As primeiras imagens de microtomografia de raio-x do novo acelerador de elétrons brasileiro, o Projeto Sirius, foram geradas no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) na última semana (16 e 17), em Campinas. A equipe do centro já realizou as primeiras análises, utilizando raios-x, de duas amostras: uma rocha com a mesma formação do pré-sal e outro do coração de um camundongo.
O Sirius é o único acelerador de partículas desse porte na América Latina e o segundo do mundo, segundo o CNPEM, e já despertou interesse de pesquisadores dos países vizinhos. “Essas foram as primeiras imagens feitas com essa nova máquina, então é um importante marco no projeto porque a gente consegue comprovar que a máquina está funcionando bem. Ela foi inteira projetada e montada aqui no Brasil”, disse Nathaly Archilha, pesquisadora que lidera as primeiras análises.
As primeiras imagens do Sirius vão guiar os ajustes necessários para que a luz síncrotron, produzida pelo equipamento, atinja a qualidade exigida para a realização de experimentos científicos considerados de alto nível, alguns inéditos no mundo. Este foi o primeiro teste, mas a máquina foi projetada para operar em uma potência 10 mil vezes maior. O Projeto Sirius é financiado pelo Ministério de Ciência Tecnologia Inovações e Comunicações (MCTIC).
De acordo com o CNPEM, a luz síncrotron consegue penetrar a matéria e revelar características de sua estrutura molecular e atômica. O amplo espectro dessa radiação permite que os pesquisadores utilizem os comprimentos de onda mais adequados para cada experimento. O alto fluxo e o alto brilho permitem experimentos mais rápidos e a investigação de detalhes cada vez menores.
“O Sirius vai conseguir produzir uma luz extremamente intensa, com muito fluxo, então são muitos fótons de luz por segundo sendo produzidos em uma área muito pequena. Em termos gerais, pesquisadores do mundo inteiro ganham com o fato de ter uma fonte de luz menor, você consegue estudar características das amostras menores, ou seja, a gente consegue estudar coisinhas cada vez menores, propriedades das amostras cada vez menores”, disse Nathaly.
A pesquisadora contou que, no antigo acelerador do CNPEM, demorava cerca de uma hora para fazer uma tomografia de raio-x de uma rocha, no caso específico de seus estudos. “No Sirius, vamos fazer em um segundo a mesma medida. Basicamente é uma melhor resolução espacial, você consegue estudar características menores da sua amostra e de forma muito mais rápida”.
Os pesquisadores poderão, por meio do Sirius, revelar detalhes de variados materiais orgânicos e inorgânicos, como proteínas, vírus, rochas, plantas, solo, ligas metálicas. Esses conhecimentos podem causar impacto em tecnologias usadas para a produção de alimentos, energia, medicamentos e de materiais mais eficientes e sustentáveis.
“O Sirius tem uma capacidade muito grande de conseguir abranger diferentes áreas de conhecimento. Ele é um laboratório multiusuário, multitécnicas e que praticamente todo pesquisador consegue, de uma forma ou de outra, levar sua pesquisa para esse tipo de equipamento”, ressaltou a pesquisadora, que trabalha com fluxo de fluidos em meios porosos, por exemplo, casos científicos de limpeza de aquíferos.
Outro caso científico na área biológica que será beneficiado pelo Sirius é o estudo da morfologia de células do coração para tentar entender quais são as diferenças entre o coração que tem alguma patologia, alguma doença, e um coração saudável. Segundo Nathaly, os pesquisadores da área poderão investigar quais são as células afetadas por determinada doença, quais são as células que se regeneram mais facilmente, entre outras características.
O CNPEM opera quatro laboratórios nacionais, com instalações abertas à comunidade científica. Quando o Sirius estiver totalmente ajustado, sua infraestrutura estará disponível para pesquisadores do país e do exterior. “Vários pesquisadores já mandaram mensagem perguntando quando vai estar aberto”, disse Nathaly. Ela contou que pesquisadores de outros países têm grande interesse em fazer suas pesquisas usando esse acelerador de elétrons, porque a luz gerada pelo Sirius permitirá analises inéditas no mundo.
“A importância do Sirius, não só para o Brasil, mas para a América Latina, é resolver problemas da nossa região, então, por exemplo, para estudar alguma doença que ocorre na região, estudar plantas da região, é uma máquina que é muito importante para o Brasil, porque, se não é a gente tentando resolver nossos problemas, provavelmente não vai ter outro laboratório desse tipo no mundo querendo resolver. Eles estão interessados nos problemas deles”, acrescentou (Camila Boehm – Agência Brasil)