minha obra procura unir o que vejo e sinto ao redor; sobretudo a intensidade do subconsciente, do comportamento e de um universo muitas vezes fantástico e espiritual. É ela, enredos refletidos na plasticidade tátil, visceral e morfológica do que é aparentemente vivo e orgânico”, diz o artista.
Texto da curadoria
“As estruturas que Stenio Oliveira sugere na construção de suas obras proveem da capacidade do artista de articular e projetar experiência de vida, memória, conceito e matéria como moléculas díspares para uma assimilação subjetiva atrelada às mudanças que caracterizam a arte contemporânea.
As obras de arte na exposição se projetam a partir da presença de interstícios processuais de carga autoral acentuada, de sensações. Aquela sensação que, como aponta o filosofo Gilles Deleuze, está no corpo, e não no ar. Já que para Deleuze “[…] a sensação é o que é pintado. O que está pintado no quadro é o corpo, não enquanto representado, mas enquanto vivido como experimentando determinada sensação”.
Complementando-se e equilibrando-se na mesma dimensão dos corpos que se inserem impermanentemente nestes espaços, em intervalos de tensionamentos. Revela-se assim a vontade do artista, não de reproduzir ou inventar formas, mas de captar e projetar forças, como definiu Paul Klee: não apresentar o visível, mas tornar visível.
O artista propõe uma cartografia mutante, como a própria existência. Desenhando uma escrita, um itinerário, uma topografia. Uma objetividade condicionada à perspectiva que possibilita o deslocamento de elementos dentro dos limites da obra de arte e do processo como um todo. Esta aproximação com a realidade individual canaliza discursos plásticos contemporâneos onde a imagem protagoniza a assimilação e projeção de discursos estéticos coletivos.
O conjunto de obras na mostra transmutam as possibilidade metafóricas da instabilidade do fazer e do ser, definir, admitir e redefinir. Esses verbos/ações fazem, ao mesmo tempo, que as ações semânticas e pragmáticas nas obras de arte adquiram um apresentação irrefutável transformadas de possibilidades a realidades, com histórias cheias de uma polifonia visual.
Em Colmeia (2019), converte-se um resumo das etapas da pesquisa do artista sobre o subconsciente e a matéria, onde ela conjura à sedução sensorial, seja tátil, visual ou olfativa. Como amálgama entre estética e conceito, ratificando indissoluvelmente, manifesto em traços de curiosidades e continuidades infinitas.
Em Caravelas in blue (2018), pode-se inferir o que Marcos Giannotti aponta sobre a relevância da relação ambiente cor já que ao invés de reproduzir uma atmosfera em um espaço virtual, abre-se a possibilidade de se criar um ambiente a partir da superfície da tela. Essa experiência, ao invés de empregar-se da perspectiva linear, recorre à cor para produzir uma nova forma espacial. […] (GIANNOTTI, 2009, p. 29).
Assim, ao discorrer sobre as relações cromáticas e formais possíveis nas obras de arte, Oliveira sugere jogos fabulatórios na percepção visual: avanços e recuos, volumes e movimentos livres no compromisso de representar. É o modo estruturado do e para o além da representação pictórica. Possibilita-se, também, visualizar o mundo como uma revelação e não como uma representação. Despertam-se sensações possíveis de vê-lo pela primeira vez; ao gerar no espectador vivências de surpresa e descoberta, de mobilidade e conexões, de cores e penumbras e de cartografias cromáticas e movimentos.
Em Leito tripofóbico para ritual (2019), revela-se que a obra de arte é um meio através do qual o ser humano manifesta sua percepção do tempo e do espaço e como esta busca é feita através de uma síntese que implica a percepção do presente, a memória do passado e antecipação do futuro, a partir de “[…]dados que serão demarcados, ou então limpos, varridos, amarrotados, ou ainda recobertos pelo ato de pintar”, escreve Deleuze. Dados concebidos como enigmas a serem desvendados pelo espectador.
Já nas da série Croma Sutra (2018), vislumbra-se o enigma como a razão da pesquisa do artista e, consequentemente, a provocação sexual de um sentimento interrogativo acerca do real indiciado, numa orgulhosa aptidão para brincar com cores e talvez comunicar um cotidiano curioso, roubado ou contido.
E é nessa transmutação de enredos e técnicas táteis, que o artista apresenta nesta Casa de Vidro suas pinturas objetos; como sopros de poesia, música e magia que ratificam indissoluvelmente que estética é, seguindo os preceitos do filósofo Jacques Rancière, “uma configuração específica” do domínio da arte que precisamos aprender a ler”. (Andrés I. M. Hernández)
“As Morfologias Sensórias”, de Stenio Oliveira
Vernissage: sábado, 15 de fevereiro, 19h
Onde: Casa de Vidro (Av. Heitor Penteado, 2145. Lago do Café)
Visitação: até 4 de abril de 2020
Horário de funcionamento do espaço: terça a sexta, das 10h às 17h; sábado das 10h às 15h
Agendamento para grupos: [email protected]
Entrada gratuita
(Carta Campinas com informações de divulgação)