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‘Chiharu Shiota: Linhas da Vida’ traz mais de 70 obras da artista, além de uma instalação site specific

Em São Paulo – Fica em cartaz até o dia 27 de janeiro no Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB), em São Paulo, a exposição “Chiharu Shiota: Linhas da Vida [Lifelines]”.

(Foto: Sunhi Mang)

A exposição, especialmente concebida para o CCBB, apresenta mais de 70 obras produzidas no início da carreira da artista (1994) até trabalhos inéditos. 

Inclui ainda uma instalação site specific em diálogo com a arquitetura do edifício. A curadoria é de Tereza de Arruda.

A transitoriedade dos ciclos da vida, a memória e a própria experiência pessoal inspiram a obra da japonesa Chiharu Shiota. Conhecida principalmente por seus trabalhos site specific em grande escala, frequentemente compostos por emaranhados de linhas, Shiota é autora de uma obra multidisciplinar, desdobrada em suportes diversos: são instalações, performances, fotografias e pinturas.

Nascida em Osaka e radicada há 23 anos em Berlim, Shiota iniciou sua carreira artística em 1994, tomando a pintura como principal suporte. Todavia, logo descobriu que o espaço bidimensional era limitado para seu processo criativo e expandiu para as outras linguagens.

“Há certos motivos que acompanham Chiharu Shiota por toda sua carreira e surgem paralelamente em sua produção, a exemplo de objetos pessoais como chaves, vestuário, cartas, mobiliário e, ainda, elementos ícones da transitoriedade, como barcos”, explica a curadora. “Fotografias, vídeos, desenhos, gravuras e objetos foram selecionados meticulosamente para uma imersão no universo de Chiharu Shiota”, completa.

Organizada em cinco núcleos, a exposição é um convite de Shiota para que o visitante faça reflexões sobre a vida, seu propósito, conexões e memória.

Já no térreo, o público vai se deparar com a grande instalação Além da Memória (2019), obra inédita, que poderá ser vista a partir de todos os andares. A inspiração vem da diversidade do povo brasileiro e de um diálogo com a arquitetura monumental e histórica do CCBB-SP. Suspensa, com 13m de altura e em forma de uma espécie de nuvem, a instalação é composta por mais de mil folhas de papel em branco. É um convite para que o público idealize sua própria história e resguarde sua memória.

(Foto: Sunhi Mang)

Os destinos da vida são questões recorrentes no processo de criação de Shiota e nas obras que ocupam o subsolo do CCBB-SP. Ela tece as linhas de sua vida e convida o público a fazer o mesmo. Essa é a ideia presente em Linha Vermelha (2018), obra que lança luz à produção manual da artista, uma de suas principais características. Em outro momento, dois barcos escuros surgem em meio a emaranhados de cordas vermelhas como alusão aos caminhos da vida. Trata-se de Dois barcos, um destino (2019), uma metáfora da artista sobre as formas de avançar, viajar, sem necessariamente saber qual é o ponto final, tal qual o percurso da vida. “Os barcos simbolizam os portadores de nossos sonhos e esperanças, levando-nos através de uma jornada de incerteza e admiração”, diz Arruda.

Chiharu divaga sobre a ideia de uma conexão universal de todos os seres. Transforma sua história em uma linguagem artística de caráter singular, sublime e tomada de elementos triviais. É disto que nasce o conjunto de esculturas e edições organizados em Conectada com o universo (2016 – 2019), núcleo exibido no primeiro andar do CCBB-SP. As gravuras aqui expostas têm como ponto de partida um ser conectado ao universo por um fio, espécie de cordão umbilical simbolizando o início da vida antes mesmo do nascimento. Em outras obras, a artista sugere que este mesmo ser se vê imerso ou submerso em um buraco ou invólucro sem perspectiva de saída e, assim, sua conexão com o mundo externo passa a ser realizada por vias imaginárias ou mesmo espirituais.

A presença do hermetismo não é ao acaso. Em dado instante de sua trajetória, Shiota tomou uma decisão existencial e parou de pintar – na época, seu principal suporte – porque não sentia que sua vida e sua criação artística estavam conectadas, entrelaçadas. Sonhou que se via dentro de uma pintura e foi assim que concebeu a icônica performance Se transformando em pintura (1994), cujo registro é exibido no segundo andar.

A tinta usada por Shiota nesta performance era tóxica e a artista sentiu imediatamente sua pele queimar e o pigmento só desapareceu de sua pele depois de alguns meses. Passados cerca de 20 anos, a artista voltou a utilizar a tela, porém não como um suporte pictórico convencional, mas, sim, como suporte de sua assinatura pessoal, sobre a qual aplica a trama de lã originariamente utilizada em suas instalações.

Ainda no segundo andar, a artista exibe A chave na mão (2015), instalação que esteve na 56ª Bienal de Veneza, na qual Chiharu representou seu país no pavilhão do Japão. A obra é composta por dois barcos que lembram, segundo a artista, duas mãos receptoras prestes a agarrar ou deixar de lado uma oportunidade, postos em um emaranhado de 180 mil chaves.

“O montante foi coletado por Shiota em uma campanha internacional, ato que a comoveu porque as pessoas normalmente dão suas próprias chaves aos outros em quem confiam. E para artista, as chaves estão associadas a memórias pessoais que nos acompanham em nossas vidas cotidianas”, conta Tereza de Arruda. A lã vermelha usada para montar a trama que emaranha os barcos simboliza os vasos sanguíneos do corpo e conecta a multidão dos proprietários das chaves.

No último andar do CCBB-SP, um núcleo de trabalhos pautados no Corpo, tema que aparece desde os primórdios na criação de Shiota. São obras em que a artista investiga questões ligadas à identidade, memória, corpo, fragilidade e doenças.

“O trabalho de Shiota evolui a partir de uma dinâmica orgânica de fazer e criar. Nota-se aqui que dentro de uma mesma temática há uma abrangência de obras distintas, como filmes resultantes de performances intimistas, tendo a artista como única protagonista em um relato pessoal, objetos compostos de roupas, que na perspectiva de Shiota existem como uma segunda pele humana a carregar em si os traços e vestígios da experiência humana e memória aí vivenciada, ou ainda objetos de vidro representando órgãos do corpo humano sãos ou dilacerados. Estes gestos e objetos artísticos referem-se à vida humana de forma geral”, finaliza a curadora.

Mais informações no SITE do CCBB-SP. (Carta Campinas com informações de divulgação)

Linhas da Vida, exposição de Chiharu Shiota

Período expositivo: 13 de novembro de 2019 a 27 de janeiro de 2020

Entrada gratuita

Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo – CCBB SP

Rua Álvares Penteado, 112 — Centro. São Paulo -SP

(Acesso ao calçadão pela estação São Bento do Metrô)

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