.Por Susiana Drapeau.
O PT e Ciro Gomes têm grandes chances, mas grandes chances mesmo, de serem derrotados novamente em 2022, mesmo que o governo Bolsonaro seja um fracasso.
Tudo indica que vamos continuar com uma Democratura Nazifascista pelos próximos anos. A Democratura Nazifascista não é uma ditadura, mas um misto de democracia com ditadura.
Ela permite que um juiz receba cerca de R$ 300 mil em um único mês ao mesmo tempo que corta recursos da saúde, educação e congela o salário mínimo.
A democratura facilita que ataques fascistas pontuais aconteçam pelo país: assassinato de indígenas, ambientalistas, indiciamento de inocentes, ataques terrorista à produtora de vídeo, proteção de assassinos, etc. Ou seja, na Democratura, a justiça recebe altos salários e se omite diante do fascismo.
A melhor definição para Democratura é quando a Constituição e as leis se submetem a interpretação do juiz. É um período em que há liberdade, mas é uma liberdade ameaçada. O contrato social existe, mas a autoridade está acima do contrato social.
Esse ambiente pode continuar pela próxima década. Deve demorar até que a população perceba que não foi bom perder direitos, recursos e se encontrar em situação de desespero e com alta desigualdade social. Em algum momento, culpar o PT não será mais possível. Mas isso pode demorar porque essa lenga-lenga será usada ad infintum.
A grande mídia vai continuar transformando a situação ruim do país em esperança de dias melhores, gerando certa tranquilidade psicológica para parte da população com certa estabilidade financeira. Uma pequena melhora no mês na renda, festa. Uma piora anual, promessa de melhora no próximo ano etc. E assim a carruagem vai seguir
Outra parte da população ficará submetida à lavagem cerebral do submundo da internet e dos cultos de seitas evangélicas e católicos radicais.
A previsão é que o governo Bolsonaro vá continuar como marionete dos milionários e do sistema financeiro, um governo inepto, que serve aos interesses da elite econômica de forma serviçal. Pequenos regalos à população serão feitos para manter a popularidade, mas chegará um momento em que isso não será mais possível.
E mesmo que o governo Bolsonaro fracasse totalmente, o personalismo do governo vai fazer com que a culpa recaia totalmente sobre o próprio bolsonarismo, isentando a política neoliberal que ele aplica.
“Novos” partidos e ‘novos’ nomes sempre estarão prontos para ocupar essa vaga. Dirão que o país não melhorou por causa de Bolsonaro, não de sua política, que estava certa. Afinal, ‘o PT quebrou o país….etc,etc, etc.
Nesse contexto de Democratura, com Poder Judiciário, grande mídia, submundo da internet e messianismo evangélico em sintonia, Ciro e o PT sozinhos não terão a menor chance. Vão navegar na ilusão, se atacar, e ao final, morrerão na praia.
Lamentável e mesmo desesperador admitir essa sombria previsão. Quanta vergonha do país em que nasci e vivo…
A conciliação perpetuará o fascismo
A direita gosta de ver Lula prometendo uma candidatura que se destrói com meia-dúzia de canetadas amigas. O incômodo surge quando ele ameaça expandir essa perspectiva, abraçando uma agenda democrática que inclua sua elegibilidade em tópicos de interesse geral. Então os ideólogos da pacificação vêm negar-lhe o direito de falar em nome da boa causa.
Romper esse bloqueio tornou-se uma obrigação moral e estratégica do lulismo. Se Lula causa embaraço, é porque suas manifestações iluminam a natureza judicial do fascismo e o endosso hipócrita que este recebe dos apoiadores da Lava Jato. A pecha da radicalização estigmatiza o diagnóstico mais óbvio da conjuntura brasileira e impõe uma via suicida à luta oposicionista.
Seria indecente pedir que Lula participasse do teatro de normalidade envolvendo sua ausência na disputa contra Jair Bolsonaro. E isso vale para todo cidadão que se diga preocupado com a escalada arbitrária. Não resta dúvida razoável de que a Lava Jato conspirou para eleger o fascista, além de manter preso, ilegalmente, seu maior adversário.
Bolsonaro é uma distração para o verdadeiro problema. Enquanto o bode faz pinotes na sala, os cômodos da casa vão sendo tomados pelo bolsonarismo judicial, que dá alicerce ideológico e repressivo ao governo dos patetas úteis. Sem denunciar a Lava Jato de maneira inflexível, a plataforma antifascista flerta com o desastre. Derrubará o capitão para eleger Sérgio Moro.
Não há perigo de conflito social no país, e sim um avanço de práticas delituosas e golpistas, muito bem documentadas, que a covardia pacificadora julga prudente eufemizar. Mais do que premissa ética, enfrentá-las é uma exigência constitucional. Agendas libertárias polarizam radicalmente com o fascismo, e com seus adeptos, em qualquer contexto. Por natureza.
O atual mote conciliador vem da Anistia, imposta pela ditadura militar como proteção para seus criminosos. Os setores que aderiram àquela impunidade amnésica tentam reproduzi-la, exatos 40 anos depois, no desastre de outra loucura autoritária que eles apoiaram. Desta vez, contudo, as vítimas só podem participar se fizerem autocrítica e pedirem desculpas.
A animosidade entre petistas e antipetistas, que serve de pretexto à ação de pacificadores, constitui um falso dilema para o campo democrático. Além de favorecer o polo reacionário, trivializando seus valores abjetos, essa partidarização faz leitura mesquinha do desafio. Basta usar a legalidade como referência positiva que o meio-termo deixa de parecer tão razoável.
Quisesse de fato derrotar Bolsonaro, o centrismo anteciparia a postura pragmática que exige do PT. Admitindo que o partido será essencial a qualquer projeto oposicionista, veria na rejeição hidrófoba a Lula um grande obstáculo para o êxito da aliança. E faria do petista um símbolo dos podres da Lava Jato, convertendo-a em vulnerabilidade ética do governo.
Tamanho desperdício tático é também sintoma de naturalização do fascismo. A ideia de atrair o eleitorado conservador afagando suas taras vingativas só pode fazer sentido para quem distingue Bolsonaro e o “legado” da Lava Jato, ou a corrupção dos justiceiros e a que dizem combater. Não surpreende que Lula, hábil negociador, seja visto ali como incendiário.
Nenhuma vitória democrática será viável se depender de concessões do bolsonarismo judicial. E não me refiro apenas aos recuos inaceitáveis que isso exige, mas também à esfera prática: o grupo capaz de arrancar do páreo alguém como Lula, com 40% das intenções de voto, daquela maneira, parece indisposto a reconhecer limites. Ou mesmo a permitir disputas imprevisíveis.
Para vencer democraticamente o fascismo é preciso reconstruir a própria democracia. O apoio popular a Sérgio Moro, verdadeira base estatística da força reacionária, aponta para um nível de manipulação que destrói fantasias sufragistas. A inação do STF, do STJ e do TSE diante das reportagens do Intercept antecipa o nível das campanhas eleitorais futuras.
O republicanismo inflexível pode agregar moderados políticos, inclusive porque a moderação é necessária ao reconhecimento dos direitos de um adversário. Mas esse consenso envolve clareza sobre o objetivo comum e, acima de tudo, a natureza inconciliável das demandas. Em suma, o comprometimento por uma ética radical alicerçada na firmeza de seus propósitos.
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