Em São Paulo – Pode ser vista até o dia 1º de março de 2020, no Instituto Moreira Salles, na Av. Paulista, a exposição de livros Indumentárias negras em foco, uma parceria entre o Instituto Moreira Salles e o Instituto Feira Preta.
Com curadoria da educadora e pesquisadora em história cultural Hanayrá Negreiros, a mostra destaca livros em que imagem e indumentária conformam maneiras potentes de resgatar e contar histórias e memórias negras – uma investigação sobre como os modos de vestir de algumas comunidades negras africanas e afro-brasileiras podem ser entendidos como formas de preservação cultural, expressão artística e identitária.
Os estúdios de Seydou Keïta e Malick Sidibé em um Mali em ebulição cultural, os dândis congoleses em Bacongo, a cena da moda na Costa do Marfim registrada por Maureen Bisilliat nos anos 1990, a resiliência e criatividade nas vestimentas do povo Herero, na Namíbia, as fotografias de Pierre Verger das indumentárias religiosas realizadas por mulheres negras baianas: todos esses registros, em conjunto, apontam para uma descentralização do olhar, enunciando uma narrativa visual que não é a do colonizador.
Texto da curadoria
“Esta exposição de livros é pensada a partir de dois pilares – imagem e indumentária –, refletindo sobre de que maneira essas manifestações artísticas podem ser entendidas como potentes maneiras de resgatar e contar histórias e memórias negras.
A curadoria dos livros partiu então de quatro títulos do acervo da Biblioteca de Fotografia do IMS Paulista, além de mais dois novos livros adquiridos por ocasião da mostra. O objetivo é compreender a fotografia nos seus mais diversos modos de expressão e nos encontros da imagem com a moda, pensando como os modos de vestir de algumas comunidades negras – africanas e afro-brasileiras – podem ser entendidos como formas de preservação cultural, expressão artística e identitária.
As visualidades e possibilidades estéticas dos fotógrafos malineses Seydou Keïta e Malick Sidibé lançam as bases conceituais das negras maneiras de vestir. A presença dos dois aqui no início implica também uma valorização da produção visual de artistas africanos, além de uma descentralização do olhar, enunciando uma narrativa visual que não é a do colonizador.
A seguir, vemos as elaborações de cores e tecidos eximiamente cortados, costurados e vestidos pelos sapeurs, dispositivos visuais que nos contam sobre a cultura da moda de rua da população em sua maioria masculina de Bacongo, distrito de Brazzaville, capital da República do Congo.
A cena de moda da cidade de Abidjan, na Costa do Marfim, no final do século passado é contada por meio de fotos da inglesa naturalizada brasileira Maureen Bisilliat. Ela registra histórias e modos de pensar de estilistas e mestres da costura do país, com destaque para a criação de vestes compostas por encontros de tradições têxteis africanas com modelagens ocidentais da década de 1990.
Ainda nesta mostra, indumentária e colonialismo se tornam presentes nos registros das vestimentas de mulheres e homens herero, povo pertencente à Namíbia, e suas histórias de sobrevivência ao domínio alemão. São imagens que possibilitam a compreensão dos significados de resiliência, criatividade e preservação de tradições africanas mesmo em tempos de guerra.
As fotografias realizadas por Pierre Verger das indumentárias das senhoras de fé encerram a exposição. O livro em questão apresenta composições de traje elaboradas por mulheres negras africanas e brasileiras ainda durante o período da escravidão, possibilitando o conhecimento de histórias sobre estéticas também híbridas e profundamente arraigadas em costumes, religiões e modos negros femininos de estar em diáspora.
Indumentárias negras em foco é um convite para pensar a vestimenta como elemento constituinte da cultura negra e o fazer fotográfico como um potente registro visual, compreendendo a moda como aliada da fotografia na ampliação de documentos históricos”.
Mais informações no SITE do IMS Paulista. (Carta Campinas com informações de divulgação)