O psicanalista e professor da Universidade de São Paulo (USP) Christian Dunker, adepto da oniropolítica – derivado da palavra oineros, que significa sonho –, disse que a ascensão da extrema-direita no Brasil e a chegada do governo Bolsonaro estão abalando a capacidade das pessoas de sonhar com um futuro diferente.
Conhecimento e humildade são as saídas, segundo ele. Luto e arrependimento, quando mal resolvidos, também podem evoluir para um quadro depressivo. Para tanto, ele defende a retomada da importância da palavra.
“É preciso voltar a olhar a realidade com outros olhos, com um pouco mais de humildade talvez, para tentar inventar outro discurso, outro entendimento, que possa prolongar e criar novas formas de sonhar”, afirma. Na última sexta-feira (13), Dunker foi entrevistado pelas jornalistas Marilu Cabañas e Nahama Nunes, no Jornal Brasil Atual. Nesta segunda (16), ele respondeu a perguntas enviadas pelos ouvintes sobre os anseios psicológicos vividos diante do atual cenário.
Sobre qual o melhor caminho para a disputa política, se esperar as próximas eleições tentar mudar a cabeça dos apoiadores de Bolsonaro desde já, Dunker, diz que é hora de “fazer e refazer a história, pensando de uma forma mais distanciada sobre o que ocorreu”. Outra sugestão é formar coletivos e grupos de interesses específicos, além de fortalecer os movimentos sociais, resumido no slogan “Ninguém larga a mão de ninguém”, que se popularizou nas redes sociais desde as últimas eleições.
Uma ouvinte-espectadora questiona se algumas pessoas algumas pessoas poderiam desenvolver casos de depressão e tristeza profunda, por sentir que se omitiram ou fizeram menos do que deveriam na última disputa. “Muitas pessoas estavam acostumadas a um certo ambiente de democracia, a um discurso progressista de ampliação de direitos, e acreditavam que o discurso de Bolsonaro era uma coisa eleitoral, que não teria consequência real ou capacidade de transformar leis e instituições. De fato, foi uma decepção e uma surpresa para muitas pessoas, quando se deram conta que já era tarde demais. A depressão, muitas vezes, vem por uma espécie de acumulação de culpa”, analisou Dunker.
Contra aqueles que negam os abusos cometidos durante a ditadura civil-militar iniciada com o golpe de 1964, o psicanalista sugere buscar os testemunhos dos presos políticos e torturados que viveram o período. Ele sugere também filmes como o documentário Em Busca de Iara – sobre a psicóloga Iara Iavelberg, militante do MR-8, morta em agosto de 1971 – e AO Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias, que relata o período a partir dos olhos de uma criança. (Da RBA)